O dia das núpcias constitui para a maioria esmagadora um acontecimento familiar e social. Por meses a fio, as respectivas famílias costumam preparar-se para aquela data e não poucos são os convidados que vêm assistir, no templo, à bênção do enlace matrimonial.
A santa igreja, esposa imaculada do cordeiro de Deus, sempre sustentou e defendeu a intangível santidade do sacramento do matrimônio, reprovando toda e qualquer união de pessoas de diferente sexo fora do sacramento do matrimônio como pecado mortal, escandaloso concubinato ou condenável mancebia. O matrimônio é de instituição divina. Abençoando o primeiro casal humano no paraíso terreal, Deus disse a Adão e Eva: – Crescei e multiplicai-vos (Gn 1, 27).
Jesus Cristo assistiu às bodas de Caná, operou nessa ocasião seu primeiro milagre público, elevou o matrimônio à categoria de sacramento, pelo que recebeu perfeição maior, deixando um sinal representativo do estreitíssimo consórcio que Jesus fez de si na igreja e de seu infinito amor para conosco, preferindo a todas as figuras que poderiam significar este divino mistério a da santa união dos casados: homem e mulher (Catecismo romano, De matrimônio, § 15).
No reino da natureza revezam-se dias de sol com dias de chuva. Ora brame a tempestade e ruge a tormenta, ora anima a terra um sol deslumbrante e sopra uma brisa suave e amena.
A mesma variedade de coisas reflete-se na vida humana em geral e na vida conjugal em particular. A horas felizes e alegres sucedem dias tristes, sombrios, acabrunhadores, repletos de sofrimentos e provações.
Entre casamentos felizes, há casamentos infelizes que são para o casal um jugo pesado, uma fonte inestancável de desgostos, de lágrimas, de dissabores. Sob a pressão destas amarguras íntimas, esposos há que amaldiçoam o momento em que se deram as mãos para a santa aliança matrimonial. Que tal desgraça nunca desabe sobre vós.
Para que o vosso casamento seja por Deus abençoado, colocai-o hoje sob a proteção da sagrada família, Jesus, Maria e José; rezai muito um pelo outro, afim de que o Altíssimo vos preserve de discórdias, de mal entendimentos, inspirando-vos amor indestrutível, acompanhado de paciência e de harmonia cristãs, até ao ocaso de vossa vida: uma coisa é casar, outra coisa é entender-se. Deveis, por conseguinte, possuir perfeita união de vistas, como insinuou o Divino Mestre, quando disse:
“Deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher e serão dois numa só carne” (Mt 19, 4).
Quer ensinar-vos, com isso, o Redentor, que daqui em diante deveis ser um só coração e uma só alma, em constante harmonia, assim como as cordas afiadas de uma harpa produzem um som melodioso. Por consequência, a esposa deve obedecer ao esposo em tudo que não for pecado, conforme se expressa terminantemente o apóstolo São Paulo:
“As esposas sejam submissas a seus maridos como ao Senhor; porque o marido é cabeça da mulher como Cristo é cabeça da Igreja” (Ef 5, 22, 23). É tão importante esta harmoniosa concórdia no consórcio humano, que o sábio Sirac diz no Texto Sagrado:
“Bem-aventurado o esposo que tiver encontrado uma boa mulher, porque então se duplicam os anos de sua vida. Uma mulher honesta alegra o homem, que passará em paz os anos de sua vida.” (Eclesiástico, 26, 1).
Entretanto, se o apóstolo exorta a mulher ao respeito e obediência, ele admoesta os maridos, dizendo:
“Maridos, amai vossas mulheres e não sejais ásperos para com elas (Cl 3, 19). Vós, maridos, amai vossas mulheres como Cristo amou a Igreja” (Ef 5, 25).
Por conseguinte, como Cristo amou a igreja a ponto de por ela dar a vida, assim os cônjuges deverão amar-se mutuamente num santo temor a Deus até ao fim da vida; deverão ajudar-se reciprocamente, de maneira que um seja o adjutório do outro, dispostos a sacrificar a vida um pelo outro, se isso for preciso.
É doutrina inconcussa da Igreja (can. 1013 § 2) que o matrimônio validamente contraído é indissolúvel, isto é, o vinculo matrimonial só pode ser dissolvido por Deus, pela morte de um dos cônjuges. Diz o evangelho:
-“Todo aquele que demitir sua mulher e casar com outra é adúltero e se a mulher demitir seu marido e casar com outro é adúltera” (Me 10, 11).
Evitai, pois, com afinco o que possa quebrantar o solene juramento de mútua fidelidade, de amor recíproco, jurado aos pés do altar.
Pedi a Deus auxílio e assistência para cumprirdes fielmente os vossos deveres de esposos cristãos. De maneia que, quando der a hora suprema da separação pela morte de um de vós, podereis juntar, tranquilos, de novo vossas mãos e dizer:
“Na nossa vida nunca maldissemos a hora em que nos unimos em santa aliança aos pés do altar, pelo grande sacramento do matrimônio. Respeitos sempre o juramento dado, guardamos mútua fidelidade até à morte…”
Se receberdes dignamente o sacramento do matrimônio, Deus vos prodigalizará a graça necessária para poderdes viver em plena harmonia todos os dias de vossa existência.
Frei Benvindo Destéfani, O.F.M in O Santo Sacramento do Matrimônio