O sermão das sagrações episcopais do Arcebispo Marcel Lefebvre

“Preferimos continuar na Tradição, guardar a Tradição, esperando que essa Tradição reencontre seu lugar em Roma; seu lugar entre as autoridades romanas, e no espírito dessas autoridades romanas.” — Lefebvre

Introdução de Michael J. Matt (editor de Remnant) – Tradução Dominus Est

Em 1976, quando eu tinha dez anos, fui crismado pelo Arcebispo Marcel Lefebvre. Lembro-me de um homem bondoso e santo, de fala suave e verdadeiramente humilde. Mesmo crianças, meus irmãos e eu entendemos que ali estava um verdadeiro soldado de Cristo, que assumira uma posição corajosa e solitária em defesa da sagrada Tradição, em um momento em que não havia nada mais “hip” do que novidade e inovação. Nosso pai estava junto a ele, e esses homens eram “traddies” muito bem antes de “traddy” ser algo legal.

Lembrem-se: o mundo inteiro estava no auge da revolução da época — sexual, política, litúrgica, cultural — e não havia nada mais antiquado do que o passado. A resistência solitária dos primeiros tradicionalistas pôde, então, ser comparada a algo tão absurdo (aos olhos do mundo na época) como um homem na lama em Woodstock que insistisse para que os hippies colocassem suas roupas de volta e parassem de gotejar ácido e fumar maconha. Ninguém se importava. Eram zombados, riam deles e, eventualmente, mandados ir para bem longe da Igreja.

Os tempos estavam realmente ‘mudando’, e com poucas exceções, o elemento humano da Igreja de Cristo acompanhou a loucura — com efeito, poder-se-ia dizer, liderando o caminho.

Quando nos lembramos o porquê desses homens terem resistido à loucura dos anos 60, lembremo-nos de que eles não foram motivados principalmente pela ideia de salvaguardar suas próprias circunstâncias. O Arcebispo Lefebvre, por exemplo, estava aposentado antes que o mundo descobrisse quem ele era. Ele foi persuadido a sair de sua aposentadoria por seminaristas que, de repente, viram-se cercados por lobos em pele de ovelha, nos próprios seminários. Os modernistas estavam, literalmente, em toda parte.

Lefebvre não estava tentando fazer nome para si mesmo. Ele era um filho leal da Igreja, tentando cumprir o seu dever perante Deus e a Igreja a qual ele havia servido durante toda a sua vida. É importante lembrar disso, e situar o arcebispo em seu contexto.

Ele não era um blogueiro. Ele não estava falando para um canal de TV na Internet. Ele não estava buscando cliques. Ele era um príncipe sério da Igreja — altamente considerado por vários Papas e o chefe de uma grande ordem religiosa — que viu a ascensão ao poder do modernismo como o cumprimento de uma profecia e uma terrível advertência dada à Igreja meio século antes pelo Papa São Pio X. Assim, o nome da sociedade de Lefebvre.

Este artigo pode ajudar àqueles católicos que não estavam lá, para que entendam melhor o que fez com que esses gigantes católicos se opusessem à revolução, na Igreja que eles amavam mais do que qualquer coisa, como eles despedaçaram seus corações para resistir até mesmo a alguns dentro do próprio Vaticano, quando o seu belo mundo católico estava desabando ao seu redor; e como tudo o que eles faziam era defender os ensinamentos infalíveis da Santa Mãe Igreja e sua antiga liturgia que se encontravam, em todo lugar, sob ataque.

Lefebvre foi o Atanásio da Igreja em nosso tempo, e um dia será canonizado. Michael Davies pensava assim, e também não tenho dúvidas disso. O Papa Francisco, mais do que qualquer outro Papa, inadvertidamente desmascarou o verdadeiro espírito do Vaticano II, tornando claro o motivo pelo qual aqueles que resistiram a esse espírito estavam certos em fazê-lo.

O escrito a seguir deixa absolutamente claro que tudo o que ele fez foi parte de uma defesa emergencial do Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo (ignorado completamente pelo Concílio Vaticano II) e uma última batalha desesperada pela Tradição, pelos ensinamentos infalíveis da Mãe Igreja e, claro, por sua antiga liturgia.

Por favor, abram suas mentes para o que realmente aconteceu… e continuem lendo. MJM

* * *

Sagrações Episcopais – 30 de Junho 1988

Excelência, querido Monsenhor Castro Mayer, meus queridos amigos e irmãos:

Encontramo-nos aqui para uma cerimônia verdadeiramente histórica, mas quero primeiro dar-vos algumas informações.

A primeira delas, talvez, cause-vos um pouco de estranheza, pois também me surpreendeu. Ontem à tarde tivemos uma visita, um enviado da Nunciatura em Berna, com um envelope contendo um apelo do Santo Padre, o Papa, colocando à minha disposição um carro que imediatamente deveria conduzir-me a Roma para me impedir de fazer essas consagrações hoje. Tudo isso sem me dizer o porquê, nem para onde eu deveria ir em Roma. Julguem vós mesmos sobre a oportunidade e a prudência desta medida!

Estive em Roma em diferentes ocasiões ao longo deste ano, inclusive por semanas inteiras, e o Santo Padre não me convidou para vê-lo. É verdade que teria ficado feliz em fazê-lo se houvesse acordos definitivos. Então agora vocês têm essa informação. Eu a comunico simplesmente, tal como inteirei-me, ontem, por uma carta da Nunciatura.

Agora, passo a dar-vos algumas informações sobre o significado da cerimônia, e outros aspectos a ela concernentes.

Os futuros consagrados, os futuros Bispos, já prestaram, pessoalmente, diante de mim, o juramento que se encontra no pequeno ritual que, creio, muitos de vós adquiristes para seguirdes a cerimônia de consagração dos Bispos. Portanto, já se prestou este juramento, além do juramento anti-modernista, como se prescrevia em outro momento para a consagração dos Bispos, juntamente com a profissão de fé. Eles já fizeram esses dois juramentos e essa profissão de fé na minha presença, depois de alguns curtos exercícios em Sierre nestes últimos dias. Não vos surpreendais se começarmos imediatamente pelo questionamento da fé, a fé que a Igreja pede aos que serão consagrados.

Em seguida faço-vos saber, também, que depois da cerimônia poderão, é claro, pedir a bênção desses Bispos e beijar-lhes o anel. Não é habitual na Igreja beijar as mãos dos Bispos como se beijam as mãos dos novos sacerdotes, tal como o fizeram ontem. Em vez disso, pede-se a eles a bênção e se lhes beija o anel.

É preciso que compreendais bem que esta cerimônia não é um cisma. Estão à vossa disposição uma série de livros e panfletos que contêm todos os elementos que podem fazer-vos entender o porquê desta cerimônia, aparentemente feita contra a vontade de Roma, absolutamente não é um cisma. Não somos cismáticos. Se os Bispos da China, separados de Roma e sujeitos ao governo chinês, foram excomungados, compreende-se muito bem por que o Papa Pio XII os excomungou. Absolutamente não se trata entre nós de separar-nos de Roma e submeter-nos a qualquer poder estranho a Roma, ou formar uma espécie de Igreja paralela como fizeram, por exemplo, os bispos de Palmar de Troya, na Espanha, nomeando um papa e formando um colégio cardinalício. Não se trata absolutamente de algo parecido. Longe de nós está o triste pensamento de nos afastar de Roma.

Pelo contrário, realizamos essa cerimônia para manifestar nossa união com Roma. Para manifestar a nossa união com a Igreja de sempre, com o Papa e com todos aqueles que precederam esses Papas que, desde o Concílio Vaticano II, infelizmente, acreditavam que deveriam apoiar os grandes erros que estão em processo de destruir a Igreja e destruir o sacerdócio católico.

Precisamente encontrareis entre essas brochuras, que estão à vossa disposição, um estudo verdadeiramente admirável elaborado pelo professor Georg May, presidente do seminário de Direito Canônico da Universidade de Mayence, da Alemanha, na qual ele explica maravilhosamente por que estamos no caso de necessidade, para que possamos vir em socorro de vossas almas, em vosso socorro. Penso que vossos aplausos de alguns momentos atrás foram uma manifestação espiritual que traduziam a vossa alegria por terdes Bispos e sacerdotes católicos que salvem vossas almas, que deem a vossas almas a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, através da doutrina, dos sacramentos, da fé e do Santo Sacrifício da Missa.

A vida de Nosso Senhor, da qual tendes necessidade para irdes para o Céu, está desaparecendo por todas as partes nesta Igreja conciliar. Ela segue por caminhos que não são caminhos católicos, que levam à apostasia. Por isso fazemos essa cerimônia. Longe de mim o erigir-me em Papa. Não sou nada mais do que um Bispo da Igreja Católica que continua transmitindo a doutrina. TRADIDI QUOD ET ACCEPI. Penso, e certamente não tardará, que estas palavras de São Paulo poderão ser gravadas sobre o meu túmulo: TRADIDI QUOD ET ACCEPI, “Transmiti o que recebi”, simplesmente. Eu sou um carteiro que traz uma carta. Não sou eu quem escreveu esta carta, esta mensagem, esta palavra de Deus; é Ele, Nosso Senhor Jesus Cristo. E a temos transmitido, mediante estes queridos sacerdotes aqui presentes e através de todos aqueles que creram um dever resistir a esta onda de apostasia na Igreja, guardando a fé de sempre e transmitindo-a aos fiéis. Nós não somos nada mais do que os portadores desta notícia, deste Evangelho que Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu, assim como os meios para nos santificarmos: a Santa Missa, a verdadeira Santa Missa, os verdadeiros sacramentos que realmente dão vida espiritual.

Parece que ouço, meus queridos irmãos, as vozes de todos estes Papas, desde Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII, São Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII, dizendo-nos:

“Por caridade, por piedade, o que estais a fazer de nossos ensinamentos, de nossa pregação, da Fé católica? Ireis abandoná-la? Ireis deixá-la desaparecer deste mundo? Por caridade, por piedade, prossigais guardando esse tesouro que oferecemos. Não abandoneis os fiéis, não abandoneis a Igreja! Continuai trabalhando pela Igreja! Afinal, desde o Concílio, o que condenamos é o que as autoridades romanas adotam e professam. Como isto é possível? Condenamos o liberalismo, o comunismo, o socialismo, o modernismo, “Le Sillon”. Todos esses erros que condenamos agora são professos, adotados, apoiados pelas autoridades da Igreja. É possível isto? A menos que façais algo para continuar esta tradição da Igreja que vos damos, tudo desaparecerá. A Igreja desaparecerá. Todas as almas se perderão.

Encontramo-nos diante de um caso de necessidade. Nós fizemos tudo para que Roma compreenda que é necessário retornar a essa atitude do venerável Pio XII e de todos os seus predecessores. Nós escrevemos, fomos até Roma, falamos. Monsenhor Castro Mayer e eu enviamos cartas várias vezes a Roma. Tentamos, através destas conversações, por todos os meios, conseguir que Roma percebesse que, desde o Concílio, este aggiornamento, esta mudança que se produziu na Igreja não é católica, nem é conforme a doutrina de sempre. Este ecumenismo e todos esses erros, essa colegialidade, são contrários à fé da Igreja e estão a ponto de destruí-la. Por isso estamos convencidos de que, ao fazer esta consagração, obedecemos ao chamado desses Papas e, portanto, ao chamado de Deus, uma vez que eles representam o Senhor Jesus Cristo na Igreja.

E por que, Monsenhor, perguntam-me, não continuou com essas conversações que, no entanto, davam a impressão de chegar a um certo entendimento? Precisamente porque, ao mesmo tempo em que estampava minha assinatura no protocolo, naquele momento, o enviado do Cardeal Ratzinger, que me trazia este protocolo para assinar, em seguida, entregava-me uma carta na qual me solicitava-me para que pedisse perdão pelos erros que eu professava.

Se eu estou em erro, se ensino erros, está claro que devo ser trazido de volta à verdade, de acordo com aqueles que me enviam esse protocolo para ser assinado, reconhecendo eu os meus erros. Como se eles me dissessem: se ele reconhece os seus erros, nós o ajudamos a retornar à verdade. Que verdade é esta, segundo eles, senão a verdade do Vaticano II, a verdade desta Igreja conciliar? Portanto, é verdade que, para o Vaticano, a única verdade que existe hoje é a verdade conciliar, o espírito do Concílio, o espírito de Assis. Essa é a verdade de hoje. E não queremos isso por nada deste mundo.

Por esta razão, ao constatar a firme vontade das atuais autoridades romanas em fazer desaparecer a Tradição e conduzir o mundo inteiro a esse espírito do Vaticano II e para esse espírito de Assis, evidentemente preferimos nos retirar e responder: não, não podemos. É impossível. É impossível submeter-nos à autoridade do Cardeal Ratzinger, presidente desta comissão romana que deveria dirigir-nos. Seria colocar-nos em suas mãos e, portanto, nas mãos daqueles que querem levar-nos ao espírito do Concílio, ao espírito de Assis. Não é possível.

Por esta razão, enviei uma carta ao Papa que lhe dizia muito claramente: não podemos, apesar de todos os desejos que temos de estar em plena comunhão com Sua Santidade, dado esse espírito que agora reina em Roma e que querem nos comunicar; preferimos continuar na Tradição, guardar a Tradição, esperando que esta Tradição reencontre seu lugar em Roma, seu lugar entre as autoridades romanas e no espírito dessas autoridades romanas.

Tudo isso durará o que Deus tenha previsto, não me pertence saber quando a Tradição obterá seus direitos em Roma, mas julgo que é meu dever fornecer os meios para realizar o que chamarei de operação sobrevivência; operação sobrevivência da Tradição. Esta jornada de hoje é a operação de sobrevivência. E se houvesse feito esta outra operação com Roma, seguindo os acordos que havíamos assinado e pondo depois em prática esses acordos, teria realizado a operação “suicídio”. Assim, pois, não há escolha: devemos sobreviver! E é por isso que hoje, ao consagrar esses Bispos, estou persuadido a continuar, fazer viver a Tradição, ou seja, a Igreja Católica.

Sabeis bem, queridos irmãos, que não pode haver sacerdotes sem bispos. Todos esses seminaristas aqui presentes, se amanhã Deus me chamar, o que, indubitavelmente, não tardará em fazê-lo, de quem receberão o sacramento de ordem? Dos bispos conciliares, cujos sacramentos são duvidosos, já que não se sabe exatamente quais são suas intenções? Não é possível. Então, quem são os bispos que verdadeiramente mantiveram a Tradição, que guardaram os sacramentos como a Igreja os administrou durante vinte séculos até o Concílio Vaticano II? Somos Monsenhor Castro Mayer e eu. O que posso fazer? Assim é. Muitos seminaristas depositaram sua confiança em nós; eles sentiram que havia a continuidade da Igreja, a continuidade da Tradição. E eles vieram aos nossos seminários, apesar das dificuldades que encontraram, para receber uma verdadeira ordenação sacerdotal e para poder oferecer o verdadeiro sacrifício do Calvário, o verdadeiro sacrifício da Missa, e vos dar os verdadeiros sacramentos, a verdadeira doutrina, o verdadeiro catecismo. Esta é a finalidade de nossos seminários.

Não posso, em consciência, deixar estes seminaristas órfãos. E não posso deixar-vos também órfãos, desaparecendo sem nada fazer pelo futuro. Não é possível. Seria algo contrário ao meu dever.

Por esta razão, escolhemos, com a graça de Deus, os sacerdotes da nossa Irmandade que pareciam os mais aptos e que, ao mesmo tempo, estão em circunstâncias, lugares e funções que lhes permitem cumprir mais facilmente o ministério episcopal, confirmar as crianças e conferir ordens em nossos vários seminários.

Parece-me que, com a graça de Deus, Monsenhor Castro Mayer e eu, teremos dado nesta consagração os meios para que a Tradição continue, os meios para os católicos que desejam permanecer na Igreja de seus pais, de seus avós, de seus antepassados; essas igrejas fundadas para ser as paróquias de todos vós, essas belas igrejas que tinham belos altares, que muitas vezes foram destruídos para colocar uma mesa em seu lugar, manifestando assim a mudança radical que ocorreu desde o Concílio em relação ao Santo Sacrifício da Missa, que é o coração da igreja e também o fim do sacerdócio.

Então, queremos agradecer-vos por terdes vindo em tão grande número para nos encorajar na execução desta cerimônia. Nossos olhos também se voltam para a Virgem Maria. Sabeis bem, queridos irmãos — tenho certeza de terdes sido informados — como Leão XIII, em uma visão profética que ele teve, revelando que um dia “a Sede de Pedro seria a sede da iniquidade”. Ele disse isso em um de seus exorcismos, chamado “O Exorcismo de Leão XIII”. Estaria ocorrendo hoje? Amanhã? Não sei. Em qualquer caso, foi anunciado. A iniquidade pode ser simplesmente o erro. O erro é uma iniquidade: não mais professar a Fé de sempre, não mais professar a Fé católica, é um grave erro; se há uma grande iniquidade, é precisamente essa! Acredito, verdadeiramente, poder dizer que nunca houve uma iniquidade maior na Igreja do que a jornada de Assis, que é contrária ao primeiro mandamento de Deus e contrária ao primeiro artigo do Credo! É algo tão incrível que uma coisa assim possa ter sido realizada na Igreja diante dos olhos de toda a Igreja humilhada! Nunca sofremos humilhação semelhante. Tudo isso pode ser encontrado no pequeno livro de Daniel le Roux, que foi editado especialmente para vos proporcionar todo tipo de informação sobre a atual situação de Roma.

Não só o Papa Leão XIII profetizou essas coisas, mas Nossa Senhora. Ultimamente, o sacerdote responsável pelo Priorado de Bogotá na Colômbia, trouxe-me um livro que versa sobre as aparições de Nossa Senhora do Bom Sucesso, que tem uma igreja, uma grande igreja no Equador, em Quito, capital do Equador. Essas aparições a uma religiosa, tiveram lugar em um convento de Quito pouco depois do Concílio de Trento, portanto, há vários séculos atrás, como vedes. Tudo isso foi consignado, tendo sido esta aparição reconhecida por Roma e pelas autoridades eclesiásticas, uma vez que uma igreja magnífica foi construída para a Virgem, na qual os historiadores também afirmam que o rosto da Virgem foi milagrosamente concluído: o escultor modelava o rosto da Virgem, quando encontrou aquele rosto milagrosamente acabado. Esta Virgem milagrosa é ali honrada com muita devoção pelos fiéis do Equador e profetizou para o século XX. Ela disse claramente a essa religiosa: “Durante o século XIX e a maior parte do século XX, os erros se propagarão mais e mais fortemente na Santa Igreja e levarão a Igreja a uma situação de catástrofe total, de catástrofe! Os costumes serão corrompidos e a fé desaparecerá”. Nossa impressão é que não podemos deixar de constatar isso.

Peço desculpas por continuar o relato desta aparição, mas nela se fala de um prelado que se opõe totalmente a esta onda de apostasia e impiedade e preservará o sacerdócio preparando bons sacerdotes. Fazei vós a aplicação, se quiserdes, não quero fazê-lo. Eu mesmo me senti estupefato ao ler essas linhas, não posso negar isso. Está inscrito, impresso, consignado nos arquivos desta aparição.

Ademais, conheceis as aparições de La Salette, onde Nossa Senhora disse que Roma perderá a Fé, que haverá um eclipse em Roma; eclipse, notai bem o que isso pode significar vindo da Santíssima Virgem.

E, finalmente, o segredo de Fátima, mais perto de nós. Não há dúvida de que o terceiro segredo de Fátima devia aludir a estas trevas que invadiram Roma, essas trevas que invadem o mundo desde o Concílio. É por isso que, sem dúvida, o Papa João XXIII considerou oportuno não publicar o segredo, já que seria necessário que ele tomasse certas medidas e não se sentia capaz de mudar completamente as orientações que ele estava começando a dar em vista do Concílio e para o Concílio. Estes são fatos sobre os quais, parece-me, podemos também apoiar-nos.

Então, colocamo-nos nas mãos da Providência. Estamos persuadidos de que Deus faz bem as coisas. O Cardeal Gagnon nos visitou doze anos após a suspensão: após doze anos daquela primeira visita de Roma, tendo me suspendido e me proclamado fora da comunhão com Roma, contra o Papa, rebelde e dissidente, após isso a sua visita teve lugar. Ele próprio reconheceu que o que estamos fazendo é justamente o que é necessário para a reconstrução da Igreja. O Cardeal participou da Santa Missa pontifical celebrada por mim, em 8 de dezembro, pela renovação das promessas de nossos seminaristas. Eu estava supostamente suspenso e, no entanto, depois de doze anos, eles praticamente nos entregam um cheque em branco, dizendo-nos: Fizeram bem! Assim, fizemos bem em resistir!

Então estou convencido de que hoje nos encontramos nas mesmas circunstâncias. Nós realizamos um ato que, aparentemente — e, infelizmente, os meios de comunicação não nos ajudam a este respeito. As manchetes, é claro, serão “Cisma”, “Excomunhão”, tudo o que quiserem, mas nós estamos convencidos de que todas essas acusações de que somos objeto, todas essas penalidades de que somos objeto são nulas, absolutamente nulas e sem efeito. É por isso que não fazemos nenhum caso delas. Da mesma forma como não levei em conta a suspensão “a divinis”, e acabei por ser parabenizado pela Igreja e por clérigos progressistas. Da mesma forma, dentro de alguns anos — eu não sei, só Deus conhece o número de anos que serão necessários para aquele dia em que a Tradição encontrará de novo os seus direitos em Roma — seremos abraçados pelas autoridades romanas, que nos agradecerão por havermos mantido a Fé em nossos seminários, em nossas famílias, nas sociedades civis, em nossos países, em nossos conventos e nas nossas casas religiosas, para a maior glória de Deus e para a salvação das almas.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Última atualização do artigo em 16 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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