O Sagrado Coração e a Eucaristia

Sagrado Coração de Jesus , óleo s / tela - escola Portuguesa do século XIX, autor desconhecido, Public Domain - Wikimedia Commons

Sagrado Coração de Jesus, ensinai-me a viver conVosco no Sacramento do Vosso amor.

1 – A devoção ao Sagrado Coração deve levar-nos a uma vida de íntima união com Jesus, e Jesus – bem o sabemos – encontra-Se vivo e verdadeiro na Eucaristia. Estas duas devoções, ao Sagrado coração e à Eucaristia, estão intimamente ligadas entre si. Atraem-se e – poderia até dizer-se – exigem-se mutuamente.

O Sagrado Coração explica-nos o mistério do amor de Jesus que Se fez pão para nos alimentar com a Sua substância e, por outro lado, na Eucaristia temos a presença real deste mesmo Coração vivo no meio dos homens. É belo contemplar o Coração de Jesus como símbolo do Seu amor infinito, mas é ainda mais belo encontrá-lO sempre vivo, perto de nós, honramos não é o coração de um morto que já não palpita, com cuja lembrança nos contentamos, mas é o coração de um vivo, eternamente vivo. Vivo não somente no céu, onde reside gloriosa a Humanidade santa de Jesus, mas também na terra onde quer que se conserva a Eucaristia; e, na Eucaristia, este Coração repete-nos: “Eis que eu estou convosco todos os dias até á consumação dos séculos” (Mt. 28, 20). Na Comunhão, este Coração vem palpitar em nós, vem pôr-Se em contato com o nosso coração, vem alimentar-nos com a Sua Carne e com o Seu Sangue, a fim de que nós permaneçamos nEle e Ele em nós. “Na Eucaristia – diz Bento XV – este divino Coração governa-nos e ama-nos vivendo e habitando conosco para que nós vivamos e habitemos nEle, porque neste Sacramento… Ele oferece-Se e dá-Se a nós como vítima, como companheiro, como alimento, como viático e como penhor da glória futura”.

2 – A presença eucarística de jesus em nós, limita-se aos breves momentos que duram as sagradas espécies e cessa logo que estas se consomem. Todavia, Jesus declarou expressamente: “O que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo. 6, 37). O verbo “permanecer” não pode indicar um estado passageiro, mas exprime algo de estável, de duradouro; leva-nos a pensar numa união com Jesus que permanece mesmo quando as espécies sagradas estão já consumidas. E assim é, na verdade. Acima de tudo, perdura a união com a Divindade de Jesus, pois as três Pessoas divinas inabitam continuamente nas almas em graça; além disso perdura também uma certa união com a Sua Humanidade, a qual embora não estando já presente no comungante coma Sua substância, o está porém pelo influxo da Sua presença operante e pela efusão da Sua graça. Se, destruídas as aparências do pão e do vinho, o Coração de Jesus não está já em nós pela presença sacramental, todavia permanece conosco espiritualmente pela irradiação do Seu amor e da Sua atividade vivificante, visto que tudo quanto nós recebemos na ordem sobrenatural recebemo-lo sempre por mediação da humanidade santíssima de Cristo. Esta união espiritual com Jesus e com o Seu Sagrado Coração não exige essencialmente a Comunhão, somente requer o estado de graça; contudo o pão eucarístico alimenta, consolida e reforça tal união, torna-a mais profunda no sentido de que Jesus toma cada vez mais sob a Sua influência a alma do comungante, e de que o Seu Coração divino comunica cada vez mais o Seu amor e todas as Suas virtudes ao coração de quem O recebe sacramentado. Por isso não é uma utopia aspirar à união efetiva e permanente com Jesus, com o Seu Coração; antes é justamente esta a união que a Igreja nos faz pedir cada dia na belíssima oração que, na Missa, precede a Comunhão: “a te numquam separari permittas“, nunca permitais que eu me separe de Vós.

Colóquio – “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, que por vontade do Pai e com a cooperação do Espírito Santo, vivificastes o mundo coma Vossa morte, livrai-me por este Vosso Corpo e Sangue, de todas as minhas iniquidades e de todos os males; fazei que eu seja sempre fiel aos Vosso mandamentos e nunca permitais que eu me separe de Vós” (MR.).

“Oh! que magnífica e estreita união se produz entre a alma e Vós, amabilíssimo Senhor, quando Vos recebe sacramentado! Então a alma torna-se uma só coisa conVosco desde que esteja disposta, por meio do exercício das virtudes, a imitar o que Vós praticastes na Vossa vida, paixão e morte. Não, não posso unir-me perfeitamente a Vós, ó Cristo, nem Vós Vos podeis unir perfeitamente a mim na Comunhão, se antes me não tornar semelhante a Vós renunciando a mim mesma e exercitando-me nas virtudes que mais Vos agradam e de que nos destes tão grandes exemplos. A minha união conVosco ao receber-Vos sacramentado será tanto mais perfeita quanto mais eu me tornar semelhante a Vós por meio das virtudes” (cfr. Sta M. Madalena de Pazzi).

“Ó Jesus, só a Vós amo e desejo, só de Vós tenho fome e sede, em Vós quero perder-me e consumir-me. Envolvei-me nas chamas da Vossa caridade e fazei-me aderir tão firmemente a Vós que nunca mais de Vós me possa separar!

“Ó Senhor Jesus, ó mar imenso, porque tardais em absorver esta gotinha de água na Vossa plenitude? Todo o anseio da minha alma é sair de mim para entrar em Vós. Abri-me, ó Senhor, o Vosso Coração tão amado, porque só a Vós desejo e só a Vós quero aderir com todo o meu fervor. Oh! que amável união! Esta íntima familiaridade conVosco é verdadeiramente mais estimável que a própria vida! Ó meu Amado, deixai que Vos abrace no íntimo da minha alma para que, assim unida a Vós, a Vós permaneça indissoluvelmente ligada” (Sta Gertrudes).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 1 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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