Oh! se conhecesses o dom de Deus! (Joan. IV, 10).
Ainda que o mandamento da Igreja só obriga a ouvir missa nos domingos e dias de festa, quem não vê que havendo tantas igrejas e tantos sacerdotes, são dignos de censura os que nunca ou quase nunca assistem, podendo-o, ao santo sacrifício nos dias de trabalho?
Jovem cristã, do plano da tua vida ordinária não deves riscar a santa missa, apesar de não seres obrigada a isso.
A santa missa é o maior dos mistérios, a renovação incruenta do sacrifício da nossa redenção.
É o ato mais importante da religião, aquele em que maior glória se dá ao Pai celeste, em que mais dignamente lhe agradecemos os seus benefícios, em que mais eficazmente se reconcilia conosco, e nos dá maior abundância de graças.
Quem a ela assiste com devoção torna-se participante dos efeitos salutares deste sacrifício de louvor, de ação de graças, de propiciação e de súplica!
É verdade que este sacrifício se oferece também pelos fiéis ausentes, sem exclusão de nenhum dos membros da grande família cristã; mas aos que a ele assistem, está-lhes reservado um fruto todo particular.
Oh! se conhecesses o dom de Deus! Com que ardente desejo correrias ao altar, do qual se exala a fragrância daquele sangue santíssimo, que está clamando do céu mais eloquentemente do que o de Abel (1), do qual se derrama uma torrente de graças principalmente sobre o oferente, e sobre os assistentes!
Que seria do mundo, se o Cordeiro sem mancha não estivesse de contínuo clamando ao céu perdão e misericórdia!
Oh fervor dos primeiros cristãos, que ainda com perigo das suas vidas corriam à catacumbas para assistir aos divinos mistérios!
Que vergonha para a nossa indolência o exemplo de tantos neófitos que em países longínquos chegam a percorrer léguas e a fazer viagens de dias inteiros, sem receio de trabalhos e perigos, só para assistirem ao santo sacrifício da missa!
Jovem cristã, quantas vezes deixaste de a ouvir, sem razão suficiente? Repara que os anjos estão em torno do altar, esperando ansiosamente o momento em que há de renovar o mistério da incarnação e paizão de Cristo: e tu, por amor de quem Jesus encarnou, padeceu e morreu, não queres assistir ao santo sacrifício, tens que fazer, falta-te tempo, não queres sacrificar o teu descanso!
E o santo sacrifício podia ser para ti fonte de fortaleza no combate, e de recolhimento no meio das distrações da vida ordinária. Oh se conhecesses o valor do dom de Deus!
O modo de assistir à missa mais agradável a Deus e mais proveitoso para ti, é considerar na paixão e morte de Cristo. não há coisa mais fácil; porque tudo o que na missa vemos e ouvimos, nos recorda as cordas, o caminho de Jesus de tribunal em tribunal, o Gólgota, a cruz, os diversos tormentos que sofreu e a sua morte afrontosa. Isto mesmo estão-no-lo indicando os paramentos, o altar, o crucifixo, as cerimônias e as palavras rituais. Basta que acompanhes o sacerdote com os olhos, ouvidos e coração para percorreres com ele o caminho que vai do jardim das Oliveiras ao Calvário, e daqui ao sepulcro.
Outros preferem rezar com o sacerdote, repetindo as mesmas palavras e orações que ele vai recitando: louvam a Deus quando o sacerdote o louva; suplicam-lhe quando ele suplica, e quando o sacerdote implora graças, pedem-na com ele.
Outros tomam ocasião das três partes principais da missa para meditarem devotamente. O ofertório, a consagração e a comunhão, partes principais da liturgia, são objeto da sua meditação e orações. A comunhão é objeto de um cuidado todo particular, preparando-se durante a missa para receberem a Jesus espiritualmente, enquanto o sacerdote o faz sacramentalmente.
Outros servem-se das orações dos devocionários. Na escolha destas convém olhar à solidez do fundo e à simplicidade da forma.
É também muito útil rezar durante a missa o terço principalmente os mistérios dolorosos. Siga cada um a inspiração da graça, pois toda a devoção é boa. O melhor método é aquele, que mais contribui para cada um se unir intimamente com o sacerdote, e para melhor desenvolver em si o espírito do santo sacrifício da missa.
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Hebr. XII, 24.
Última atualização do artigo em 9 de março de 2025 por Arsenal Católico