A prática de abstinência de carne nas sextas-feiras data do início da Igreja. O princípio da prática penitencial de abstinência, para se atingir o domínio de si mesmo, já estava delineado por São Paulo: “E todos aqueles que combatem na arena de tudo se abstêm e o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível” (1Cor 9, 25) e “Antes nos mostramos como ministros de Deus nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns” (2Cor 6,5).
Menção explícita da prática de abstinência nas sextas-feiras é feita em um documento do fim do século I (A Didaqué dos Apóstolos), assim como por São Clemente de Alexandria e por Tertuliano no século III. Era um costume universal desde o começo, e a sexta-feira foi escolhida em comemoração da Paixão de Nosso Senhor como um dia em que devemos nos esforçar de maneira especial para praticar a penitência. É em reconhecimento do fato de que Cristo sofreu e morreu e deu sua carne humana e sua vida por nossos pecados em uma sexta-feira que os católicos não comem carne nesse dia. O Papa Nicolau I tornou isso lei da Igreja no século IX. Na Igreja Latina, nos primórdios da Idade Média, esse dia de abstinência não foi considerado suficiente, e a abstinência aos sábados foi acrescentada em honra ao sepultamento de Cristo e ao sofrimento de Nossa Senhora e das santas mulheres no Sábado Santo. Isso foi tornado lei da Igreja por São Gregório VII no Século XI, mas, desde então, caiu em desuso, exceto por parte daqueles que querem professar sua devoção a Nossa Senhora de maneira especial. A Igreja Oriental também tem regras rigorosas para abstinência, pois, nela, a abstinência de carne é praticada nas quartas e nas sextas-feiras.
As regras acerca do que é ou não permitido em dias de abstinência também variaram conforme o tempo. Santo Tomás de Aquino, por exemplo, indica que ovos, leite, manteiga, queijo e gordura são proibidos em dia de abstinência porque eles vêm de animal e, portanto, têm, em sua origem, algum tipo de identidade com a carne. As regras dos nossos dias restringem a abstinência à carne vermelha apenas.
A abstinência de carne é uma lei eclesiástica, mas que, desde muito tempo, obriga sob pena de pecado mortal. O Papa Inocêncio III deixou isso muito claro no começo do Século XIII, e, no Século XVII, o Papa Alexandre VII anatematizou aqueles que buscavam minimizar o caráter dessa obrigação ao declarar que sua violação seria apenas um pecado venial.
Certamente é verdade que, sendo um preceito eclesiástico, a abstinência das sextas-feiras pode ser alterada pela autoridade soberana da Igreja. Porém, a maneira como esse importante preceito tem sido banalizado pela Igreja pós-conciliar é uma enorme desgraça e vergonha para os Católicos. Não se ensina claramente que ele obriga sob pena de pecado mortal, e a possibilidade de substitui-lo por qualquer outro tipo de sacrifício, dada pelo Código de Direito Canônico de 1983, efetivamente destruiu essa antiga prática. A razão fundamental pela qual os modernistas detestam a abstinência de sexta-feira é que eles negam a necessidade de alguns pequenos atos de penitência para satisfazer o castigo temporal devido aos nossos pecados, além do que eles fazem tudo que podem para esvaziar o mistério da Paixão, isto é, da cruz, e tentam substitui-lo por um Cristo Ressuscitado sem sofrimento ou sacrifício. Porém, foi através do sofrimento e do oferecimento da sua carne e do seu sangue que nosso Divino Salvador se dignou nos salvar, e, consequentemente, é nosso dever associar-nos aos seus sofrimentos através da abstinência das sextas-feiras.
Pe. Scott, Novembro de 2002.
Fonte: Permanência