Os deveres do cristão para com Deus reduzem-se à prática da religião, e, por conseguinte, a aperfeiçoar-se sobretudo no uso da oração, no modo de ouvir a missa, na frequência da confissão e da comunhão, na leitura espiritual e na santificação dos dias santos.
Toquemos rapidamente todos estes diversos assuntos.
ORAÇÃO
1 – A oração é o meio ordinário por onde Deus nos comunica suas graças. “A oração eleva-se do homem para Deus, diz Santo Agostinho, e a graça desce de Deus sobre o homem.”
2 – Mas todas as coisas têm sua medida e seu limite. Quando, nas Santas Escrituras, se ordena que oremos constantemente, não se deve entender a respeito da oração atual, o que seria impossível ao homem neste mundo; mas do desejo de glorificar a Deus em todas as nossas ações, desejo que deve ser permanente em nós. Por isso, Santo Agostinho disse: “Se o vosso desejo for frequente, frequente será a vossa oração; se vosso desejo for contínuo, contínua será a vossa oração”.
3 – A duração da vossa oração deve medir-se pela disposição da vossa alma e obrigações do vosso estado.
4 – Aquele que prolonga a sua oração até se enfastiar e sobre carregar o espírito, opõe-se ao mesmo fim da oração, que é conservar em todo seu fervor o desejo de glorificar a Deus. Esta doutrina, exposta com lucidez por S. Tomás, não deveria ser esquecida por essas almas, excelentes em tudo o mais, mas que pelo excesso de suas orações abatem o espírito em vez de o reanimarem. O homem de temperança e bom senso cessa de comer quando está satisfeito, ou quando sente alguma dor de estômago, por melhores que sejam e mais esquisitos e saborosos os alimentos que se lhe sirvam.
5 – Nunca deveis deixar de cumprir as obrigações do vosso estado para orardes segundo o vosso gosto. S. Tomás ensina que, na ocasião em que estamos aplicados aos nossos deveres segundo a vontade de Deus, recebemos da Sua mão as graças de que havemos mister, ainda mesmo sem essa oração frequente. Estão em seu lugar o trabalho e a fadiga. Há até mais merecimento do que em entreter-se somente no pensamento d’Ele, como acontece durante a oração.
6 – Fugi desse cuidado que vos impele a multiplicar vossas orações vocais; aplicai-vos antes a santificá-las, recitando-as com sossego, atenção e devoção. Não é a abundância de sustento que dá vigor, mas sim a sua boa digestão. É por isso que S. Francisco de Sales dizia: “O nosso amor-próprio é um grande embrulhador, que abraça sempre muito e nada aperfeiçoa. Pouco e bem é o que faz o homem prudente e sábio; muito e mal é o que faz o insensato e presumido”.
Direção para Viver Cristãmente pelo Rev. Padre Quadrupani, Barnabita, 1905.
Última atualização do artigo em 9 de março de 2025 por Arsenal Católico