São Francisco de Sales ensina que a Santa Missa é o sol dos exercícios espirituais, o centro da religião cristã, o coração da devoção, a alma da piedade, o inefável mistério da caridade divina, pela qual Deus comunica com profusão as suas graças e favores (V. dev. C. 14).
O Santo Sacrifício da Missa é sem dúvida o centro da religião cristã. A religião tem por fim, prestar à santíssima e infinita Majestade de Deus Trino o devido culto, a que tem direito como Criador, Redentor, Proprietário e Senhor, Pai e Benfeitor dos homens. Quem lhe nega este culto, comete um crime que se chama pecado.
Este culto, não se pode limitar a atos internos, mas deve-se manifestar em atos externos, porque também o corpo deve servir a Deus. Entre os atos externos da religião: orações, cerimônias, festas: o sacrifício ocupa o primeiro lugar. Era esta a convicção de todas as nações, não só das civilizadas, mas também das incultas, o que é sinal manifesto da verdade desta persuasão. A fé revelada a confirmou e pô-la fora de dúvida.
A explicação é fácil. Quando se oferece a Deus um sacrifício, destrói-se um objeto ou realmente ou equivalentemente, para reconhecer o direito de Deus de dispor de nós, dos nossos bens e da nossa vida. Quanto mais valor possui o objeto destruído, tanto mais Deus é honrado. Ora, no Santo Sacrifício da Missa não se oferecem flores, nem diamantes, nem animais por mais preciosos que sejam, nem a vida de homens, nem mesmo um anjo, mas o Rei de todas as criaturas, o Unigênito Filho de Deus feito homem, Nosso Senhor Jesus Cristo.
O seu sacrifício cruento ofereceu-o no monte Calvário, morrendo, destruída a vítima no altar da cruz. Ausentando-se da terra, deixou o Santo Sacrifício da Missa, durante a qual, no momento da consagração efetuada pelo sacerdote, por um milagre da sua onipotência e bondade Ele desce do céu, ocultando-se sob as espécies de pão e de vinho, e de novo se oferece realmente em honra da Majestade Divina, mas de um modo incruento, sendo o mesmo Jesus Cristo sacerdote e vítima.
A Santo Missa é o sacrifício mais perfeito e, apesar de ser um só, é oferecido a Deus para vários fins com a mesma eficácia. Pois ela é:
1 – Sacrifício de adoração e louvor (latreutico);
2 – Sacrifício de reconciliação (satisfatório);
3 – Sacrifício de expiação (propiciatório);
4 – Sacrifício de petição (impetratório);
5 – Sacrifício de agradecimento (eucarístico).
O sacerdote principal invisível é Jesus Cristo; o sacerdote visível é o padre, que diz a missa e sacrifica em nome de Jesus Cristo, pelo que vem revestido das insígnias da sua dignidade, dos paramentos.
O sacerdote não fala na língua do povo:
1º – Porque a missa não é um sermão, mas um sacrifício, portanto uma ação, cuja significação, cada qual facilmente compreende;
2º – Porque trata com Deus, a cujos ouvidos fala em voz baixa, podendo portanto fazer uso da língua latina tão venerável, estável, concisa, santa;
3º – Porque uma só língua, usada por toda a parte, representa melhor a união dos cristãos na mesma fé, no mesmo sacrifício, na mesma Igreja.
As cores dos paramentos são um indício dos sentimentos, com que a Igreja celebra a missa respectiva e que deseja despertar também os corações dos fiéis. A cor branca significa a alegria, a encarnada o amor, a verde a esperança lembrando a vida, que é Deus Trino, a roxa a penitência, a preta o luto.
Sobre o modo de ouvir a Missa, São Francisco de Sales nos ensina o seguinte:
1 – Desde o princípio até que o sacerdote chega a altar, fazei com ele a preparação; esta consiste em pôr-vos na presença de Deus, reconhecer a vossa indignidade e pedir perdão das vossas faltas.
2 – Depois que o sacerdote está no altar até ao evangelho, considerai a vida e a vida de Nosso Senhor a este mundo por uma simples e geral consideração.
3 – Depois do evangelho até depois do Credo, considerai a pregação do Nosso Salvador; protestai querer viver e morrer na fé e obediência à sua santa palavra e na união da Santa Igreja católica.
4 – Depois do Credo até o Pater Noster, aplicai o vosso coração aos mistérios da morte e paixão do Nosso Redentor que atual e essencialmente se representam neste Santo Sacrifício, o qual com o sacerdote e com o povo ofereceis a Deus Pai para Sua honra e vossa salvação.
5 – Depois do Pater Noster até a comunhão, esforçai-vos por fazer em vosso coração atos de desejo de estar junto e unido ao Nosso Salvador pelo amor eterno.
6 – Depois da comunhão até ao fim, agradecei à Divina Majestade a sua Encarnação, vida, morte e paixão e o amor que nos testemunha neste Santo Sacrifício; suplicai-lhe, que vos seja sempre propício, e a vossos pais e amigos e a toda a Igreja; humilhando-vos de todo o vosso coração, recebei devotamente a benção de Deus, que Nosso Senhor vos lança por meio do seu ministro.
Se quiserdes, porém, durante a Missa fazer a vossa meditação sobre os mistérios que continuais dia por dia, não será preciso deixá-la para fazer estes atos particulares, mas bastará que no princípio formeis a intenção de querer adorar e oferecer esta Santo Sacrifício pelo exercício da vossa meditação e oração; pois que, em toda a meditação, se acham os atos mencionados, ou expressa, ou tacita e virtualmente. Assim o santo doutor.
Orae, João Baptista Reus, 1934.
Última atualização do artigo em 7 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico