Que é a Confissão?
A confissão é um sacramento instituído por Nosso Senhor para perdoar os pecados cometidos depois do batismo. Jesus Cristo instituiu este sacramento quando disse aos apóstolos: “Recebei o Espírito Santo, a quem perdoardes os pecados, ser-lhe-ão perdoados, e a quem os retiverdes, ser-lhe-ão retidos”.
Esta é a obra-prima da misericórdia de Deus. Que seria do pecador sem esta tábua da salvação? Depois do primeiro pecado mortal, poderia passar sua vida nas lágrimas da tristeza e do desespero, e após uma vida tão infeliz, o inferno seria sua morada, a não ser que alcançasse o perdão por meio da contrição perfeita, o que é muito mais difícil. Mas Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva, e por isso preparou, com seu próprio sangue, um banho em que a alma pode lavar-se da mancha do pecado, recobrar a vida espiritual, o título de filha de Deus e herdeira do céu. Mas tudo isso só por meio de uma confissão boa.
Confissões nulas e sacrílegas
Infelizmente são numerosas as confissões nulas e sacrílegas que afligem o coração de Jesus. “Padre, dizia Santa Tereza, cada vez que se lhe apresentar a oportunidade, padre, pregue contra as confissões mal feitas. Nosso Senhor me fez conhecer quão grande é o número dos cristãos que se confessam mal. Destes o inferno está cheio”. Que infelicidade, achar a morte na fonte da vida, mudar o remédio em veneno! Mil vezes melhor seria não confessar-se. Quem não se confessa condena-se, mas ai de quem se confessa mal! Condena-se duas vezes!
Donde procedem as confissões mal feitas?
Principalmente de três faltas: 1º Falta de contrição verdadeira. A contrição é o arrependimento, é a verdadeira dor e sincera detestação dos pecados cometidos, com firme propósito de nunca mais pecar. Esta dor não consiste em palavras, mas na tristeza do coração. Quem peca é o coração, logo é do coração que deve proceder a contrição. O arrependimento deve estender-se ao menos a todos os pecados mortais. Se, entre os pecados mortais cometidos, houvesse um de que não tivéssemos contrição, nenhum deles ficaria perdoado. A contrição do pecado deve ser maior do que qualquer outra tristeza, porque, de fato, o pecado é o maior dos males. Isso não quer dizer que essa dor deva ser necessariamente sensível, como seria a dor da perda de nossos pais ou mesmo dos nossos bens, mas que devemos considerar o pecado como a maior de todas as desgraças. A contrição deve, pois, ser: interior, universal e sobrenatural. Há uma quarta qualidade que merece toda a atenção. A contrição deve ser sobrenatural. Há uma contrição natural produzida por motivos naturais e humanos, como a ruína da saúde, a perda da reputação, etc. Esta de nada serve. Devemos arrepender-nos porque o pecado ofende a Deus, Pai infinitamente bom, porque é uma audaciosa revolta contra Deus, uma negra ingratidão, um ultrajante desprezo, ou porque nos torna merecedores das penas do purgatório ou do inferno. Devemos pedir esta contrição ao Espírito Santo, porque é obra de sua graça, e excitá-la pela consideração da bondade infinita de Deus que temos ofendido, da paixão e morte de Jesus Cristo, que morreu por nossos pecados; do céu que perdemos, do inferno que merecemos por nossas iniquidades. A consideração das penas do inferno será particularmente útil para nos excitarmos à contrição imperfeita ou atrição. Se a contemplação do fogo do inferno, de uma eternidade de suplícios, da companhia dos demônios e dos condenados não nos leva pelo menos à atrição, seria um sinal de falta de fé.
2º Falta de propósito firme. O propósito consiste na vontade firme de nunca mais pecar e de empregar todos os meios necessários para evitar o pecado. Por falta deste propósito firme, há muitas confissões nulas e sacrílegas. Não podemos ter certeza de não mais pecar, mas podemos e devemos ter intenção sincera de não mais pecar, com a graça de Deus, graça que nunca falta a quem a implora.
Não esqueçamos que este firme propósito inclui a intenção de evitar a ocasião do pecado, como tal pessoa, tal lugar, tal divertimento que ordinariamente são para nós causa e ensejo de pecar. Antes da confissão, perguntemo-nos se realmente estamos dispostos a evitar o pecado e suas ocasiões, e a empregar para isso os devidos meios.
3º Falta de integridade. Mas a maior parte das confissões sacrílegas procede da falta voluntária de integridade.
Quantas pessoas ocultam pecado mortal na confissão. Pobres almas!
Quanto mais se confessam mais se afundam no pecado e mais se condenam ao inferno, É a vergonha do pecado cometido que fecha o coração e a boca. Maldita vergonha, que precipita tantas almas na perdição eterna!
Pensemos bem! Se não acusamos o pecado agora, será necessário acusá-lo mais tarde. Mas haverá esse mais tarde? Não podemos morrer a cada instante? E mais tarde, depois de uma multidão de sacrilégios, será mais fácil que agora? Pensemos ainda. O pecado que encobrimos na confissão ficará encoberto para sempre? Não! Será publicado no dia do juízo pela boca de Jesus Cristo, perante nossos pais, parentes amigos, em presença de todos os homens. Quanto pior será então nossa confusão! E depois desta grande vergonha será forçoso ouvir a sentença de condenação: Vai, maldito, para o fogo eterno! Não será mil vezes preferível declarar o pecado baixinho ao ouvido do confessor, que não nos estimará menos pelo contrário, ficará sensibilizado com nossa sinceridade e nossa confiança e em nome de Deus nos dará o perdão e a paz da consciência?
“Senhor Padre, dizia um grande pecador a São Francisco de Sales, depois de lhe acusar um pecado muito vergonhoso, que pensa agora de mim vossa Revma.?” – “Penso, respondeu o santo, que és um anjo”.
Se o acanhamento for tal que não nos assista a coragem de declarar o pecado, digamos ao nosso confessor: “meu pai, tende piedade de minha alma, cometi um pecado que não tenho ânimo de declarar, ajudai-me”. O confessor terá deveras compaixão de nós, nos animará, nos interrogará e muitas vezes bastará responder-lhe, sim, para termos perdão e alegria.
Do Livro: O Pequeno Missionário, Pe Guilherme Vaessen, 1953.