Deus grande, quão justos motivos tereis vós um dia pra condenar-me! Que não tendes vos feito para salvar-me! E que não tenho eu feito para perder-me?! Tendes empregado todos os meios para impedir que vossa criatura se perca; graças. inspirações, luzes vivas, inquietações saudáveis, avisos frequentes, desgostos sem conto, paixões frustradas, projetos malogrados, desejos iludidos, esperanças desvanecidas, calamidades públicas e pessoais, remorsos devoradores, que direi ainda? até um coração terno e propenso para o bem, um coração nascido com sentimentos de virtude e retidão; um coração que se refusava aos excessos, que não parecia feito para uma vida desregrada, que não cessava de me chamar a vós e de exprobrar, em segredo, minha vergonha e fraqueza. Que proveito tenho tirado de tudo isto? Que posso dizer-vos quando vejo que meus crimes sobrepujam a vossos benefícios?
Porém, Senhor, obrai como quem sois ainda que eu não proceda como devo; não vos canseis de me estender vossa mão poderosa: tendes feito tanto por mim até agora que não é de esperar me deixeis ao desamparo, quanto mais indigno me conheço de vossos favores, tanto mais os espero. O horror de meu estado aumenta minha confiança, e o excesso de minhas misérias é o único direito que ofereço a vossas eternas misericórdias.
Novas Horas Marianas ou Ofício da SS. Virgem Maria, J. I. Roquette, 1888.
Última atualização do artigo em 13 de abril de 2025 por Arsenal Católico