Vamos tratar, hoje, dum assunto muito importante, que é o mistério da Encarnação do Filho de Deus. Certamente todos daqui já repararam que o sacerdote no final da Missa, quando lê o último Evangelho, faz uma genuflexão, pronunciando as palavras sagradas: “E o Verbo de Deus se fez homem e habitou entre nós”. O padre se ajoelha, e com ele todo o povo, para adorar o Verbo Encarnado.
É sobre este mistério da nossa fé que vamos fazer algumas considerações.
Imaginemos Maria caminhando pelas montanhas da Judéia, em direção à casa da sua prima Isabel. Toda a sua atenção está voltada para uma grande realidade, que ela mesma leva dentro de si.
Tinha ouvido do anjo que a prima, já idosa e que nunca tivera filhos, estava agora no sexto mês, porque Deus aceitara a sua oração e lhe concedera um filho. E ela, Maria, que era esposa de São José, e virgem no corpo e na alma, também levava nas suas entranhas um grande mistério: o Verbo de Deus se encerrara no seu ventre e ali começava a desenvolver-se como qualquer outra criancinha.
Realizara-se em Maria o mistério da Encarnação do Filho de Deus. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade toma nela um corpo e uma alma semelhante à nossa, por uma intervenção especial de Deus. Por isso dizemos que Jesus “foi concebido do Espírito Santo”.
Por que e para que se fez Homem o Filho de Deus?
Todas as criaturas podiam existir ou não existir. Se Deus as fez do nada, foi, antes de tudo, para manifestar a Sua bondade e para que elas, uma vez criadas, O glorificassem como seu Criador.
É assim que os céus, os rios, os mares e as montanhas dão glória a Deus. Os peixes grandes e pequenos, os passarinhos tão diferentes e coloridos, as borboletas e todos os animais cantam a glória de Deus. As conchas, as flores tão belas e as árvores de todos os tamanhos e qualidades nos estão dizendo que foi Deus quem as fez.
E a Encarnação do Verbo, por ser também obra do Altíssimo, é, antes de tudo, para a glória do mesmo Deus.
Se tudo na criação é um hino de louvor a Deus, a Encarnação é a poesia mais bela que se entoa ao mesmo Deus. Com efeito, é a união sublime da terra com o céu.
Deus, espírito perfeitíssimo, fez-se Homem no seio puríssimo da Virgem Maria e chamou-se Jesus Cristo. Deste modo há em Jesus, Filho de Nossa Senhora e Filho de Deus, duas naturezas: a natureza divina e a natureza humana, possuídas as duas por uma só Pessoa, que é o Filho de Deus.
Jesus Cristo foi o único representante da humanidade, que desde o primeiro instante da sua existência esteve unido com intimidade sem igual a Deus, e pelo qual todos os homens puderam conseguir o estado sobrenatural de amizade com Deus, que haviam perdido por meio do nosso primeiro pai.
Adão, no momento em que foi submetido à prova, representava todos os seus descendentes. Pecou e perdeu para si e para todos a graça santificante ou amizade com Deus, e, desde então, os homens deviam morrer e sofrer a luta das más paixões. Veio Cristo, cabeça e representante também Ele, e até mais perfeito, de toda a humanidade, e mereceu com a Sua morte na cruz a reconciliação dos homens com Deus.
Todo aquele, a quem forem aplicados os merecimentos de Cristo, não só será chamado, mas será de fato filho de Deus e herdeiro do céu, terá a visão feliz de Deus para sempre. Ter a graça santificante é participar da natureza de Deus, como filho adotivo, porque somos de condição infinitamente inferior e só existe um Filho de Deus por natureza : Jesus Cristo.
Mas bem se vê nisto uma grande elevação para cada homem, que reconhece e recebe a Jesus Cristo como Filho de Deus: “Deu-lhes (aos homens) , diz São João no começo do seu Evangelho, deu-lhes Deus o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1, 12). De inimigos nos tornamos não só amigos, mas filhos. Só a infinita bondade de Deus podia fazer tal coisa ! E é pela Encarnação do Filho que se começa lançar a ponte de união dos homens com Deus.
Jesus Cristo, portanto, é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Por isso tudo quanto Jesus Cristo fez e sofreu na sua vida era ação divina e de valor infinito.
Como Deus tem poderes divinos, como, por exemplo, de fazer milagre, em seu próprio nome. Assim até mortos ressuscitou. Como homem nasceu em Belém e morreu na cruz.
A humanidade de Cristo deve ser adorada, porque a adoração se faz não à natureza humana mas à pessoa de Jesus Cristo. Por esta razão é que adoramos o Sagrado Coração de Jesus.
Se Jesus Cristo não fosse também homem não poderia sofrer e morrer por nós, seus irmãos na natureza humana, e porque Ele é Deus, seus padecimentos têm um valor infinito em reparação pelos nossos pecados.
Quando olharmos para Cristo na cruz ou no Sacrário ou contemplarmos o Sagrado Coração de Jesus devemos meditar no imenso amor que o Filho de Deus feito homem teve por nós, pobres pecadores. Foi porque Cristo veio a este mundo que nós podemos nos salvar eternamente, tornando-nos filhos adotivos de Deus e irmãos em Jesus Cristo.
Mas o mistério da Encarnação se prolonga na Igreja de Cristo. É através da Igreja que os frutos da Encarnação nos são aplicados.
No Brasil, a Igreja esteve presente desde a descoberta da nossa Pátria. Foi justamente a “Ordem de Cristo” que favoreceu a descoberta do Brasil. Isto mostra uma predileção de Jesus Cristo para com nossa terra. Devemos sempre ser muito gratos a Nosso Senhor.
Exemplo: Um preso recebe na cadeia a visita de um amigo rico que vai livrá-lo da prisão. Os dois estão na cadeia, mas há uma grande diferença : o preso está sofrendo um castigo e o outro está lá movido por compaixão. É isto que sucedeu com Jesus Cristo. Veio ao exílio deste mundo para nos libertar do pecado, que é uma verdadeira prisão.
Oração. – Ó Jesus, dai-me a graça de viver a minha fé. Por Vossa graça fui elevado à dignidade de filho de Deus. Não permitais que eu Vos ofenda e me torne novamente filho da ira, como era ao nascer. Mas ajudai-me a cooperar convosco, para chegar àquele grau de santidade, que Vós, o Pai e o Espírito Santo querem de mim. Aumentai a minha fé no profundo mistério da Vossa Encarnação. Amen.
Rezemos, todos, o “Creio em Deus Pai . . . “
Resolução: Propagai a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e da novena de comunhões nas primeiras sextas-feiras.
Leituras de Doutrina Cristã, Parte I – Dogma, Padres Jesuítas de Três Poços, Pinheiral, Estado do Rio, 1958.
Última atualização do artigo em 13 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico