Os dons do Espírito Santo

Ó Espírito Santo, desenvolvei em mim os Vossos dons para que eu possa receber as Vossas moções divinas.

1 – Já vimos que não é possível chegar a uma perfeita orientação para Deus, à santidade, sem o auxílio do Espírito Santo. E este socorro não é reservado às almas privilegiadas, mas é necessário a todo o cristão. Com efeito, no santo batismo, cada alma, juntamente com a graça santificante, recebe as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo. As virtudes infusas são princípios sobrenaturais de atividade pelos quais nos tornamos capazes de agir de um modo virtuoso, não só sob o ponto de vista humano, mas também sob o ponto de vista sobrenatural; de modo que temos capacidade para realizar ações meritórias e, por conseguinte, para nos aplicarmos ativamente à aquisição da santidade. Os dons do Espírito Santo, porém, são princípios sobrenaturais pelos quais nos tornamos capazes de receber o socorro do Espírito Santo, de reconhecer as Suas inspirações, e de as secundarmos. Por outras palavras, os dons são disposições permanentes que Deus pôs nas nossas faculdades, a fim de que possamos receber e seguir o impulso do Espírito Santo. São Tomás compara-os às velas de um barco: como o barco, mediante as velas, tem capacidade para ser movido e levado pelo vento, assim a nossa alma, mediante os dons, tem capacidade para ser movida e guiada pelo Espírito Santo. Se um marinheiro põe as velas na sua embarcação, mostra que tem intenção de a fazer avançar não só à força de remos, mas também com o impulso do vento. Igualmente, se Deus infundiu na nossa alma os dons do Espírito Santo, quer dizer que pretende fazê-la avançar, não só com o exercício ativo das virtudes, mas também pela intervenção do Espírito Santo. O marinheiro pode içar as velas do seu barco, mas não pode provocar o sopro do vento; Deus, pelo contrário, não só nos concede os dons do Espírito Santo, mas também tem o poder de os pôr em ato quando e como quiser. O próprio fato de Deus ter querido inserir os dons no nosso organismo sobrenatural, é a prova mais evidente de que quer intervir na obra da nossa santificação, de que quer conceder-nos o socorro do Espírito Santo.

2 – A Encíclica “Divinum illud munus” ensina: “o justo que já vive a vida da graça e age com a ajuda das virtudes, tem necessidade daqueles sete dons que se dizem próprios do Espírito Santo. Por meio deles o homem torna-se ao mesmo tempo mais dócil e mais forte para seguir com a maior facilidade e prontidão, o ‘instinto divino'”. Este “instinto divino” é a inspiração e a moção do Espírito Santo. Ora o homem, por sua natureza, mesmo com a maior inteligência e boa vontade, é incapaz de compreender e de seguir tal instinto. “O homem animal – diz S. Paulo – não percebe aquelas coisas que são do Espírito de Deus, porque para ele são uma estultícia e não as pode entender” (I Cor. 2, 14). Portanto, os dons do Espírito Santo foram-nos dados para nos tornar sensíveis ao “instinto divino“; sem eles não poderemos receber as moções do Espírito Santo. Isto faz-nos compreender cada vez mais o grande valor dos dons e como é importante que se desenvolvam em nós em toda a sua plenitude. De fato os dons que recebemos em gérmen no batismo, são destinados como a graça santificante e as virtudes infusas, a crescer e a desenvolver-se até à morte. É muito consolador pensar que, dada a profunda unidade do nosso organismo sobrenatural, a graça, as virtudes e os dons crescem simultânea e paralelamente coma caridade. Se quisermos que os dons se desenvolvam plenamente na nossa alma, devemos exercitar-nos sem cessar na caridade; a cada progresso no amor divino corresponderá um novo desenvolvimento dos dons. Os dons são as velas da alma, mas estas velas podem permanecer amainadas, presas pelo nosso egoísmo, pelo nosso amor próprio, pelo apego a nós mesmos e às criaturas; a caridade, ao contrário, liberta as velas de todos os impedimentos e abre-as ao sopro suave do Espírito Santo: quanto mais as velas estiverem desfraldadas e forem amplas, tanto mais serão capazes de acolher o menor impulso do divino Paráclito.

Colóquio – “Vejo-Vos, Deus Pai, Verbo e Espírito Santo e compreendo que procurais com suma sabedoria e com eterna bondade, a Vossa criatura, dando a impressão de que não tendes nem glória nem satisfação alguma senão na Vossa criatura que é no entanto tão vil; e este Vosso Espírito é o amor com o qual procurais prendê-la. E o coração que recebe o Espírito é semelhante à sarça que Moisés viu, que ardia e não se consumia. Com suma pureza arde de desejo de que Deus não seja ofendido e consome-se, embora não se veja, com o desejo de que Deus seja horado.

“Vinde, vinde, Espírito Santo. Venha a união do Pai, a complacência do Verbo, a glória dos anjos. Vós sois, ó Espírito de verdade, prêmio dos santos, refrigério das almas, luz das trevas, riqueza dos pobres, tesouro dos que amam, saciedade dos famintos, consolação dos peregrinos, enfim, Vós sois Aquele no qual se encerra todo o tesouro.

“Ó Espírito Santo, com uma eterna sabedoria Vós forçais docemente as criaturas racionais que querem receber os Vossos dons, sem lhes tirar a liberdade. Vós ides batendo aos corações de todos, mas bateis docemente, procurando que cada um se disponha a receber estes dons. Suavemente Vós ides cantando com doce pranto. Ides jubilando, chorando, e procurando que cada um se disponha a receber-Vos. Que a inteligência admire, que a vontade note e que a memória entenda a Vossa imensa bondade, ó Espírito Santo, que Vos infundis na alma a Vós mesmo e aos Vossos dons! Ó Espírito que procedeis do Pai e do Verbo, Vós penetrais na alma de um modo tão suave que não se entende e que não se entendendo, é estimado por poucos. No entanto, pela Vossa bondade, infundis na alma o poder do Pai e a Sabedoria do Filho: e a alma, assim poderosa e sapiente, torna-se capaz de Vos possuir como doce hóspede, acariciando-Vos, ou seja, comportando-se de modo que Vos agrade e que não Vos afasteis dela” (Sta M. Madalena de Pazzi).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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