IV Domingo depois de Pentecostes (Luc. 5, 1-11)
- Naquele tempo, estava Jesus no lago de Genezaré, e a multidão do povo se atropelava para ouvir a palavra de Deus.
- E viu duas barcas que estacionavam à borda do lago: e os pescadores tinham saído e lavavam as redes.
- E entrando numa destas barcas, que era a de Simão, rogou-lhe que se afastasse um pouco da terra. E estando sentado, ensinava o povo da barca.
- E quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te mais ao largo, e lançai as vossas redes para pescar.
- E respondendo, Simão disse-lhe: Mestre, tendo trabalhado toda a noite, e não apanhamos nada: porém, sob a tua palavra lançarei a rede.
- E tendo feito isto, apanharam grande quantidade de peixes, e a sua rede se rompia.
- E fizeram sinal aos companheiros que estavam na outra barca, para que os viessem ajudar. E vieram e encheram tanto ambas as barcas, que quase se afundavam.
- E Simão Pedro, vendo isto, lançou-se aos pés de jesus dizendo: Retira-te de mim, Senhor, pois eu sou um homem pecador.
- Porque tanto ele como todos os que se encontravam com ele focaram possuídos de espanto, por causa da pesca de peixes que tinham feito:
- E o mesmo tinha acontecido a Tiago e a João, filho de Zebedeu, que eram companheiros de Simão.
- E trazidos as barcas para a terra, deixando tudo, seguiram-no.
PAPADO E EPISCOPADO
O Evangelho diz que havia duas barcas que estavam à margem do lago, uma pertencendo a Pedro, a outra a Tiago e João.
É um fato que escapa, às vezes, às nossas reflexões, mas que tem a sua importância, a sua significação misteriosa.
A barca de Pedro é o papado; ela pertence ao Chefe dos Apóstolos, é nela que Jesus entra e donde Ele ensina, de modo que quem estiver com o Papa, está com Jesus Cristo.
A outra barca é a dos Apóstolos ou do Episcopado; quem entra nela é colaborador de Pedro, ou do Papa, na pesca das almas.
Façamos, pois esta dupla aplicação:
- A BARCA DE PEDRO é a imagem do Papado.
- A BARCA DOS APÓSTOLOS é a imagem do episcopado.
I. A BARCA DE SÃO PEDRO: O PAPADO
Jesus Cristo é e permanece para sempre o Chefe da Igreja; porém, subindo ao céu, Ele quis ter aqui na terra um delegado, um representante, que fosse o chefe visível de todos os fiéis, dos quais Ele é o Chefe invisível.
É a lei básica da unidade da Igreja.
Jesus escolheu Pedro entre os doze Apóstolos: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja (Mat. 16, 18).
Uma outra vez Jesus disse: Confirma os teus irmãos. (Luc. 22, 32).
E ainda: Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas. (Jo. 21, 15-17).
A exegese, de acordo com a Tradição, nos diz que os cordeiros são os chefes, os pastores, e que as ovelhas são os fiéis.
É como se Jesus Cristo dissesse: Tu és Pastor Supremo dos Bispos e dos Padres.
Resulta disso que a Igreja é exclusivamente construída sobre Pedro, ao ponto que aquele que não está com Pedro não pertence à Igreja de Jesus Cristo.
Resulta ainda disso que Pedro não recebeu uma simples primazia de honra sobre os demais Apóstolos, mas de jurisdição: ele fica encarregado de conduzir aqueles que são condutores dos outros.
E tudo isto é tão íntimo e inseparavelmente unido nas palavras do divino mestre, que se São Pedro não tivesse autoridade sobre os outros Apóstolos, estes não a teriam sobre os fiéis.
Mas Pedro não é imortal, ele deve morrer; é pois, necessário que tenha sucessores, que constituem a sua obra, e sejam, por sua vez, os representantes de Jesus Cristo, na terra.
Devendo confirmar os seus irmãos, é preciso que Pedro não possa errar, ou seja infalível, ele e todos os seus sucessores.
II. A BARCA DOS APÓSTOLOS: O EPISCOPADO
A primazia de Pedro não destrói a existência nem a autoridade do Colégio Apostólico.
Ficara este submisso a Pedro, porém, junto com ele, fica encarregado de conduzir e de governar a Igreja.
Por isso, os Bispos, sucessores dos apóstolos, formam, junto com o Papa, a Igreja docente.
Ninguém pode ser Bispo sem o Papa; e o Papa não pode deixar de nomear Bispos.
Eis que eu estou convosco, todos os dias, até à consumação dos séculos. (Mat. 28, 18), disse o Salvador aos Apóstolos. Deve, pois, estar com eles à condição de eles estarem com o Papa, como os Apóstolos estavam com Pedro.
Além de sua colaboração no ensino e no governo da Igreja universal, os Bispos estão geralmente encarregados, cada um, de uma diocese, isto é: de um território determinado no domínio da Igreja.
O Bispo é enviado à diocese pelo Papa e deve governar a diocese sob a autoridade do Papa.
Esta submissão ao Papa não só não diminui a autoridade do Bispo, mas eleva-o e lhe dá uma consagração divina; pois Jesus Cristo quer que assim seja, e onde está Pedro, ali está a autoridade da Igreja.
Sob a autoridade, e como seus auxiliares, na diocese, há os sacerdotes, os padres, que completam a harmoniosa hierarquia da Igreja.
Os Padres são os sucessores dos 72 discípulos, escolhidos pelo Salvador, para anunciar o Evangelho ao povo.
Os poderes dos Padres, como os dos Bispos, como os do Papa, vêm diretamente de Jesus Cristo, mas eles se exercem sob a dependência hierárquica estabelecida por ele mesmo.
Os Bispos exercem os seus poderes sob a direção do Papa; os Padres exercem-nos sob a direção dos Bispos.
III. CONCLUSÃO
Tal é a bela e harmoniosa hierarquia estabelecida por Jesus Cristo.
O Papa é o princípio de toda autoridade.
O Bispo é o como o verbo do Papa, em sua diocese.
O Padre, unido ao Papa e ao Bispo, é como o santificador das almas, em sua paróquia.
É pelo Padre que os fiéis se unem ao Bispo e ao Papa.
Onde há um grupo de almas há uma paróquia.
Onde há um grupo de paróquias há um Bispo.
A reunião das dioceses forma o reino do Papa.
Todos os Bispos estão representados pelo Papa.
Eis a unidade perfeita que só existe e só pode existir na Igreja divina de Jesus Cristo.
As seitas religiosas procuram imitar esta organização divina; nunca, porém, souberam reproduzi-la, porque o divino não se reproduz.
Amor, pois, e submissão à Igreja divina de Jesus Cristo e à hierarquia por Ele estabelecida.
É a barca de Pedro, a única que Deus sustenta e guia, e por isso a única donde fala Jesus Cristo, e pela qual Ele leva as almas para o céu.
Comentário Dogmático, Padre Júlio Maria, S.D.N., 1958.
Última atualização do artigo em 15 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico