Quais são os pecados contra o Oitavo Mandamento da Lei de Deus?

Fonte da imagem: Dominus Est

QUAIS SÃO OS PECADOS CONTRA O OITAVO MANDAMENTO?

Os pecados contra o oitavo mandamento são: levantar falso testemunho, falar mal do próximo e mentir.

I. LEVANTAR FALSO TESTEMUNHO

O oitavo mandamento nos manda respeitar a verdade e a boa reputação do próximo.

Já contei como o rei Achab com sua mulher mataram Naboth e lhe roubaram seu terreno. Agora vou contar mais como isto se deu. Achab voltou à casa muito triste porque Naboth não lhe quis vender o terreno. A mulher de Achab chamava-se Jezabel, uma mulher muito ruim.

Jezabel disse: “Sossega. Eu te darei o terreno de Naboth.” E Jezabel escreveu uma carta aos juízes do tribunal da cidade. Jezabel escreveu: “Arranjai por dinheiro uns homens, que levantem falso testemunho contra Naboth: Eles devem dizer que Naboth blasfemou contra Deus.” Eles fizeram assim. As testemunhas juraram que Naboth blasfemou e os juízes o condenaram à morte. Naboth foi apedrejado e os juízes avisaram Jezabel que Naboth estava morto.

Como já sabemos, o profeta Elias disse a Achab: “No mesmo lugar, onde os cães lamberam o sangue de Naboth, lamberão também o teu.” Também de Jezabel o profeta disse: “Os cães comerão a Jezabel no campo de Jezrahel.” Já sabemos como Achab morreu; mas Jezabel continuou a governar e ria-se da profecia de Elias.

Anos depois um novo rei, chamado Jehu, entrou na capital com seus soldados. Jezabel se vestiu seus melhores vestidos, veio à janela do sobrado do palácio e gritou alguma coisa contra Jehu.

Jehu olhou e mandou a uns criados de Jezabel que a apanhassem e lançassem na rua.

Eles por medo do novo rei apanharam Jezabel, lançaram-na na rua e o sangue dela sujou o palácio e ninguém ousou enterrá-la e os cães comeram a sua carne.

Muitos nos vale o bom conceito, em que somos tidos pelo povo. Temos o direito, de não ser julgados ladrões ou enganadores ou loucos. Para muitos esta boa reputação vale mais do que todo o dinheiro. Por isso, roubar a boa reputação de alguém pode ser maior pecado do que furtar-lhe o dinheiro.

Quem levanta um falso testemunho, furta a boa reputação do próximo. Levantar falsos testemunhos, é contar do próximo uma falta, que ele não cometeu. Os judeus disseram a Pilatos que jesus proibira pagar os impostos ao imperador. Mas Jesus não proibira tal: Os judeus contaram de jesus uma falta, que ele não cometeu. Os judeus levantaram um falso testemunho de Jesus. Pode-se dizer também: Os judeus caluniaram a Jesus. Jesus sofreu por esta calúnia, porém agora já não lhe dói mais. Mas estes judeus, se morreram naquele pecado, agora estão infelizes no inferno. Levantar falso testemunho faz mais mal ao caluniador do que ao caluniado.

Na antiga República Romana quando alguém tinha levantado falso testemunho, o algoz lhe punha com um ferro em brasa a letra K na testa. Este k queria dizer: Caluniador. Assim todos podiam ver que era um caluniador e não lhe acreditar mais. Assim será com todos os caluniadores no dia do Juízo. O sinal do seu crime estará na alma dos caluniadores e a sua vergonha será grande. Mas já agora os caluniadores no rosto têem o sinal da sua vergonha. Se alguém já levantou algum falso testemunho, os outros sabendo que ele diz coisas dos outros, que assim não são, os outros já não acreditam mais nas suas falas.

Quem vai contando tudo quanto lhe dizem próximo, também levantará muitos falsos testemunhos: pois sabe que muitas destas falas são mentiras, e que, contando tudo, contará também as calúnias. Desta maneira a maior parte das calúnias entra no mundo: Principiam pequenas, mas cada um exagera um pouco e assim ficam grandes.

Estas falas são como as avalanches. As montanhas estão cheias de neve. Solta-se muito no alto um pouco de neve do tamanho dum punho e vai deslizando para baixo. Mas no caminho a outra neve vai-se deslizando para baixo. Mas no caminho a outra neve vai-se pegando neste pedacinho. Depois de um minuto é do tamanho dum saco de milho. Depois de cinco minutos é tão grande como um boi, depois como uma casa e vai crescendo e destruindo tudo. Eu já vi as árvores dum mato quebradas como fósforos e as casas esmagadas por uma avalanche dessas.

Assim anda a calúnia: primeiro é pequena. Corre de boca em boca; cada um ajunta um pouco, e assim esmaga a honra do próximo e a paz entre as famílias.

No ano 1800, mais ou menos, vivia na Áustria uma vigário bom e devoto. Porém uns cinco homens tinham muito ódio dele. O padre tinha sido obrigado a negar-lhes qualquer coisa que queriam.

Resolveram vingar-se e pagaram uma pessoa sem consciência e sem honra pra levantar um falso do pobre padre. O bispo ouviu da acusação e foi obrigado a chamar o vigário ao seu tribunal.

O tribunal reconheceu a inocência do padre e este voltou à sua paróquia, mas nunca mais teve saúde. A tristeza lhe causou esta doença nervosa, difícil de curar, com que a gente quase não pode mais comer, enfraquece cada vez mais e enfim morre.

Quando os caluniadores viam isto, ficaram com medo dos castigos de Deus e arrependidos do seu crime foram ter com o vigário. Prometeram dizer a todos que tinham caluniado o padre e assim restituir-lhe a boa reputação que tinham roubado.

O padre disse que era impossível endireitar tudo, mas eles teimaram que o haviam de fazer e perguntaram o que o padre queria mais deles.

“Pois bem”, disse o pobre doente, “levai então este colchão cheio de penas para a torre da igreja, abri-o e despejai as penas.”

Eles pensavam que o padre não estava mais com o seu juízo, mas enfim cederam, levaram o colchão, despejaram as penas e voltaram.

“O que foi das penas?”, perguntou o vigário.

“O vento as levou para todos os lados”, responderam eles.

“Era isto, que eu esperava”, disse o padre, “ide agora, buscai as penas todas e metei-as de novo no colchão.”

“É impossível”, responderam.

Então o vigário respondeu: “Da mesma forma, meus queridos filhos, é impossível trazer-me de volta a minha boa reputação. As calúnias já se espalharam tão longe, que é impossível achar todos aqueles, que as ouviram, e convencê-los do contrário.”

Pouco depois o vigário morreu, vítima da calúnia.

II. FALAR E PENSAR MAL DO PRÓXIMO.

Falar mal do próximo é pecado, quando falamos sem necessidade de defeitos que não são notórios.

Jesus estava ensinando no templo de Jerusalém e muito povo estava ouvindo. De repente vieram alguns fariseus e chefes de sacerdotes judeus trazendo uma mulher infeliz. Eles disseram a Jesus: “Senhor, nós apanhamos esta mulher fazendo uma grande pecado. A lei de Moisés manda matar a pedradas aqueles que fazem este pecado. O que dizeis Vós?” Os fariseus contaram daquela mulher, em presença de todo o povo, um pecado, que não era conhecido. Ela na verdade tinha feito o pecado, mas nem por isso o podiam contar a todo o povo. Os fariseus falavam mal daquela mulher. Os fariseus pecaram contra o oitavo mandamento.

Jesus de primeiro não respondeu nada. Jesus viu na alma destes fariseus o mesmo pecado. Por isso, Jesus virou-lhes as costas e escreveu no chão. De certo Jesus escreveu o pecado destes homens falso.

Mas os fariseus fizeram questão, que Jesus respondesse.

Então Jesus disse: “Aquele entre vós, que não tem pecado, lance a primeira pedra.”

E Jesus outra vez escrevia no chão.

Então os fariseus ficaram com medo de que Jesus dissesse os pecados deles ao povo. Primeiro os mais velhos, que eram mais prudentes, retiraram-se às escondidas. Depois também os outros, e Jesus ficou só no meio do povo com a aquela mulher. A mulher estava chorando de arrependimento e com medo de que agora Jesus lhe lançasse a primeira pedra: pois Jesus não tinha pecado.

Porém Jesus disse-lhe: “Mulher, onde estão aqueles que te acusaram? Ninguém te condenou?” E a mulher respondeu: “Ninguém, Senhor.” E Jesus disse: “Eu também não te condenarei. Vai e não peques mais.”

Quando temos vontade de falar mal dos outros, convém lembrar-nos desta história. Aquele que não tem pecado lance a primeira pedra. Nós todos temos pecados. Não convém censurar os pecados dos outros, quando nós também temos os nossos.

Queremos que Jesus perdoe os nossos pecados. Então não sejamos duros contra os pecados dos outros.

A língua é um pequeno pedacinho de carne, mas que faz grande mal.

Muitas pessoas por causa duma fala vivem anos inteiros no ódio e até morrem neste pecado mortal. Podemos ser obrigados a contar um pecado de alguém ao pai deles ou ao vigário.

Isso é para o bem daquele, que fez o pecado, para ele não o fazer mais. Mas a outros não convém falar das faltas do próximo.

Quem roubou a honra do próximo deve restituí-la, como quem roubou dinheiro. Deve dizer que não foi verdade o que contou do próximo.

As amigas de Santa Mônica muitas vezes falavam mal das amigas ausentes. Mas ela sempre as defendia, sempre explicava tudo pelo lado melhor e falava das boas qualidades delas.

Supor alguma falta no próximo, sem motivo sério, é pecado contra o oitavo mandamento. Este pecado chama-se juízo temerário.

Um navio, em que estava São Paulo, naufragou, os que estavam no navio salvaram-se para uma ilha.

Ali acenderam uma fogueira. São Paulo ajudava também e pegou num feixe de lenha. Mas do feixe saiu uma cobra venenosa e o mordeu no dedo com tanta força, que ficou suspensa na mão, até que São Paulo a sacudiu no fogo. Então os outros pensavam que este homem de certo era um assassino, porque uma cobra lhe mordia na mão.

Mas, por um milagre de Deus a dentada da cobra não fez nenhum mal a São Paulo.

Estes homens não tinham motivo sério para supor que São Paulo era assassino. Porém o supunham. Estes homens pecavam por juízo temerário.

A nossa inclinação má nos arrasta a pensar mal do próximo. Convém corrigir esta inclinação e esforçar-nos um pouco por pensar bem do próximo.

Então chegaremos a pensar a pura verdade.

III. MENTIR

Mentir é pecado contra o oitavo mandamento.

Mentir é dizer que alguma coisa é verdade, sabendo bem que não é verdade, e isto para enganar o próximo.

A mentira, se não prejudica a ninguém, não é pecado mortal. Só por mentiras ninguém vai ao inferno. Porém o que Deus pensa da mentira vê-se na Escritura sagrada. A Santa Escritura conta o seguinte:

Ananias e sua mulher Saphira tinham vendido um terreno seu. Ananias foi ter com os apóstolos, deu-lhes uma parte do dinheiro para a Igreja e disse: Isto é tudo o que recebemos pelo terreno.

Ananias disse que era tudo. Mas não era tudo. Ananias disse isso para enganar a São Pedro. Ananias disse que era verdade, sabendo que não era verdade, para enganar o próximo. Era uma mentira.

E São Pedro perguntou: “Isto é tudo?” E Ananias respondeu: “Sim, Senhor, é tudo.” Então São Pedro disse: “Ananias, porque o demônio tentou o teu coração para mentir ao Espírito Santo! Podias ficar com o terreno e depois de o vender, preço era teu. Não mentiste aos homens, mas a Deus.”

E no mesmo momento Ananias caiu morto, e levaram-no para enterrar. Deus castigou uma mentira com a morte. Deus não quer, que preguemos mentira. Três horas depois veio Saphira e São Pedro perguntou: “Este foi todo o dinheiro, que recebestes pelo terreno?” E ela respondeu: “Sim, Senhor, foi tudo.” E São Pedro disse: “Eis à porta as pegadas daqueles, que enterraram teu marido e te levarão também a ti.” E também ela caiu e morreu. Deus castigou mais uma mentira com a morte. O que será no purgatório daqueles que beberam a mentira como a água.

Deus é a Verdade: não pode enganar nem mentir.

Nós somos as imagens de Deus e devemos tomar esta pura Verdade para nosso exemplo.

É uma salvação para a sociedade, que há pessoas que nunca mentem.

Entre as estrelas, que se vêem no norte, há uma chamada Estrela Polar. As outras estrelas movem-se muito: uma hora estão num lugar, outra hora noutro lugar. Mas a Estrela Polar está sempre forme e certa no mesmo ponto. Quem se perdeu de noite no mato, sempre se pode orientar pela Estrela Polar: pois a Estrela Polar não engana. Se num navio, em alto mar, se estragou a bússola, não se perde a orientação, pois a Estrela Polar está firme no norte: A estrela Polar não engana.

Como as estrelas no firmamento, assim os homens giram entre verdades e mentiras: Um diz uma coisa, outro diz o contrário. Não sabemos em que acreditar. No meio destas falas incertas é uma sorte conhecer uma Estrela Polar, um homem que no meio das mentiras esteja firme na verdade, uma Estrela Polar que não engane e sempre dê orientação certa.

Não é fácil tornar-se uma Estrela Polar assim. Pois para isso é preciso dizer sempre a verdade, também quando é muito custoso.

É certo que amanhã o sol nasce. todos contam com isso. Tão certo é também que o que tal homem diz é verdade. Contamos com isso, como contamos com o nascer do sol.

Assim devemos estar firmes e dizer sempre a verdade, ainda que isso nos dê incômodo. A mentira sempre é pecado. A mentira nunca é necessária. A mentira faz mal a quem a diz, porque o torna mentiroso, e porque o faz perder a confiança dos outros.

Um mentiroso nunca é acreditado, mesmo quando diz a verdade. Um vez alguém me disse: seria pena se não houvesse mais guerra: pois que só na guerra a gente pode tornar-se corajoso e exercer sua coragem. Isso me parece muito errado. A gente pode por em prática sua coragem sem matar ninguém. Um homem, que sempre diz a verdade, exerce a sua coragem todos os dias.

O Guilherme tomou a resolução de sempre dizer a verdade. Um dia falam mal de religião e perguntam-lhe, se não pensa assim também. Mas o Guilherme diz a verdade e declara que é católico e crê em tudo o que Nosso Senhor revelou. Riem-se dele, mas o Guilherme exerce sua coragem. Outro dia papai o manda comprar carne, batatas e bananas. Traz a carne e as batatas, esquece as bananas. Papai pergunta: onde estão as bananas? Guilherme podia dizer que não havia, mas Guilherme sempre diz a verdade e papai ralha do seu descuido; mas Guilherme exerceu sua coragem, e depois de ralhar, papai mesmo pensa: “Graças a Deus, meu Guilherme não mente; neste rapaz posso ter confiança.”

Quem sempre diz a verdade, torna-se um homem corajoso, sem nunca tocar mesmo numa espingarda nem matar gente. O imperador napoleão conquistou o Tyrol, um país, em que quase todos são bons católicos. Napoleão mandou matar todos que fossem encontrados com arma na mão.

O hoteleiro do Rio Mar estava com as armas na mão, para defender a pátria. Os soldados de napoleão encontraram-no e o prenderam. No outro dia havia de ser condenado à morte. Mas a mulher do hoteleiro, com seus pequenos filhos, foi para o general de Napoleão e pediu, que não matasse o seu marido. O general teve pena dela, mas também tinha medo do imperador e disse: “Pois bem, eu não o condenarei. Eu perguntarei se sabia que era proibido ter armas na mão. Ele diga que não sabia, e tudo está bem.”

A mulher, muito contente, foi para o marido e disse: “O general não te condenará; só deves dizer que não sabias da proibição.” as o hoteleiro respondeu: “Eu mentir?! Isso não! Mentir é pecado! Antes morrer que mentir!” E o hoteleiro disse a verdade, foi condenado à morte e é tão grande herói como aqueles que morreram na defesa da pátria.

Quem quer dizer sempre a verdade, precisa de coragem.

Um forma de mentira bem feia é a hipocrisia. Hipocrisia é quem manifesta exteriormente uma piedade ou virtude, que não tem. Se alguém diz que não tem pecado nenhum, é hipocrisia! Se alguém diz que é católico, sem o ser, é hipócrita. Jesus diz que os hipócritas são como sepulcros branqueados, que por fora são bem bonitos, mas por dentro cheios de podridão.

Também não nos devemos enganar a nós mesmos, julgando-nos melhores do que de fato somos.

Quase todos fazem este pecado de orgulho.

Explicação do Pequeno Catecismo, Pe. Jacob Huddleston Slater, Doutor em Teologia e Filosofia Escolástica, 2ª Edição, 1924.

Última atualização do artigo em 26 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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