QUAIS OS PECADOS CONTRA O PRIMEIRO MANDAMENTO DA LEI DE DEUS?
Os pecados contra o primeiro mandamento da lei de Deus são: os pecados contra a fé, esperança e caridade.
I. FÉ
O primeiro mandamento determina as nossas relações para com Deus. Compreendemos isto pelo exemplo, que Abraão nos deu.
Abraão era um homem forte e corajoso: Um dia vieram quatro reis com muitos soldados, prenderam Lot, o sobrinho de Abraão, e levaram-no cativo com todos os seus bens. Mas Abraão armou seus trezentos e tantos criados foi atrás dos reis, venceu-os, libertou seu sobrinho e trouxe para casa todas as riquezas, que os reis tinham consigo.
Abraão era um homem forte.
Mas, para com Deus, Abraão era como uma criança para sua mãe. Tal criança crê tudo quanto mamãe diz: não discute, não tem dúvida. Quando mamãe diz alguma coisa, a criança crê que é verdade. Assim Abraão cria em tudo quanto Deus dissesse.
Abraão já tinha cem anos e sua mulher Sara noventa. Sara não tinha filhos.
Um dia Abraão estava sentado à porta da sua casa. E apareceu-lhe Deus com dois anjos, todos em forma de homens. Abraão prostou-se por terra e ofereceu-lhes hospedagem na sua casa. E Deus lhe disse: “Daqui a um ano Eu voltarei aqui e então Sara, tua mulher, terá um filho”.
Sara, escondida, riu-se; pois pensava: eu tenho noventa anos e meu marido cem; como então poderei ter um filho?!
Mas Deus disse: “Porque se riu Sara? Haverá por ventura alguma coisa, que seja difícil a Deus.”
Abraão, porém, acreditou. Abraão não duvidou; Deus tinha falado: Abraão sabia que era verdade.
E depois de um ano, Abraão já tinha um filho e o chamou Isaac. Abraão acreditou nas palavras de Deus como uma pequena criança acredita nas palavras de sua mãe.
Deus também nos falou a nós. Deus falou aos homens por Jesus Cristo e pela Santa Escritura. Tudo o que Jesus disse, é de Deus. Pois Jesus Cristo é Deus. Tudo o que a Santa Escritura diz, é de Deus. Pois Jesus Cristo chama às palavras da Santa Escritura o testemunho de Deus. Deus não se pode enganar: pois Deus sabe tudo. Deus também não pode enganar-nos: pois mentir é pecado e Deus não pode pecar. Deus é santo. Deus não nos pode enganar. Portanto tudo o que Deus nos diz é verdade: pois Deus sabe tudo e não nos pode enganar. Quando Deus nos faz conhecer alguma coisa por Jesus Cristo ou pela Santa Escritura, dizemos que Deus nos revelou aquela verdade. Aquelas verdades, que Deus nos revelou, a Santa Igreja Católica as ensina. Já temos aprendido isso, tratando da Santa Igreja Católica. Devemos crer tudo o que Deus revelou e nos ensina pela Santa Igreja Católica; pois Deus sabe tudo e não nos pode enganar.
Creio, meu Deus, tudo o que Vós revelastes e nos ensinais pela Santa igreja Católica; pois Vós sabeis tudo e não podeis enganar-nos.
Queremos sempre crer tudo o que Deus revelou. Esta disposição para crer, que fica e nós chamamos a nossa fé. A fé é a virtude, que recebemos no batismo, que nos faz crer tudo o que Deus revelou e nos ensina pela Santa Igreja Católica.
Alguém peca contra a fé, se não crê tudo o que Jesus ensina por sua Santa Igreja Católica.
É uma ofensa contra Jesus Cristo não acreditar na sua doutrina. Se alguém não acredita nas nossas palavras, já nos sentimos ofendidos. Porém nós podemos enganar-nos e mentir. Muitas vezes nos temos enganado e talvez mentido.
P que será então, se alguém não acredita nas palavras de Jesus, que nunca se engana nem mente?
Contudo há muita gente, que assim ofende a Jesus Cristo. Acreditam o que querem, e rejeitam o que não querem crer. Acreditam que há um Deus em três Pessoas, mas não acreditam que é preciso confessar-se. Porém foi o mesmo Jesus que ensinou o mistério da Santíssima Trindade e a necessidade da confissão. Quem não acredita que é preciso confessar-se, chama Jesus de mentiroso. Porque então acreditam, se este mesmo Jesus diz que há três Pessoas em Deus?
Quem rejeita uma só verdade da doutrina de Jesus, já não se pode salvar: “Quem não crê, será condenado.”
Alguém peca contra a fé, quando duvida de alguma verdade que a Igreja nos ensina.
Tudo quanto a Igreja ensina é certo e devemos crê-lo com certeza e sem dúvida.
Quem julga que a doutrina do Senhor talvez seja verdade, talvez não, já ofende ao Senhor.
Alguém peca contra a fé, quando fala contra alguma verdade, que a Igreja nos ensina.
Alguém peca contra a fé, quando lê livros contra a fé, ou os guarda em casa.
Se um jornal trouxer artigos contra a religião, é preciso devolver a assinatura. Se as outras coisas no tal jornal são boas, não é desculpa para conservar o jornal. A cobra também não é toda venenosa: só um par de dentes dela tem veneno. Porém, por causa destes dentes, não a queremos em casa. Assim com os maus jornais: por causa do artigo venenoso rejeitamos o jornal inteiro. Alguém peca contra a fé, se por sua culpa não sabe o que Jesus revelou e por sua Igreja nos ensina: Quem não quer ir regularmente ao catecismo faz pecado mortal contra a fé. Devemos também durante o ensino e durante a prática atender bem e trabalhar para compreender tudo.
Muitos pensam que não precisam do catecismo, nem das práticas. Pensam que sabem o bastante para salvar a sua alma, sem ter aprendido.
Quando alguém tem de fazer pela primeira vez uma grande viagem, por caminhos onde há muitas encruzilhadas e erradas, pede a outro que lhe ensine o caminho. Como acharemos então o caminho do céu, se ninguém no-lo ensina?
Se não queremos ouvir a quem sabe, temos de perder-nos num caminho errado, que vai dar no inferno.
Ninguém pensa que sabe fazer sapatos, se não aprendeu esta arte. Ninguém pensa que pode fazer relógios, se não aprendeu para relojoeiro.
Muito menos saberemos viver como bons Cristãos, se não tivermos aprendido esta arte difícil.
Moisés teve só uma leve dúvida contra a fé, e Deus lhe deu um grande castigo.
O povo estava no deserto e não tinha água. Deus disse a Moisés, que falasse a uma pedra, e da pedra sairia água. Mas Moisés viu o povo tão ruim e tão pouco respeitoso para com Deus e para com seus ministros. Duvidou, se para tal povo Deus faria um milagre. Não falou à pedra, mas ralhou com o povo, bateu na rocha e, como a água não saísse logo, bateu mais uma vez. Então a água saiu, mas Deus disse a Moisés: “Porque não creste em mim, não entrarás na Terra Prometida.”
Moisés teve só uma leve dúvida; e, por castigo, havia de morrer antes que o povo entrasse na Terra Prometida.
O que será então daqueles que falam contra a palavra de Deus, contra as práticas, contra a doutrina, contra os sacramentos da confissão, comunhão ou matrimônio?
Eles não entrarão na Terra Prometida. Eles não entrarão no céu.
Ato de Fé
Creio, meu Deus, tudo o que Vós revelastes e nos ensinais pela Sant Igreja Católica. Pois Vós sabeis tudo e não podeis enganar-nos.
II. ESPERANÇA
Deus prometeu a Abraão que seu filho Isaac seria pai de um povo tão numeroso como as estrelas do céu; e que neste povo todos os povos seriam abençoados: pois deste povo havia de nascer o Salvador. Abraão esperava com firme confiança que Deus lhe daria o que tinha prometido.
Um dia Deus o chamou: “Abraão! Abraão!” E ele respondeu: “Aqui estou, Senhor.” E Deus continuou: “Toma Isaac, teu filho único, a quem amas, e vai à terra da Visão, e aí o mata e oferece-o a Mim em sacrifício.”
Deus tinha prometido que este filho seria pai de um grande povo. E agora o pai devia mata-lo. Como, depois de morto, poderia Isaac ser pai de um grande povo? Mas Abraão não duvidou: não discutiu: ficou na firme confiança de que Deus havia de cumprir sua promessa. Como uma pequena criança tem confiança em sua mãe, assim Abraão esperava em Deus. Abraão aprontou a lenha, levou uma faca e fogo e foi com seu filho para a terra da Visão. Devemos confiar em Deus, como uma pequena criança confia em sua mãe. A esperança é uma virtude, pela qual esperamos com firme confiança que Deus nos dará tudo o que prometeu, se nós cumprirmos as condições.
Jesus prometeu-nos o céu, se morrermos sem pecado mortal. Jesus prometeu-nos a ressurreição dos corpos no último dia.
Jesus prometeu-nos todas as graças necessárias, se nós as pedirmos e usarmos os meios para obter estas graças.
Jesus prometeu-nos o perdão dos pecados, se nos arrependermos e nos confessarmos.
Jesus prometeu-nos bens temporais, se pedirmos com perseverança o que não prejudica a nossa salvação e a ordem da Providência Divina.
Se nós cumprirmos estas condições, devemos estar certos de que Deus nos dará o que prometeu.
Deus é bom. Deus quer dar-nos o céu e tudo quanto é preciso para ganhar a felicidade eterna. Mas nós da nossa parte devemos cumprir as condições: rezar, receber os sacramentos, fugir dos pecados. Com estas condições Deus nos prometeu o céu. Se eu fizer da minha parte o que posso e devo, Deus me dará o céu. Deus não quebra sua palavra. Deus é fiel às suas promessas, isto é: Deus dá o que prometeu. Por isso dizemos no ato de esperança: “espero, meu Deus, alcançar a felicidade eterna, se eu fizer da minha parte o que posso; pois Vós sois infinitamente bom e fiel às vossas promessas.”
Pecamos contra a esperança, quando julgamos que Deus não nos dará o prometido, ainda que cumpramos as condições. Pensar assim é uma grande ofensa a Deus. Deus é fiel nas suas promessas. Deus não quebra sua palavra, se nós fizermos da nossa parte, o que podemos e devemos. Deus não faltará às suas promessas. Alguém peca também contra a esperança, se espera o que Deus prometeu sem cumprir as condições. Este pecado chama-se presunção. Por exemplo: alguém peca por presunção se espera ganhar o céu, sem sair do pecado. Alguém peca por presunção se espera o perdão dos seus pecados, sem querer confessar-se.
Alguém peca por presunção, se pensa que pode evitar o pecado sem querer receber a Santa Comunhão.
É uma grande ofensa a Jesus Cristo esperar que Jesus nos dará o céu e outras coisas, sem que nós cumpramos as condições; pois Jesus disse claramente que não receberemos estes bens, se não cumprirmos as condições.
A esperança é como o telescópio. Há muitas coisas no sol, na lua e nas estrelas, que não podemos ver, porque estão muito longe. Por isso, os sábios construíram um aparelho engenhoso, chamado telescópio. Olhando pelo telescópio, tudo parece mais perto: enxergam-se as montanhas da lua, os gases luminosos em redor do sol, em roda de uma das estrelas vêem-se uns anéis luminosos, e enxergam-se muitas estrelas, que com os olhos desarmados não vemos.
A esperança é o telescópio, que nos faz enxergar as belezas do céu.
São Martinho foi condenado à morte, porque não quis renegar a Jesus. Teve de se ajoelhar e o algoz logo levantou a espada, para lhe cortar a cabeça. Então o algoz olhou muito admirado para São Martinho. Já tinha matado muita gente: eles sempre tremiam e choravam de medo. Mas São Martinho estava tão contente e descansado, como se fosse para um passeio. O algoz muito admirado lhe perguntou: “O que? Tu não tremes?” E São Martinho disse: “Porque tremer? A morte é o meu melhor amigo; pois a morte me leva desta vida triste para uma vida muito melhor no céu.”
São Martinho tinha uma esperança firme: Sabia com toda a certeza que jesus é fiel à sua promessa e dá o céu àqueles que morrem sem pecado mortal.
Ó Coração, que a lança
Cruel rasgou na cruz,
Tu és minha esperança,
Tu és a minha luz.
III. CARIDADE
Já temos aprendido de Abraão a fé e a esperança.
Agora continuemos a história de Abrão e vamos aprender dele a caridade, isto é, vamos ver, como Abraão amava a Deus sobre todas as coisas. Abraão amava a Deus mais que a todas as outras coisas.
Abraão oferecia a Deus muitos sacrifícios do seu gado.
Abraão ama a Deus mais que a seu gado.
Abraão tinha muito dinheiro e objetos de valor daqueles reis que ele venceu. Mas deu a décima parte de tudo a Melchisedech, sacerdote de Deus.
Abraão amava a Deus, mais que ao dinheiro.
Deus mandou a Abraão sair da sua pátria e logo saiu para um país estrangeiro.
Abraão amou a Deus mais que à sua pátria.
Deus mandou a Abraão sair da casa de seu pai, que adora deuses falsos. Isto podia tornar-se uma ocasião próxima de pecado para Abraão. E Abraão saiu logo.
Abraão amava a Deus mais que a seu pai.
Finalmente Deus disse a Abraão: “Toma Isaac, teu filho único, a quem amas, vai à terra da Visão, mata-o e oferece-m’o em sacrifício.” Abraão amava muito a seu filho, mas amava mais a Deus. Levou seu filho à terra da Visão, com lenha, faca e fogo para o sacrifício. Chegaram ao lugar, que Deus havia indicado. Abraão fez um altar de pedras e sobre ele preparou a lenha; sobre o feixe de lenha amarrou seu filho Isaac; e com o coração muito triste levantou a falca para matar seu filho… Então um ano do senhor falou do céu: “Abraão, Abraão!” Ele respondeu: “Aqui estou.” E o anjo continuou: “Não levantes tua mão contra o menino e não lhe faças mal algum. Agora conheço que não poupaste teu filho por amor de Deus.” E Deus prometeu outra vez, que este filho seria o pai de um grande povo. Abraão amava a Deus mais que a seu gado, mais que ao dinheiro, mais que a seu pai, mais que a seu filho. Abraão amava a Deus sobre todas as coisas. O que vou explicar agora é um pouco difícil, mas muito necessário. Quem o compreender bem e guardar, será muito mais feliz na sua vida.
É justo amar a Deus mais que a todas as outras coisas. Gostamos de alguma coisa ou de alguma pessoa por causa de qualquer boa qualidade, que ela tem. Por exemplo: amamos um amigo, porque é inteligente ou porque tem um gênio muito bom, ou por causa de outra boa qualidade. Mas foi Deus quem deu estas boas qualidades às criaturas. Ele as tem também em si mesmo.
Deus tem em si mesmo tudo o que podemos amar ou desejar. Deus é eterno. Os homens e as outras coisas podem perder suas boas qualidades. Como as plantas, assim tudo nasce, cresce, floresce e morre. Deus tem tudo para sempre em si.
Deus é sábio, Deus vê e sabe tudo o que foi, tudo o que é e tudo o que será. Os homens podem enganar-se ou mentir. Deus sabe toda a verdade e no-la ensina.
Deus é imenso. As outras coisas estão só num lugar, são limitadas. Deus está em todos os lugares. O céu e a terra estão cheios da sua glória.
Deus é todo-poderoso. Quando nós queremos fazer alguma coisa, por exemplo uma capela, então só começa o trabalho. Quando Deus quer fazer alguma coisa, aquela coisa já está pronta só pela vontade do Senhor. “Deus disse e tudo foi feito. Deus mandou e tudo foi criado.”
Deus é santo. Nós temos muitas faltas e muitas fraquezas. A nossa vontade vacila entre o bem e o mal. A vontade de Deus é inflexível, dirigida só para o mais nobre e o mais perfeito.
Deus é bom. Os homens têem ódio e pensam em vingança. Deus procura os pecadores como um pastor, que perdeu uma ovelha.
Deus é infinitamente perfeito. Deus tem em si todas as boas qualidades, todas as perfeições. Todas as outras coisas, deus as fez de nada e a cada uma deu um pouco das suas perfeições.
A enorme extensão do mar é uma imagem muito imperfeita da grandeza de Deus. A força do trovão ou do relâmpago é uma imagem muito imperfeita do poder infinito de Deus. A beleza do céu estrelado é uma imagem da beleza de Deus. A ciência do doutor mais sábio é uma imagem muito imperfeita da sabedoria de Deus.
Ora, este pouquinho de perfeição, que Deus deu às criaturas, nunca pode contentar o nosso grande desejo de felicidade. As míseras criaturas não têem o poder de fazer feliz uma alma imortal. Já muitos buscaram nelas a sua paz e ninguém a achou. Deus nos fez para Si e nunca seremos felizes, se não O amamos mais que a todas as outras coisas.
O João não tem nem um vintem no bolso e quer tirar do bolso dois contos de réis. O João pode puxar durante toda a vida. Os dois contos não sairão, porque não estão dentro. Nas coisas desta terra não está a felicidade de uma alma imortal. Podemos puxar durante toda a nossa vida: nunca tiraremos destas coisas a nossa felicidade, porque a nossa felicidade não está lá.
A Adelina tem quinhentos mil réis no bolso, a Judith tem só um vintem. A Judith é ladina e diz: “Pois sim, eu te dou o meu vintem, se tu me dás os teus quinhentos mil réis.” E a Adelina dá os seus quinhentos mil réis para ganhar o vintem de Judith.
Que devemos pensar de Adelina? Que é bem tolinha! Nos quinhentos mil réis há tudo, o que há neste vintem, e muito mais ainda.
O mesmo faz o homem que perde o seu Deus para ganhar uma coisa na terra. Tudo, o que há de felicidade naquela coisa, há também em Deus: Lança fora uma grande riqueza, para ganhar um miserável vintem.
Quando num navio não há mais água para beber, os homens do navio tomam uma bala de chumbo na boca. Aquela bala é fria e nisso se parece com a água. Mas aquela bala não mata a sêde: só a engana. Assim nós temos sêde de perfeita felicidade, que só há em Deus. Temos sêde de Deus. O gozo, que as criaturas dão, pode enganar aquele desejo de Deus, pela semelhança imperfeita das criaturas com Deus, mas nunca as criaturas podem satisfazer aquele desejo. Só Deus pode matar a nossa sêde de felicidade.
Nunca seremos felizes, se não amarmos a Deus sobre todas as coisas.
Devemos amar a Deus de todo o nosso coração, porque Ele é infinitamente perfeito.
Amamos também alguma pessoa, porque nos fez bem, porque nos fez benefícios. Amamos, por exemplo, nosso pai e nossa mãe, porque nos dão casa, comida roupa e tudo. Deus deu-nos mais que os nossos pais: Deus deu-nos tudo quanto temos. Deus também se fez homem por amor de nós e Jesus morreu na cruz para nos abrir o céu. Deus nos tem feito muitos benefícios. Por isso devemos ama-lO, de todo o nosso coração e sobre todas as coisas. Por isso dizemos no ato de caridade: “Eu vos amo, meu Deus, de todo o meu coração, pois Vós sois infinitamente perfeito e me fizestes tantos benefícios.” Devemos mostrar a Deus o nosso amor, observando todos os seus mandamentos.
Se um menino vai brincar e por isso falta à missa do domingo, este menino ama o brinquedo mais que a Deus. Este menino não ama a Deus sobre todas as coisas. Se uma menina não leva um recado, que o pai manda, para ficar na frescura e não apanhar sol, aquela menina ama a frescura mais que a Deus.
Se alguém trabalha no Domingo para ganhar mais dinheiro, ama ao dinheiro mais que a Deus.
Se alguém manda seus filhos tratar da roça durante a doutrina, ama a sua roça mais que a Deus.
Se alguém sai da prática para fumar um charuto, ama o charuto mais que a Deus.
Se alguém não reza à noite para ir dormir mais cedo, ama o sono mais que a Deus.
Nós queremos amar a Deus sobre todas as coisas e sacrificar tudo por causa d’Ele.
Quem tem um cão, dá-lhe a comida, que para si mesmo não serve mais; dá-lhe na casa o lugar, que para si mesmo não quer. Da mesma maneira muitos tratam o bom Deus. As horas do dia servem para o trabalho, para ganhar dinheiro. Por isso não vão à missa. As horas da noite, porém, não lhes servem de nada: pois então vão à novena. Dão a Deus o tempo, que não serve para outra coisa.
Não mandam à doutrina os filhos um pouco maiores, que estão na idade de aprender: pois o trabalho deles lhes serve em casa. À doutrina mandam só os muito pequenos de 4 ou 5 anos, que nada compreendem. Pois estes não lhes servem de nada em casa.
Do seu dinheiro só dão alguma coisa para a igreja, se não faz falta alguma.
Dão a Deus o que não serve mais de nada.
Isso não é amar a Deus sobre todas as coisas. Isso é amar todas as coisas sobre Deus.
São Carlos Borromeu, ainda pequeno, já amava muito a Deus. Cada manhã, quando acordava, dizia: “Esta noite o bom Deus me guardou. Hoje eu quero dedicar-Lhe tudo quanto fizer.”
São Carlos compreendeu que devemos amar a Deus, porque nos guarda de muitos males; e mostrava muito bem o seu amor, dedicando a Deus todas as obras do dia. É uma grande sinal de amor para com Deus, se por causa do Senhor fazemos bem os nossos deveres de cada dia.
“Eu vos amo, meu Deus, de todo o meu coração. Pois Vós sois infinitamente perfeito e me fizestes tantos benefícios.”
IV. CULTO
A nossa fé, esperança e caridade se mostram no culto.
No primeiro mandamento Deus nos manda também o culto. O culto é uma homenagem que prestamos a Deus e aos Santos. Os Judeus tinham no grande templo de Jerusalém um culto bem brilhante, ofereciam esplêndidos sacrifícios, acendiam lâmpadas belíssimas, faziam festas durante semanas inteiras com imensa concorrência de povo.
Mas pensavam pouco em Deus nestas festas e sacrifícios: até conversavam e negociavam no templo. Jesus viu estes abusos, fez um açoite de cordas e expulsou esta gente do templo, dizendo: A casa de meu Pai é uma casa de oração e vós a fizestes um covil de ladrões.
Jesus não aceita o culto, que só se oferece com o corpo. Jesus quer a homenagem da nossa alma. Em outra ocasião disse Jesus: “Este povo honra-me com os lábios, mas o coração está longe de mim.” E por isso ameaçou: “O reino de Deus vos será tirado e dado a um povo que faça os seus frutos.” E Jesus o fez: tirou aos judeus o reino da sua graça, a verdadeira religião, e deu-o aos pagãos, que fariam as boas obras que Jesus exige. Assim Jesus tirará o seu reino a qualquer povo, que só tem uma religião exterior e o seu coração pouco pensa em Deus.
Podemos oferecer a Deus a nossa homenagem só com a alma, mas temos de fazê-lo também com o corpo e a alma juntos.
As homenagens que prestamos a Deus com o corpo são entre outras: construir e ornar capelas, dobra os joelhos, estar calados na igreja, assistir à missa, acompanhar a procissão, acender velas, fazer festas. Mas estes atos exteriores não são aceitos, quando se fazem só com o corpo. É preciso, que também com a alma adoremos a Deus ou veneremos os santos. Assistir à missa de festa, ou de defuntos, acompanhar a procissão sem pensar em Deus é inútil e até pecaminoso. Convém preparar-nos para as festas com uma boa confissão e na manhã da festa receber a Santa Comunhão. Também nas missas de defunto é bom receber a Santa Comunhão pela alma do defunto.
É pecado contra o culto não rezar ou rezar muito pouco ou rezar quase só com a boca, pensando pouco em Deus.
A superstição é pecado contra o culto. É superstição atribuir a alguma coisa um poder, que não tem, nem por sua natureza, nem pela instituição de Cristo, nem pela benção da Igreja.
As coisas criadas só podem ter os efeitos, para os quais são destinados por sua natureza. A água serve para lavar e para beber. Uma ferradura de cavalo serve para tornar mais forte o casco do cavalo. Mas uma ferradura de cavalo não pode cantar e a água não pode costurar, porque para isso não foram feitas.
Mas Deus é todo poderoso, pode dar às coisas criadas uma força, que em si não têem. Assim Deus deu à água a força de tirar o pecado original no batismo: a água tira o pecado original, não por sua força, mas pela instituição de Jesus Cristo. Deus deu à água, benzida com a benção da Igreja, o poder de afastar o demônio. A água benta às vezes cura doenças, não por sua força mas pela oração, pela benção da Igreja.
Só Deus pode dar tal poder às criaturas, seja pela instituição de Jesus Cristo, seja pela oração ou benção da Igreja: pois só Deus é todo poderoso.
Ora, alguns pensam que certas coisas têem esse poder, que passa as forças da sua natureza, sem que Deus ou a Igreja lhes comuniquem este poder. Pregam uma ferradura de cavalo na entrada de sua casa para não entrar coisa ruim. Mas uma ferradura de cavalo, de sua natureza, só serve para não se estragarem os cascos; e nunca Jesus Cristo ou a Igreja lhe deu outro poder. É uma grave ofensa a Deus atribuir a um ferro de cavalo uma força, que só o poder infinito de Deus pode dar. Este pecado chama-se superstição. A ferradura de cavalo faz entrar a coisa ruim, pelo pecado da superstição. Uma ferradura de cavalo ou outro objeto de superstição convida o demônio a entrar. Pois o demônio logo vê: aqui mora gente que não aprendeu a religião. Pensam, que eu tenho medo de uma ferradura! Vamos entrar nesta casa.
Outros pensam, que trazendo ao pescoço um dente de porco ou certas ervas do mato, serão alvo de algum perigo. Pecam por superstição: pois um dente de porco não tem a virtude de nos salvar de perigos, nem por sua natureza, nem pela instituição de Cristo, nem pela benção da Igreja. Também é superstição quem usa brevesinhas ou figuinhas ao pescoço. Também orações são para rezar, não para amarrar ao pescoço.
Podemos trazer medalhas e cruzes bentas ou escapulários porque estes fazem bem pelo poder infinito de Deus, que se lhes comunicou pela benção da Igreja.
Alguns querem por força o sábado casar-se, porque julgam os outros dias menos felizes. Um dia assim escolhido por superstição este sim é um dia infeliz; porque a superstição lhe tira a benção de Deus.
Quando nos mandam orações para copiar nove vezes e mandar a outros, convém queimá-las.
Também é pecado de superstição, consultar sortistas, crer em dias “felizes” ou “infelizes”, em bruxarias, feitiços, mau olhar e outras tolices;
O maior pecado de superstição, que entre nós se comete, é o espiritismo. Deus proibiu na Santa Escritura: “Que ninguém pergunte aos espíritos, porque isto ofende ao Senhor.”
Os espiritistas ofendem ao Senhor. Os espiritistas também pecam contra a sua pátria, porque a lei civil proíbe o espiritismo. Os espiritistas desprezam a lei da sua pátria. Eu conheço um espiritista, que dá remédios ao povo. O homem ficou rico com esse negócio. Quando vem alguém para o consultar, dá o remédio sem perguntar pela doença; pois são os espíritos que lhe ensinam tudo! Muitas vezes eu vi estes remédios. Quando alguém tem uma ferida na perna, dá-lhe um remédio contra a dor de dente. Quando alguém tem olhos doentes, dá-lhe um remédio contra sezões. E assim por diante. Em certo lugar todos os homens que usaram dos remédios dele, morreram. Muito ignorante é quem crê nos espiritistas!…
Entre católicos instruídos não há superstição. mas entre os pagãos, protestantes e também entre os católicos, que não querem aprender, logo aparece este vício.
Enquanto brilha o sol, não aparecem os vagalumes, mas logo que a luz do sol se retira aparecem estas luzinhas errantes. O sol é a fé Católica. Onde ela brilha, não há superstição. Onde a Igreja Católica é desprezada, logo a superstição acende as suas luzinhas falsas.
Quem as segue como a guias, perde o bom caminho.
Uma lavradora veio para o vigário e disse: Oh! Senhor Vigário, as minhas vacas estão embruxadas: De manhã nunca dão leite. O Senhor não tem algum “brevezinho” contra a bruxaria? “tenho”, respondeu o Vigário rindo; e foi fazer um pacotezinho. Entregou-o à mulher, proibiu abri-lo e mandou arranhar com o pacotezinho as portas e todos os cantos da estrebaria todas as noites, ás 10 horas. A primeira noite, na hora indicada, a mulher foi e… achou a porta da estrebaria aberta. mas não fez reparo, fechou-a, levou a chave, e na manhã seguinte… as vacas davam leite. Muito contente com o efeito do seu “brevezinho” foi na outra noite com o seu pacotezinho. Outra vez a porta estava aberta. Fechou-a, ralhou bastante com a criada por este descuido e no outro dia as vacas davam leite. Na terceira noite aproximou-se dum canto mais retirado da estrebaria e viu um homem escondido. Era o irmão da criada, a qual de propósito o deixava entrar para roubar o leite. A lavradora contou isto ao Vigário. O Vigário riu-se ainda mais e abriu o pacotezinho. Continha um papelzinho onde está escrito:
Se ficasses acordado
E tivesses reparado,
Não havia
Bruxaria!
O sacrilégio é pecado contra o culto. É sacrilégio profanar uma pessoa, um lugar ou uma coisa destinada ao serviço de Deus, por exemplo mexer sem licença no cálice ou no sacrário, furtar dinheiro da igreja, bater num padre por ódio contra o sacerdócio.
Seleuco, rei da Síria, ouvia que no templo de Jerusalém
havia muito dinheiro guardado, e mandou seu primeiro ministro para roubar este dinheiro. O ministro chamava-se Heliodoro. Heliodoro foi para o templo com muitos solados pra roubar o dinheiro sagrado. O supremo sacerdote e todo o povo estavam rezando, para que Deus defendesse o seu templo. De repente Heliodoro, tremendo de medo, caiu por terra: pois apareceu um anjo, em forma de um cavaleiro, sentado num cavalo com arreios muito preciosos, lançou-se sobre Heliodoro e o cavalo com as patas dianteiras deu-lhe muitas patadas. No mesmo tempo dois anjos, em forma de moços, cheios de majestade e ricamente vestidos, açoitavam Heliodoro. Depois tudo desapareceu e Heliodoro foi levado sem sentidos para fora do templo. Devemos respeitar as pessoas, os lugares e as coisas consagradas a Deus.
Explicação do Pequeno Catecismo, Pe. Jacob Huddleston Slater, Doutor em Teologia e Filosofia Escolástica, 2ª Edição, 1924.
Última atualização do artigo em 25 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico