O primeiro Domingo do Advento, que é o primeiro dia do ano eclesiástico, começa pelo Evangelho do juízo último, como o seu último domingo depois de pentecostes termina com a mesma verdade, para nos mostrar que o pensamento dos últimos fins do homem começa e termina o dogma católico.
O fim último ou a “vida eterna” é, de fato, o pensamento que deve dominar e orientar toda a nossa vida.
“Em todas as coisas considerai o fim”, disse o poeta Lafontaine, traduzindo a palavra do Espírito Santo: “Memorare novíssimo tuo et in aeternum non peccabis”. – Lembrai-vos dos vossos fins últimos, e nunca pecareis. (Ec. 7,40).
Meditemos os nossos deveres para com os nossos fins últimos, resumindo-os em três:
– CRER nos fins últimos;
– PENSAR nestes fins;
– TRABALHAR para preparar-nos
I – Crer nos últimos fins
É preciso crer neste dogma, revelado por Deus e ensinado pelo Evangelho e a Igreja. A cada passo Jesus Cristo nos fala sobre a grande verdade. O Evangelho do Primeiro Domingo do Advento (São Lucas 21, 25-33) versa todo inteiro sobre este assunto.
Jesus Cristo diz: que não somente nós havemos de terminar um dia, mas que o próprio mundo que nos abriga terminará um dia.
Neste dia, diz Ele, eu virei sobre uma nuvem com grande poder e majestade.
Para que esta vinda?
Nesta ocasião, Deus fará a grande e definitiva separação entre os bons e os maus: os primeiros, Ele dará como recompensa a felicidade do céu; aos segundos em castigo, dará as penas eternas do inferno.
Jesus Cristo nos previu de tudo.
Morreremos: “Statutum est hominibus semel mori”. (Hebr. 9, 27).
Ressuscitaremos: “Omnes quidem resurgemus”. (I Cor. 15, 51).
Seremos todos julgados: “Post hoc autem judicium”. (Hebr. 9, 27).
Seremos colocados à direita ou à esquerda do Juíz Supremo: “oves ad dextris suis, hoedos autem a sinistris”. (Mat. 25, 33).
Enfim, seremos eternamente felizes ou infelizes: “El ibunl hi in supplicium aeternum: justi autem in vitam aeternam”. (Mat. 25, 46).
Tal é o ensino formal de Jesus Cristo e, após Ele, da Igreja Católica. De certo, cremos neste grande dogma, porém, crer não basta. É preciso pensar nele.
II – Pensar nele
A Igreja lembra a verdade da salvação, no primeiro e último domingo do ano eclesiástico, para significar que o nosso principal pensamento no decurso do ano, deve ser o da salvação da nossa alma.
Não é necessário, pensar e repetir continuamente: Morrerei, serei julgado, serei salvo ou reprovado conforme as minhas obras!
Há palavras que são apenas “aerem verberans”, com diz o Apóstolo, mas há pensamentos que dirigem as ações, mesmo quando se pensa em outra coisa.
Há na Igreja pessoas de diferentes lugares, e cada uma, desde a sua casa até á Igreja, seguiu caminhos diferentes. Ninguém veio repetindo pela estrada: eu vou à Igreja!
Só o pensamento do começo dirigiu os vossos passos, e não vos deixou desviar um passo do caminho reto, enquanto conversáveis sobre outras coisas.
É um tal pensamento “motor” da salvação que deve dominar a nossa vida. Mesmo quando em outras coisas, tal pensamento deve dirigir os nossos para o céu.
III – Conclusão
CRER E PENSAR na salvação são as duas premissas, cuja conclusão é: trabalhar para salvar-se.
A fé suscita o pensamento, e o pensamento suscita a ação.
Estes três elementos são como as virtudes teologais: fé, esperança e caridade.
Crer em Deus, esperar em Deus, amar a Deus é, no fundo, a mesma coisa que crer na salvação, pensar na salvação, trabalhar para a salvação da sua alma.
Como é que se trabalha na obra da salvação?
Fazendo que Deus manda.
Evitando o que Deus proíbe.
Tudo isso está incluído e expresso nos mandamentos da lei de Deus e da Igreja, que Nosso Senhor resumiu na sua resposta ao jovem do Evangelho que lhe perguntou o que devia fazer para salvar-se:
“Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, e ama ao teu próximo como a ti mesmo”. (Mat. 19, 18).
A estes mandamentos a Igreja ajunta: Assistirás à Missa nos domingos e festas, confessarás teus pecados, aproximar-te-ás da Sagrada Comunhão, etc.
Façamos isso e seremos salvos.
Padre Júlio Maria, S.D.N, in Comentário Dogmático, 2ª Edição – 1958