O verdadeiro ódio ao pecado

Quem amam a iniquidade, aborrece a sua alma. (Salm. X, 6)

Assim como nem todo o que brada Senhor, Senhor (1), reconhece deveras a soberania de Deus, assim nem todo o que diz: Não tornarei a pecar, pronuncia estas palavras com todas as veras da sua alma.

Pronunciá-las deveras, é detestar o pecado com todo o coração. Ora, detestar o pecado, é fugir dele sempre e em toda a parte, por ser uma ofensa a Deus.

Ninguém se aproxima, nem espera nada do inimigo a quem detesta: pelo contrário, todos lhe atribuem maus desígnios; todos estão prevenidos contra ele; todos procuram prejudica-lo, conservando no coração os agravos que dele receberam, e perseguindo-o por eles.

Os outros podem-te causar prejuízos temporais e caducos, podem-te privar dos bens da terra, ou perturbar-se a posse deles: mas o pecado visa só a tua alma imortal e única, o céu que te está reservado, a Deus que te está esperando.

Se não estás convencida de que o pecado é o teu maior inimigo, e o maior inimigo de Deus, é impossível que verdadeiramente o aborreças; as, se o estás, então amaldiçoa-o, foge dele e combate-o sempre e em toda a parte.

Quem não foge das ocasiões, não tem horror ao pecado. A ocasião voluntária é já um pecado, e pecado previsto e começado.

Não aborrece o pecado, quem não tem ódio à própria carne corrompida, incentivo do pecado, e sempre disposta a transformar a mais pequenina faísca num vasto incêndio.

Não aborrece o pecado, quem não põe um freio salutar aos sentidos, porque é por estas janelas que a morte entra no coração (2).

Quem não aborrece o pecado, aborrece a Deus. Não é possível servir a dois senhores (3). Quem não está com Deus, é contra Deus (4).

Se não odiares o pecado, odeias-te a ti, à tua alma, à tua verdadeira felicidade: porque, quem ama a iniquidade, aborrece a própria alma (5).

Se não odiares o pecado, odeias a tua juventude.

Sim, jovem cristã: amar o pecado é atraiçoar a tua mocidade. Estás de certo modo junto à árvore da vida, cujas flores ostentam grandes esperanças de risonhos frutos: e tu, ousas sacudi-la violentamente, lançando ao vento os teus botões ou calcando-os aos pés! E, como se isto não bastasse, inoculas-lhe nos ramos um gérmen de morte, envenenador dos frutos que há de produzir mais tarde!

Frutos venenosos! Em vez do hábito de proceder bem, uma inclinação infernal para o mal; em vez da lembrança consoladora duma vida inocente e agradável a Deus, remorsos amargos, terríveis acusações pelos pecados da juventude; em vez de esperar tranquila o futuro e a eternidade, fundados temores e a expectativa de um juízo severo e rigoroso.

Maldito pecado, assassino da minha juventude, ladrão dos meus melhores dias! Aparta-te de mim para sempre!

Fonte de eterna desgraça, seca-te para sempre!

Abismo que devoras quanto há de bom e nobre na juventude, fecha as tuas fauces!

Detesto-te, aborreço-te; quero-te perseguir e expulsar para longe dos meus irmãos, quero-te castigar em mim mesma.

Oh penitência, penitência! Palavra que me tranquiliza, e que ressoa harmonias no vácuo que o pecado deixou no meu coração!

A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.

(1) Mat. VII, 21.
(2) Jer. IX, 21.
(3) Luc. XVI, 13.
(4) Luc. XI, 23.
(5) Salm. X, 6.

Última atualização do artigo em 22 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico

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