A Fé cristã, como já tivemos ocasião de observar, sofreu assaltos em todos os tempos; hoje, porém, mais numerosos do que no passado. Seus inimigos negavam outrora uma que outra verdade revelada por Deus; atualmente, rejeitam-nas todas em conjunto.
A hipocrisia protestante não vai tão longe, nem incute, por conseguinte, o mesmo horror que provoca a impiedade dos incrédulos. É, todavia, mais perniciosa, porque a pretexto de só encarecer a Fé em Jesus, as suas fantasias religiosas, orientadas pelo princípio de absoluta independência individual em matéria de religião fatalmente conduzem à apostasia do catolicismo, à indiferença religiosa, ao ateísmo enfim. Outro, aliás, não é o alvo a que miram os maçons-protestantes, quando enviam aos quatro ventos os seus emissários, que, consciente ou inconscientemente, porfiam na execução das ordens recebidas, não pelo amor de Deus, que isto nada lhes importa, mas, sim, por amor aos dólares ou às libras esterlinas com que lhes pagam os serviços de propaganda anti-católica as famigeradas sociedades bíblicas.
A maioria dos católicos – ainda bem! – conserva-se de modo geral firme na sua Fé. Alguns, entretanto, facilmente se deixam embair e miseramente arrastar para a heresia. Quais? Os ignorantes, os desonestos e os que de católicos só tinham o nome.
Primeiramente, os ignorantes, isto é, os que possuíam, sim, a Fé cristã, mas sem que esta raiz divina – por falta da necessária instrução religiosa – lhes tivesse imergido no âmago do coração. Haviam-se limitado a aprender apenas algumas orações e as rudimentares noções do catecismo. Ora, assim como basta qualquer ventania para derrubar a árvore cuja raiz não esteja profundamente cravada no solo, também assim havia de cair ao mais leve sopro da heresia a Fé não arraigada na alma desses míseros ignorantes; e, ruída a Fé, baquearam no protestantismo, e aí blasfemam de quanto ignoram. (1) da santa Igreja que os criou e da sua doutrina que apenas mui imperfeitamente puderam lobrigar.
Outros há e constituem a segunda categoria – que resvalaram na Reforma, não tanto por ignorância, mas sobretudo pela carência de honestos costumes. Repeliram a boa consciência, diz o apóstolo São Paulo, e, por isso, perderam a Fé. (2) Ingressaram no protestantismo esses infelizes, não porque tivessem encontrado dificuldades na doutrina católica, – que, aliás, nunca souberam direito – , mas por terem cedido ao ímpeto de paixões inomináveis, as quais, depois de os arrojar de fosso em fosso, lograram afinal de despenhá-los na heresia.
A última classe de transfugas da Fé católica, assaz numerosa, em relação às outras que vimos de apontar, é constituída pelos que, antes de abraçarem o protestantismo, eram católicos só de nome, unicamente por efeito do batismo, porém de modo nenhum pela vida virtuosa. Mudar de religião foi para esses mera questão de rótulo. Definha e morre a Fé, quando não nutrida pelas obras, que são o seu sustento; e, sendo a corrupção consequência natural da morte, necessariamente houvera de se lhes corromper a Fé, e, extinta e corrompida esta, a passagem de tais católicos para o protestantismo era coisa muito presumível.
A ignorância religiosa, a devassidão e a negligência na prática da Religião levam a tais extremos: primeiro, à perda da Fé, depois à heresia, e, finalmente, à indiferença, à incredulidade, ao ateísmo.
Nem se diga carece de fundamento o que deixamos dito, porquanto fatos constantes e manifestos aí estão para nos abonar as afirmações.
Atentai, com efeito, nos poucos católicos desta Nossa diocese que se fizeram protestantes. Que eram eles? Uns pobres néscios, que pouquíssimo ou nada sabiam de religião, e, incautos, se deixaram enganar pelas ardilosas parolices dos propagadores do erro. Homens e mulheres duma ignorância tão supina, que eram de todo incapazes de responder a qualquer pergunta do catecismo. Homens e mulheres, cuja vida cristã unicamente se reduzia a poucas orações balbuciadas sem compreensão e sem fervor, à assistência da santa Missa em algum dia de festa e ao simples acompanhamento de procissões, às vezes e por mera curiosidade. Homens e mulheres de procedimento bastante desleixado, que, apesar de serem católicos, viviam quais protestantes, sem confissão nem comunhão, menosprezando as leis de Deus e afrontando os preceitos da Igreja. Homens e mulheres lastimavelmente refratários ao necessário esforço exigido pela virtude, que não souberam subjugar aos freios da razão e da Fé as paixões tumultuantes, e tiveram por mais consentâneo à sua fraqueza ingênita, agravada por indignos compromissos, homologar a própria derrota e sujeitar-se ao cativeiro, merecido quinhão dos desfibrados morais.
E aí os tendes: por não quererem assistir à Missa, condenaram a Missa; por não quererem confessar-se, condenaram a confissão; por não quererem comungar, condenaram a comunhão; por não quererem fazer penitência, condenaram as penitências; e por não quererem obedecer à Igreja, condenaram a Igreja. Os que desceram ao protestantismo eram, como vedes, o que de pior havia em nosso grêmio. Observaram-no, com desagrado natural, os próprios reformados, os quais não puseram a mínima dúvida em declarar que, quando o Papa varre a Igreja, todo o lixo se despeja no protestantismo. Um deles, até, considerando o fato de se tornarem protestantes os piores católicos, e de se fazerem católicos os melhores protestantes, queixou-se de que lhe tomávamos a fina flor e lhe deixávamos o rebotalho.
Se quiserdes, pois, Filhos caríssimos, conservar a vossa Fé, deveis pôr o máximo empenho em aprender bem a doutrina católica, magnificamente compendiada no catecismo; deveis manter-vos em grande pureza de costumes; deveis, enfim, ser católicos praticantes, católicos às direitas, e não apenas de nome, unicamente por efeito do batismo.
Insistamos algo em cada um destes pontos.
A Propaganda Protestante e os Deveres dos Católicos, Carta pastoral, Dom Fernando Taddei da Congregação da Missão, 1929.
1) Hi autem, quaecumque ignorant, blasphemant. – Judae, 10.
2) Habens lidem et bonam conscientiam quam quidam repellentes, circa fidem naufragaverunt – 1 Tim., 1, 19.
Última atualização do artigo em 14 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico