Demonstrando a importância da oração e a sua indispensável necessidade para o cristão, podíamos dizer que é a vontade de Deus que nos força a todos sem exceção a rezar. Quantas vezes Deus insiste, por intermédio da Sagrada Escritura, na necessidade da oração! E Nosso Divino Salvador revelou-nos esta obrigação por diversos modos, ora por seu exemplo, ora por suas palavras. Que belo exemplo nos deu! Quantas vezes se afastava para rezar! Ele, o Mestre, impõe-nos com seu exemplo o dever de amar e praticar o exercício da oração. Ao dar-nos o exemplo, acrescentou a sua ordem: Pedi e recebereis; buscai e acharei (Mt 7, 7). É mister orar sempre e nunca cessar de o fazer (L 18, 1). Vigiai e orai para que não entreis em tentação (Lc 22, 40).
O que o Mestre pregava, os discípulos continuaram a pregar. Eles dizem: Sêde, portanto, prudentes e vigiai na oração (1 Pd 4, 7). Sêde perseverantes na oração (Rom 12, 12). Com toda a oração e súplica no Espírito, orando todo o tempo (Ef 6, 18). Todas estas palavras provam claramente a imperiosa necessidade da oração.
Assim os santos o interpretaram. Por parte deles não somente procuraram propagar por melo do exemplo, rezando dia e noite, mas ainda ergueram sua voz incutindo aos fiéis a necessidade da oração. Santo Afonso de Ligório escreveu um livro sobre a oração. Santa Teresa disse: Quem me dera subir em um monte alto do qual pudesse ser ouvida a minha voz no mundo inteiro, aí clamar com toda a força de meus pulmões: Ó filhos dos homens, rezai, rezai, rezai!
São Francisco de Assis deixou escrito na sua Regra esta lindas palavras, que traduzem a sua opinião sobre o que se deva firmar acerca da importância da oração. Assim ele diz: Os irmãos trabalhem com fidelidade e devoção, de maneira que afugentem o ócio, inimigo da alma, mas que não percam o espírito da oração e piedade, ao qual devem servir todas as coisas temporais. De todas as obrigações a mais indispensável é a oração. São João Crisóstomo afirma: “Não rezar e perder a sua alma é uma coisa só”. As palavras acima citadas Demonstram, de um modo eficiente, que estamos todos obrigados a orar por ser esta a vontade de Deus e a doutrina constante da santa Igreja e dos seus santos!
Mas existe outra necessidade interna que nos impõe o dever da santa oração. Esta necessidade interna nasce da nossa própria fraqueza em evitar o mal e por sermos impotentes em praticar o bem.
Desde a nossa infância sentimo-nos inclinados a praticar o mal. Demonstramos maus sentimentos, pensamentos ruins nos assaltam, desejos vergonhosos brotam no nosso eu. Quanto se torna difícil resistir a todas essas inclinações! Sabemos o que não nos é lícito fazer. Não ignoramos que a mentira, a fraude, o fingimento, a inveja, a ira, a impureza, a avareza, o roubo, a calúnia, o ódio, etc., são pecados que nos afastam do reino dos céus. Mas não somos às vezes vitimados por eles? Não devemos confessar como São Paulo: Não faço o bem que quero e sim faço o mal que aborreço. Sinto nos meus membros outra lei que repugna à lei do espírito e que me prende na lei do pecado. Cheio de tristeza exclama: Homem infeliz que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Ele responde: A graça de Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo (Rom 7, 15-29).
Só pela graça de Deus poderemos resistir à lei do pecado e vencer a tentação. Mas Deus quer que lhe supliquemos esta graça. Assim também ensina Santo Tomás de Aquino: Para nos salvar devemos lutar e vencer; mas lutar e vencer só o podemos com a graça de Deus; mas esta graça só se consegue pela oração. E Santa Teresa afirma: A oração é a porta pela qual entram as graças; se fecharmos esta porta, não rezando, então não sei como Deus nos pode dar a sua graça.
É um fato incontestável, baseado na experiência: quem não reza, não resistirá à tentação, cairá em pecado e dele não se libertará sem fervorosa oração. – Viver sem pecar ou afastado do pecado é graça exclusivamente determinada pela bondade de Deus; esta ventura só é concedida a quem a solicita. Se cometemos pecado, não podemos invocar, como argumento para nossa desculpa, a veemência da tentação, nem tão pouco a nossa fraqueza; a culpa recai inteiramente sobre nós mesmos porque não rezamos nada, ou então porque fizemos muito mal a nossa oração.
A nossa tarefa assume um caráter duplo: não cometer o pecado e praticar a virtude. Se precisamos da graça de Deus a fim de não incorrermos em erro, pecando, esta graça não será menos necessária para a prática da virtude. Basta para isto lembrar uma palavra de Jesus Cristo, que revela toda a nossa impotência. Ele disse: Sem mim, nada podeis fazer (Jo 15, 5).
Santo Agostinho, comentando esta afirmação de Nosso Senhor, escreve: Nosso Senhor não diz: sem mim só podeis fazer coisa pouca, mas diz: sem mim nada podeis fazer, nada que tenha algum valor para a eternidade.
Baseando-se nesta palavra de Cristo, São Paulo ensina que nós não somos capazes de pronunciar com devoção o nome de Jesus. E ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo (1 Cor 12, 3).
Como poderemos nos conservar puros? Como poderemos exercer a verdadeira caridade? Como poderemos amar aos nossos inimigos, perdoar as ofensas recebidas, desejar e fazer bem aos que nos odeiam? Como poderemos conservar a necessária paciência nos sofrimentos que nos oprimem e carregar a nossa cruz com resignação? Como poderemos ser humildes; ou, em uma palavra, como poderemos ficar santos conforme a vontade de Deus? Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação (1Tes 4,3).
Realmente! Façamos uma breve análise de tudo que aqui fica exposto e então veremos quanto precisamos da graça de Deus, graças abundantes e fortes. Mas estas só nos serão dadas se as solicitarmos! Oh! como é necessária a oração! De fato, devemos rezar sempre, implorar a sua misericórdia à todo momento, em todas as épocas, em toda parte que nos encontremos. A oração deve ser a nossa ocupação diária, de cada dia, ainda que seja breve. Santo Afonso escreve: “o negócio da nossa salvação depende da oração. Se rezamos, a nossa salvação está garantida; se não rezarmos, a nossa condenação será certa. Os condenados o foram porque não rezaram; se tivessem rezado, não teriam sido condenados. Todos os santos tornaram-se santos, porque rezaram; se não tivessem rezado, nunca se teriam tornado santos”.
O venerável Bispo Conrado Martinho expressou-se deste modo: Sou capaz de fazer a maior soma de bens, quando me uno a Deus pela oração; sou capaz de praticar toda sorte de maldade quando me afasto de Deus e não rezo. Ele continua: “A maior infelicidade do homem não consiste em ter ele cometido pecados e reincidido nos mesmos, mas a sua maior desgraça é, quando pecou e continua a pecar, não recorrer à oração. Pois, enquanto o homem não rezar, nunca se dará a sua conversão e morrerá com o seu pecado. Por outro lado, a maior felicidade do homem não consiste em ter praticado a virtude e a praticar ainda; a maior felicidade é ser ele um homem de oração que dedica grande parte do seu tempo ao exercício da mesma. Pois, embora eu tenha praticado a virtude e a esteja ainda praticando, não sei se perseverarei, pois somos tão inconstantes que não sei se hei de permanecer na graça de Deus. Mas, se continuar a rezar, então tenho a certeza absoluta, a convicção de que Deus me dará a graça da perseverança!”
A tentação te persegue? reza. És muito tentado? reza muito. A prática de certas virtudes se te afigura de difícil execução? reza. Julgas quase impossível? reza muito, reza sempre e dirás com São Paulo: Posso tudo naquele que me conforta (Filip 4, 13) . Implora o Sagrado Coração de Jesus, fonte de vida e santidade: Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso. Chama por tua Mãe, Maria Santíssima, nossa vida, nossa doçura, nossa esperança, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei! Rezando com confiança, evitarás o pecado e farás progresso na virtude. Sê homem de oração e serás bom cristão! Concorda com esta verdade Santo Agostinho, que diz: Quem reza bem é bom cristão, quem reza mal é mau cristão; quem não reza nem é cristão.
Do Livro Mariófilo – Assim Deveis Rezar, 1944
Última atualização do artigo em 27 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico