“O mundo está cheio de pecados e o inferno de réprobos, afirma Santo Afonso, por que não se medita nas verdades eternas.”
A oração tem sido sempre as delícias das almas fervorosas. Estas delícias, querido leitor, o Sagrado Coração vos convida hoje a saborear. Mais aparentes do que reais são as dificuldades deste santo exercício. Fazer oração mental ou meditação, diz Monsenhor Dechamps, é pensar nas verdades da fé, para se excitar no amor divino e na prática das virtudes, cuja graça será obtida pela oração. A meditação chama-se oração mental, pois a oração ou súplica é a parte principal da meditação. Assim, fazer oração mental é pensar nas verdades da fé, por exemplo, na morte, no juízo, no céu, no inferno, na eternidade, em Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho único de Deus, que desceu do céu, fez-se Homem por nosso amor no seio da bem-aventurada Virgem Maria, padeceu e morreu na cruz para nos alcançar o perdão de nossos pecados. Quando o cristão pensa numa das grandes verdades que a santa fé ensina, e pensa para se excitar a evitar o pecado, imitar a Jesus Cristo e empregar para isto os meios que Ele nos deixou, principalmente a oração e os sacramentos, que são os canais da graça, então faz a meditação ou oração mental.
Bem vedes que muitos cristãos que nunca ouviram talvez pronunciar estas palavras, fazem com tudo a oração, visto como pensam algumas vezes nas verdades da salvação, por exemplo, quando depois de ouvirem o sermão do domingo, pedem a Deus perdão dos pecados, tomam a resolução de confessar-se e lhe rogam a graça de vida melhor. Faz também oração mental aquele que se prepara para uma boa confissão, porque então, depois de ter orado e reconhecido suas faltas, excita-se à contrição pensando no inferno que mereceu, no céu e na graça de Deus que perdeu, em Jesus Cristo a quem nossos pecados fizeram chorar, padecer e morrer. Ainda faz oração mental, quem, depois de ter lido algum bom livro, pára um pouco considerando um ponto que lhe diz respeito e mais o comove, e depois ora a Deus, a Jesus, a Maria, aos santos anjos, ou aos santos padroeiros, afim de conseguir uma graça que deseja, ou cumprir uma coisa que Deus exige dele. Em viagem e até no trabalho pode uma pessoa fazer oração mental, pois ainda então pode pensar nas verdades da salvação, e dirigir-se a Deus em súplicas. Não se creia, pois, que este exercício, por difícil, seja raro. Não, quando se toma a peito o negócio da salvação eterna, nele se pensa todos os dias com tão boa vontade como os negociantes no seu comércio; e tão impossível é que nos saiamos bem no negócio de nossa salvação, sem nele pensarmos e nos resolvermos a empregar os meios necessários, como o é ao negociante prosperar, sem pensar nos meios de adquirir fortuna. O mundo está cheio de pecados e o inferno de réprobos, afirma Santo Afonso, por que não se medita nas verdades eternas.
Por tanto, alma cristã, nada mais fácil que fazer oração mental, exercício indispensável a quem quer santificar-se. Eis aqui o método de fazer a oração mental segundo o santo doutor: “A oração mental contem três partes : a preparação, a meditação e a conclusão.
Na preparação fazem-se três atos:
1 – Ato de Fé na presença de Deus:
Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e vos adoro.
2 – Ato de humildade:
Eu deveria estar a esta hora no inferno; Senhor, eu me arrependo de vos ter ofendido.
3 – Ato de petição de luzes:
Eterno Pai, por amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.
Uma Ave Maria à Mãe de Deus, e um Gloria Patri a São José, ao anjo custódio e ao nosso santo protetor. Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente; depois faz-se a meditação.
Para a meditação
Para a meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo , parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas , que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.
Cumpre, alem disto, saber que os frutos da meditação são três: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado uma verdade eterna, e ter Deus falado a vosso coração, é mister que faleis a Deus:
1º Pelos afetos, isto é, pelos atos de fé, agradecimento, humildade, esperança; mas repeti de preferência os atos de amor e contrição. Conforme Santo Tomás, todo ato de amor nos merece a graça de Deus e o paraíso. O mesmo se deve dizer do ato de contrição. Eis aqui exemplos de atos de amor:
Meu Deus, eu vos amo sobre todas as coisas. – Eu vos amo de todo o meu coração. – Quero fazer em tudo vossa vontade. – Muito me regozijo por serdes infinitamente feliz.
Para o ato de contrição basta dizer:
Bondade infinita, pesa-me de vos ter ofendido.
2º É necessário também falar a Deus pelas súplicas, pedindo – lhe as luzes que havemos mister, a humildade ou outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna, mas principalmente seu amor e a santa perseverança. E si nossa alma está em grande aridez, basta repetirmos:
Meu Deus, socorrei-me. – Senhor, tende compaixão de mim. – Meu Jesus, misericórdia!
Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.
3º É mister enfim falar a Deus pelas resoluções: antes de terminar-se a oração, cumpre tomar alguma resolução particular, por exemplo, fugir de tal ocasião, sofrer o que parece nos molestar em tal pessoa, corrigir-se de tal defeito, etc.
Enfim a conclusão compõe-se de três atos:
1º Meu Deus, eu vos agradeço as luzes que me destes.
2º Proponho observar as resoluções que tomei.
3º Peço-vos, por amor de Jesus e Maria, a graça de pô-las em prática.
Termina-se a oração por um Padre Nosso e uma Ave Maria, para recomendar a Deus as almas do purgatório, os prelados da Igreja, os pecadores, parentes e amigos.
São Francisco de Sales aconselha notar algum pensamento que mais impressão nos faz na oração, para o recordarmos de tempos a tempos durante o dia. Útil é referir aqui o que Santo Afonso escreveu a seus religiosos numa circular em data de 2 Fevereiro 1771:
“Recomendo-vos de preferência para meditação os meus livros: A Preparação para a morte, a Meditações sobre a Paixão, as Setas de Fogo e as Meditações do Advento até a Oitava da Epifania. Digo isto, não para exaltar meus pobres escritos, mas, porque estas meditações estão entermeiadas de pios afetos, e cheias, o que mais importa, de santas súplicas, o que quase não se acha noutros livros. Recomendo, pois, que se leia sempre, na meditação, a segunda parte que consiste nos afetos e súplica.”
“Alem da oração, diz Santo Afonso, é utilíssimo fazer também, cada dia, uma Leitura Espiritual por espaço de meia hora, ou ao menos de um quarto de hora, num algum livro que trate da vida dos santos, ou das virtudes cristãs. Quantos há que foram convertidos e se tornaram grandes santos, por terem lido um livro de piedade! Aí estão São João Colombini, Santo lnácio de Loyola, e muitos outros.”
Do Livro: O Sagrado Coração de Jesus – Santo Afonso de Ligório ou Meditações Para O Mês Do Sagrado Coração, A Hora Santa E A Primeira Sexta Feira Do Mês – Colegidas das Obras do S. Doutor pelo Padre Saint-Omer, Redentorista – 1926.
Última atualização do artigo em 21 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico