Quarto Domingo da Quaresma – Pe. Júlio Maria, S.D.N.

Quarto Domingo da Quaresma – (Jo. 6, 1-15)

  1. Naquele tempo, passou Jesus à outra banda do mar da Galileia, que é o lago de Tiberíades.
  2. E seguia-o uma grande multidão de povo, porque via os milagres que fazia aos enfermos.
  3. Subiu então Jesus a um monte e sentou-se ali com os seus discípulos.
  4. Ora, estava próxima a Páscoa, dia festivo dos judeus.
  5. Levantando, pois, os olhos e vendo que uma grande multidão havia fluído para ele, disse Jesus a Felipe: Onde compraremos pão para dar de comer a essa gente?
  6. Mas isto dizia Ele para o experimentar, porque bem sabia o que havia de fazer.
  7. Respondeu-lhe Felipe: Duzentos dinheiros de pão não serão suficientes para que cada um receba um bocadinho.
  8. Um dos seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, disse-Lhe:
  9. Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes; mas que é isto para tanta gente?
  10. Então disse Jesus: Mandai sentar o povo. Ora, havia muita relva naquele sítio. E sentaram-se os homens, em número de uns cinco mil.
  11. Tomou então Jesus os pães, e, tendo dado graças, distribuiu-os aos que estavam sentados; e igualmente os peixes, quanto queriam.
  12. E tanto que se fartaram, disse Jesus aos seus discípulos: Recolhei as sobras, para que não se percam.
  13. E eles ajuntaram-nas e encheram doze cestos dos bocados que haviam restado dos cinco pães de cevada, depois que todos comeram.
  14. E todo o povo, vendo o milagre que fizera, dizia: Este é verdadeiramente o profeta que deve vir ao mundo.
  15. Jesus, porém, sabendo que o queriam levar consigo, para o fazerem rei, fugiu novamente para o monte, sozinho.

A SAGRADA EUCARISTIA

O milagre da multiplicação dos pães simbolizava e preparava a Sagrada eucaristia.

É o próprio Jesus Cristo quem o ensina, pois é no dia seguinte ao deste milagre e apoiando-se sobre ele, que anuncia a instituição deste sublime Sacramento.

Sem entrar nos pormenores da Sagrada Eucaristia, notemos como ela é ao mesmo tempo:

  1. UM DOGMA, que devemos crer.
  2. UM SACRAMENTO, que se deve receber.
  3. UM PRECEITO que se deve praticar.

I. O DOGMA EUCARÍSTICO

O dogma eucarístico é o mistério da presença, verdadeira, real e substancial de Jesus Cristo na Eucaristia, sob as aparências da hóstia e do vinho.

Após a consagração, que é a realização deste milagre, não há mais sobre o altar nem pão, nem vinho, mas sim o corpo, sangue,a alma e a divindade de Jesus Cristo, e por conseguinte: o Cristo inteiro.

Dois pontos a assinalar na presença eucarística de Jesus Cristo:

a) É a presença real de Jesus Cristo. Ele está na eucaristia, verdadeiramente presente, e não por figura ou símbolo; realmente, e não por causa da nossa fé e imaginação, como pretendem os protestantes.

Substancialmente, na sua própria substância, e não como presença meramente virtual, isto é, pelos efeitos que ela produz.

b) A presença total de Cristo. É o Cristo inteiro, seu corpo e seu sangue, este mesmo corpo que nasceu da Virgem Maria, e está sentado à mão direita do pai, assim como a sua alma e a sua divindade.

Este dogma tem o seu fundamento na Sagrada Escritura e na Tradição Apostólica.

Eu sou o pão vivo que baixou do céu, diz Nosso Senhor; se alguém comer deste pão, viverá eternamente, e o pão que eu darei para a vida do mundo é minha carne. (Jo. 6, 52).

Na verdade, eu vo-lo digo, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. (Jo. 6, 53).

Minha carne é verdadeiramente comida, e o meu sangue verdadeira bebida. (Jo. 6, 53).

É claro, é positivo, e não há lugar para se suspeitar que se trate de qualquer figura simbólica ou equívoca.

Jesus repete até cinco vezes que é preciso comer sua carne e beber seu sangue.

Estas palavras de Nosso Senhor estão longe do pedaço de pão que os protestantes comem em sua ceia, que não passa de uma simples merenda.

II. O SACRAMENTO EUCARÍSTICO

Mas não é somente um dogma, é também um sacramento.

Não basta crer que Jesus está na Eucaristia, como não basta crer no pão para alimentar-se; é preciso comê-lo.

Assim o cristão deve comer a Sagrada Eucaristia.

Jesus Cristo disse aos Apóstolos: Tomai e comei…

Se não comerdes a carne do Filho do Homem…

A minha carne é verdadeiramente comida…

Ora, a comida é feita para se comer. A Eucaristia é o alimento de nossa alma; deve ser comida, para poder alimentar a alma.

Na Eucaristia o sinal sensível são as aparências de pão e de vinho. Sendo a substância do pão e do vinho mudada, em virtude da transubstanciação, no corpo e na divindade de Jesus Cristo, no Cristo inteiro, Jesus Cristo é o produtor da graça que a eucaristia comunica. É um Sacramento instituído por Jesus Cristo, na última ceia, quando tomou em suas mãos o pão, benzeu-o, partiu-o, distribuiu-o a seus discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é o meu corpo que será entregue por vós (no dia seguinte, na cruz).

Para que o corpo de Jesus Cristo seja o alimento de nossa alma, devemos, pois, recebê-lo na Sagrada Comunhão.

III. CONCLUSÃO

Além de um dogma e de um sacramento, a Eucaristia é também um preceito, isto é, a Sagrada Comunhão é preceituada pelo próprio Jesus Cristo e pela Igreja que determina o máximo e o mínimo da Comunhão.

O máximo que se pode comungar é uma vez por dia.

O mínimo que se deve comungar, é uma vez por ano, no tempo da Páscoa.

Para os adultos a Eucaristia é necessária para a salvação, por necessidade de preceito divino e eclesiástico.

Estando Jesus Cristo inteiro sob cada espécie, tanto do pão como do vinho, para os simples fiéis basta recebê-lo sob uma espécie. De fato, Jesus Cristo disse: Se alguém comer deste pão viverá eternamente, (Jo. 6, 58), e os Atos dos Apóstolos designam a comunhão pela simples expressão: fração do pão. (Atos, 2, 42; Luc. 24, 30).

Obedeçamos a este preceito divino, fazendo, pelo menos, o mínimo exigido: A Comunhão da Páscoa.

Comentário Dogmático, Padre Júlio Maria, S.D.N., 1958.

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