QUE FAZ DEUS AO BEM E AO MAL, QUE OS HOMENS FAZEM?
Deus recompensa o bem e castiga o mal.
I. DEUS RECOMPENSA O BEM
Jesus tinha curado muitos doentes. Em todo o país falavam n’Ele e muita gente de perto e de longe procurava o Senhor. E Jesus vendo toda aquela gente, subiu a uma montanha, e os apóstolos estavam em roda d’Ele e o povo estava a seus pés.
Então Jesus principiou a falar e chamou bem-aventurados aqueles que fazem o bem e prometeu uma recompensa, um prêmio por todo o bem, que os homens fazem. Jesus prometeu aos manos, que possuiriam a terra, isto é, que, por causa da sua bondade, os homens gostariam deles, os tratariam bem e lhes fariam a vontade. Os mansos fazem o bem.
Deus recompensa este bem já aqui na terra.
Mas o céu é a maior recompensa, que Deus dá àqueles que fazem o bem.
Vou dizer as mesmas palavras, com que Nosso Senhor promete uma recompensa àqueles que fazem o bem.
Jesus disse assim:
“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a terra.
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.
Bem-aventurados os que têem fome e sêde de justiça; porque eles serão fartos.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.
Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça; porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados sois, quando vos perseguirem; pois a vossa recompensa, o vosso prêmio é grande no céu”.
Assim Jesus promete um prêmio a todos os que fazem o bem.
Os pobres de espírito fazem o bem: não amam desordenadamente o dinheiro. Deus recompensa este bem. Deus lhes dá o céu.
Aqueles que têem fome e sêde de justiça, fazem o bem: desejam muito praticar a virtude. Deus recompensa este bem: Deus os ajuda com a sua graça a ficar virtuosos e santos.
Os misericordiosos fazem o bem: têem pena dos pobre e necessitados e perdoam aos inimigos.
Deus recompensa este bem: Deus também tem pena deles nas suas necessidades e lhes perdoa os pecados.
Os puros de coração fazem o bem: guardam a santa virtude da castidade. Deus recompensa este bem: aqui na terra compreendem melhor a doutrina de Deus e no céu verão a Deus.
Aqueles que sofrem perseguição por causa da justiça fazem o bem: estão firmes na sua religião e no seu dever, mesmo quando são perseguidos por isso. Deus recompensa este bem: O seu prêmio é grande no céu. Jesus disse: “Mesmo por um copo de água, dado a um pobre, tereis uma recompensa no céu”.
Deus recompensa o bem.
Deus é justo, isto é, Deus dá a cada um o que merece.
Deus recompensa os bons e castiga os maus.
Quando um menino vai sempre À doutrina e aprende bem, às vezes o padre lhe dá um santinho. Este menino fez o bem. O padre é justo: o padre recompensa o bem.
Deus é infinitamente justo. Quando alguém observa a lei de Deus, Deus lhe dá um prêmio.
Deus não distingue sempre aos bons muito dinheiro, ou outros cômodos nesta terra, porque sabe que tudo isto não faz a nossa felicidade e acaba com a morte.
Se o dinheiro tivesse tanto valor, como muitos pensam, Jesus o teria dado à sua Mãe. Contudo, Maria foi pobre.
Porém já aqui neste mundo Deus dá prêmios aos bons: quase sempre, aqueles que vivem sem pecado mortal se sentem mais felizes do que aqueles que ofendem gravemente a Deus.
Este é o prêmio da boa consciência.
Convém aproveitar toda a ocasião para fazer bem. O que damos aos pobres, À Igreja, `escola paroquial, a jornais católicos, nada disto está perdido. Deus nada esquece e pagará já aqui na terra cem vezes mais, não contando a recompensa no céu. Toda a obra boa torna o nosso caráter mais nobre, a nossa alma mais virtuosa e o nosso coração mais alegre.
O João tem três laranjas, bem docezinhas, Já tirou a casca de uma e está comendo com bastante gosto.
VÊ um rapaz pobre, que não tem nenhuma laranja e que olha para ele com muita vontade de comer também um pedacinho. Mas o João não dá nada. Depois disto porém o João já não acha tanto gosto na laranja; a consciência lhe estraga o prazer. Um macaco come com o mesmo prazer, quer outros passem fome quer não. Mas o nosso coração é diferente do coração de um macaco. O nosso coração sente, quando nós temos bastante e outros passam fome.
Só é preciso cultivar com cuidado esta nobre inclinação, para não ser sufocada por inclinação de macaco, que quer comer só, sem se importar dos outros.
Se o João dá das suas laranjas ao pobre, seu gozo é duplo, quando vê o pobre satisfeito por sua obra boa.
Devemos tratar os pobres com a maior delicadeza: pois são os amigos prediletos de Nosso Senhor. Eles têem o mesmo direito de comer e de se vestir como nós. Deus nos entregou a parte deles, para lhes darmos livremente essa parte e assim aumentarmos o nosso mérito. Não somos mais do que eles. Não podemos tratá-los com desprezo.
O Ramiro vai bem vestido à missa. Seu pai pode. Agora o Ramiro vê um rapaz pobre de pés descalços e com uma calça remendada e de tão diversas cores que parece o mapa do mundo. O Ramiro mostra o pobrezinho aos outros e faz bastante escarneio. Apesar de seus vestidos bons, o Ramiro não é um rapaz civilizado; pois não tem delicadeza para com os pobres. Um macaco pode vestir-se de seda, mas nunca aprenderá boas maneiras. o Ramiro, apesar de seus bons vestidos, mostra inclinações de macaco.
São Martinho era soldado. Um dia viajava no seu cavalo e encontrou um pobre velho.
Fazia muito frio e o velho quase não tinha roupa. São Martino não tinha dinheiro; tinha só uma capa. Mas veio-lhe uma boa lembrança: Puxou da espada, cortou a capa pelo meio e deu metade ao mendigo.
De noite Jesus Cristo, vestido com aquela metade da capa, apareceu a Martinho, e disse-lhe: “Martinho deu-me isso”.
O que damos aos pobres, damos a Jesus. Deus recompensa o bem.
II. DEUS CASTIGA O MAL
O rei Achab procedeu mal, fez muitos pecados. Achab matava gente para ficar com os bens deles. Também fez templos para deuses falsos e os adorou. Achab fez mal. E o povo fazia como o rei: também adorava os deuses falsos.
Elias o profeta de Deus foi ter com o rei e lhe disse: “Deus vive e não haverá chuva nem orvalho nesta terra, enquanto eu não disser o contrário”. E o profeta saiu, fugiu para longe do rei e viveu escondido.
Desde aquele dia não caiu mais chuva nem orvalho, e havia grande fome em todo o país: Deus castiga o mal. Primeiro crescia ainda alguma planta à beira dos rios. Mas, no terceiro ano, o próprio rei não tinha mais pasto para os seus animais e mandou Abdias e outros procurar alguma erva verde longe da capital.
Elias foi ao seu encontro e disse: “Vai dizer ao teu senhor: Ali está Elias”.
O rei Achab foi procurar Elias e lhe disse: “És tu que perturbas o povo?”
Elias respondeu: “Não sou eu quem perturba o povo, mas tu: pois tu não observas os mandamentos de Deus”.
Todo o mal, que tinha acontecido, era castigo do mal. Deus castigou o rei e o povo, porque não tinham observado seus mandamentos.
Deus castiga o mal.
O profeta continuou: “Chama todo o povo à montanha do Carmo”. E o povo veio à montanha. Ali o profeta pediu fogo do céu e o povo, arrependido dos seus pecados, voltou ao bom caminho.
Então o profeta disse ao seu criado: “Vai dizer a Achab, que apronte o seu carro e vá para casa; senão apanhará muita chuva”.
O céu estava ainda limpinho, mas de repente se cobriu de nuvens, e principiou a cair copiosa chuva. O povo arrependeu-se e voltou ao bom caminho. Por isso Deus retirou o castigo.
Deus castiga o mal.
“Dulcíssimo Jesus, não sejais para mim juiz, mas Salvador”.
Deus é justo, não só para com os bons, que merecem recompensa, mas também é justo para com os maus, que merecem castigo.
Quando um filho desobedece a seu pai, o filho faz uma coisa má, faz um pecado. Neste caso o pai pode castigá-lo. O pai faz sofrer a seu filho por causa do mal que este fez. Castigar é fazer sofrer a alguém por causa do mal que fez. O pai castiga o filho. O pai é justo.
Deus é infinitamente justo.
Deus castiga os pecados já aqui na terra. Se alguém foi atrevido com seus pais, então seus filhos serão atrevidos com ele. Um grande castigo do pecado é o remorso. O remorso é uma inquietação da alma por causa dum pecado cometido, um medo dos castigos de Deus. Os que fizeram pecado sentem o remorso. Quem não sente remorsos de seus pecados e imagina não ter pecados, está muito longe do céu.
Deus é justo. Deus castiga o mal, isto é, o pecado.
Muitos sofrem os castigos de Deus e queixam-se; porém não deixam os seus pecados.
Durante as missas, as práticas, as doutrinas estão trabalhando na roça, para ganhar mais dinheiro.
Fazem mal. Deus os castiga: Ficam cada vez mais atrasados. A chuva não vem, ou vem chuva demais. Eles queixam-se. Mas não voltam ao bom caminho.
Outros nunca se confessa. E ficam doentes, muito e muito tempo. E não compreendem o castigo de Deus. Muitos governos fazem leis injustas contra Deus e sua Igreja: não querem Deus na escola; no registro civil dos casamentos fazem cerimônias, que pertencem ao matrimônio religioso; expulsam os religiosos, e fazem muitas outras coisas más. E Deus os castiga com guerra tremenda, com carestias e outros prejuízos. Mas não compreendem o castigo de Deus e não deixam de perseguir a Santa Igreja do Senhor.
Nós queremos ter mais juízo.
Se temos alguma coisa a sofrer, pensaremos: “Isto é um justo castigo dos meus pecados”.
Dizemos com o bom ladrão: “Sofremos isto com justiça e ainda não recebemos o que merecemos pelos nossos pecados”.
Com efeito o castigo, que aqui a terra voluntariamente aceitamos, vale muito para pagar a dívida dos nossos pecados.
Quem semeia semente boa, colhe boas frutas. Quem semeia erva má, cresce-lhe erva má.
As obras boas são a semente que faz colher grandes prêmios.
As obras más são a semente que faz crescer grandes castigos.
Um missionário muito instruído conta o seguinte fato de uma missão, que ele mesmo pregara.
De noite, depois de acabar os sermões, uns moços foram para um hotel. Um deles começou a falar contra os missionários e a fazer escárnio deles. O moço fez mal. Falou contra os ministros do Senhor.
O moço foi para casa, mas, ao entrar pela porta, apossou-se dele uma vertigem, caiu e o acharam morto. Deus castiga o mal.
“Justo sois Vós Senhor e reto é o Vosso juízo”.
Explicação do Pequeno Catecismo, Pe. Jacob Huddleston Slater, Doutor em Teologia e Filosofia Escolástica, 2ª Edição, 1924.