Perseverança e confiança

Ó Senhor, aumentai a minha confiança no Vosso auxílio e fazei que nesta confiança eu encontre sempre coragem para recomeçar.

1 – O que mais assusta as almas de boa vontade que querem dar-se seriamente à vida espiritual, é verem-se tantas vezes por terra, apesar dos seus repetidos e sinceros propósitos. Quando a alma começa a subida, está geralmente cheia de coragem e não duvida do êxito; mas é ainda inexperiente, não comparou as suas forças com as exigências de uma virtude mais profunda nem conhece as lutas que a esperam neste caminho. E eis a armadilha: no embate com novas dificuldades, cai; levanta-se e cai de novo; levanta-se ainda e pouco depois está outra vez por terra e assim por diante, até que, a certa altura, a assalta a mais perniciosa das tentações: renunciar à empresa que doravante lhe parece impossível. Quantas almas depois de terem empreendido com fervor a subida do monte da perfeição, desanimadas com as suas contínuas quedas, pararam a meio caminho, ou antes, voltaram para trás porque não tiveram a coragem de recomeçar cada dia, a cada momento.

Para ter esta coragem é necessário, sobretudo, a humildade; é preciso estarmos convencidos de que, embora alimentando altas aspirações, somos homens fracos como todos os outros. A Sagrada Escritura afirma que “o justo cairá sete vezes e tornar-se-á a levantar” (Prov. 24, 15); portanto, como podemos nós pretender não cair, nós que não somos justos? O verdadeiro mal não está tanto em cair, mas em não nos levantarmos. O que caracteriza as almas fervorosas e mesmo os santos, não é a ausência de qualquer falta, mas a prontidão em se levantarem depois de cada uma delas. Esta espécie de despeito que tantas almas sentem ao verem-se sempre por terra, não é fruto da humildade, mas do orgulho: não estão ainda tão convencidas da própria miséria que não se admirem por a experimentarem a cada instante, contam ainda muito consigo mesmas e Deus, que as quer conduzir ao centro do seu nada, deixa-as cair e tornar a cair. No plano da divina Providência, estas quedas têm precisamente o fim de nos persuadir da nossa miséria; se queremos aderir ao plano divino, não temos senão um meio: humilhar-nos. Se, ao contrário, desanimamos e desistimos da empresa, não fazemos senão afastar-nos dela com grande prejuízo nosso.

2 – Certas almas justificam o seu desânimo dizendo que não podem suportar ofender a Deus. Está muito bem, porque a primeira condição requerida para sermos santos é justamente a de detestar o pecado e a de estarmos firmemente decididos a evitá-lo, por mais leve que seja, mesmo à custa de todos os sacrifícios. Porém é preciso distinguir: esta disposição sincera que devemos sempre cultivar de não tolerar em nós a mínima ofensa a Deus significa nunca pactuar com os defeitos e as faltas que, não obstante a nossa boa vontade, ainda nos escapam; mas se caímos apesar dos nossos esforços, essa disposição não nos permite o desânimo a ponto de já não sermos capazes de nos levantarmos. Porque não queremos tolerar em nós alguma coisa que desagrade ao Senhor, nunca nos renderemos na luta, mas retomá-la-emos com vigor, para evitar novas quedas. Neste campo quem se rende já está vencido. Com efeito se, embora combatendo sem tréguas, estamos sujeitos a cair, o que não aconteceria se depuséssemos as armas? Será melhor lutar coxeando e com algum ferimento do que deixar de lutar.

Mas para ter a coragem de perseverar na luta, sobretudo quando – ou pela nossa imperfeição e fragilidade, ou porque Deus o permite para nos humilhar mais – as quedas são mais frequentes, é necessário unir à humildade uma imensa confiança no socorro divino. Tendo experimentado a nossa miséria não podemos, na verdade, levantar-nos apoiando-nos nas nossas forças, todavia resta-nos um recurso muito poderoso: confiar na ajuda de Deus. A força para recomeçar continuamente desde o princípio, encontramo-la na confiança visto que só Deus nos pode dar essa força e no-la dará na medida da nossa confiança: quanto mais confiança tivermos nEle, mais fortes seremos. Quanto mais uma alma está convencida de que Deus a chama à santidade e de que, por outro lado, os seus recursos pessoais são insuficientes para a conduzir até lá, tanto mais deve estar segura de que o próprio Deus lhe dará os auxílios necessários para corresponder ao Seu apelo. Em Deus não existe nada que não seja lógico: se Deus quer de nós uma coisa, não pode negar-nos os meios para a conseguirmos; por isso, se não encontramos estes meios em nós mesmos, encontrá-los-emos certamente nEle, na Sua onipotência auxiliadora. “Aquele que perseverar até ao fim será salvo” (Mt. 10, 22), disse Jesus. Perseverará até ao fim não só quem nunca cair, mas quem, depois de cada queda, souber humilhar-se e levantar-se, apoiando-se na força infinita de Deus.

Colóquio – “Ó Jesus, bem vedes que sou uma alma muito pequenina que só Vos pode oferecer coisas muito pequeninas, e ainda com frequência me acontece deixar escapar algum destes pequenos sacrifícios que dão tanta paz à alma; mas isto não me desanima, sujeito-me a ter um pouco menos de paz e procuro, coma Vossa ajuda, ser mais vigilante para a outra vez. Vós sois tão bom para comigo que me é impossível temer-Vos!

“Se quereis que toda a minha vida sinta repugnância em sofrer e ser humilhada, se permitis que todas as flores dos meus desejos e da minha boa vontade caiam na terra sem produzirem nada, não quero perturbar-me. Estou certa de que, se perseverar nos meus pobres esforços, num abrir e fechar de olhos sabereis, no momento da morte, fazer amadurecer belos frutos na árvore da minha alma” (cfr. T.M.J. M.C. pg. 305; CL).

“Senhor, estou esgotado e necessitado de amparo, falto de forças e cheio de miséria; mas se os Vossos olhos pousarem em mim, serei levantado da minha humilhação, erguer-me-á a minha cabeça e muito Vos glorificarão.

“Concedei-me que permaneça firme no meu pacto conVosco, que viva em conformidade com ele e envelheça no cumprimento dos meus deveres. Quero confiar e perseverar na minha empresa, já que para Vós, Senhor, é coisa fácil enriquecer o pobre de repente. A Vossa bênção será o meu prêmio e em breves momentos fará frutificar os meus esforços” (cfr. Ecli. 11, 12-24).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

Compartilhe:

Picture of Arsenal Católico

Arsenal Católico

O Arsenal Católico é um blog dedicado à preservação e divulgação da tradição católica, abordando tudo sobre a Igreja Católica Apostólica Romana. Aqui, você encontra orações, novenas, ladainhas, documentos da Igreja e reflexões sobre os santos e a doutrina católica. Nosso compromisso é oferecer conteúdos profundos e fiéis aos ensinamentos da Igreja, promovendo a formação e o fortalecimento da espiritualidade de cada visitante.
Encontre-nos aqui

Relacionados