Santa Edwiges († 1243)
Um modelo exemplaríssimo de todas as virtudes apresenta-nos hoje a Igreja na pessoa da santa duquesa Edwiges.
O pai de Edwiges era Bertoldo, duque de Carinthia, Margrave de Meran e conde do Tyrol. A mãe era igualmente de alta linhagem.
Edwiges, ainda menina de tenros anos, dava a conhecer aos pais que era de Deus privilegiada, por uma inteligência não comum naquela idade. Além disso, notava-se na menina uma inclinação bem acentuada para todas as virtudes, coisa raríssimas vezes observada em crianças.
Donzela, nenhum atrativo experimentava para os prazeres e divertimentos mundanos. Ler e rezar era-lhe por assim dizer, a única distração.
Tendo atingido a idade de 12 anos, para obedecer aos pais, contraiu núpcias com Henrique, duque da Polônia e Silésia. Esposa exemplaríssima, não tinha em mira outra coisa senão a glória de Deus, a santificação de sua alma e a felicidade do próximo.
Com permissão do esposo, dedicava os dias de festa, bem como a santa Quaresma, a exercícios de mortificação. Um dos seus lemas era: “Quanto mais ilustre se for pela origem, tanto mais se deve distinguir pela virtude, e quanto mais alta a posição social, tanto mais obrigação se tem de edificar ao próximo pelo bom exemplo.”
Deus abençoou o matrimônio do casal com seis filhos, que foram educados no temor de Deus.
Edwiges contava apenas 20 anos e o esposo 30, quando, impelida pelo desejo de servir a Deus em maior perfeição, de acordo com Henrique, tomou a resolução de viver em completa continência, e ambos fizeram um voto nesse sentido, que depositaram nas mãos do Bispo.
Desde aquele momento, rapidamente prosseguiu no caminho da perfeição. Todo o tempo, não tomado pelas ocupações do dever, pertencia desde então à oração e à beneficência. Consolo particular dava-lhe a audição da santa Missa, tanto que assistia quotidianamente a tantas missas quantas lhe era passível, e com uma devoção que edificava a todos. Era uma grande protetora das viúvas e órfãos. Grande parte dos protegidos comiam na sua própria mesa, onde ela mesma os servia. Frequentes visitas faziam aos hospitais e a dedicação, como o amor ao sacrifício, faziam com que em pessoa lavasse os pés dos leprosos e lhes beijasse as úlceras. Com o esposo insistiu para que nas proximidades da cidade de Breslau erigisse um convento para as religiosas da Ordem de Cister. Naquele convento muitas meninas pobres receberam educação e instrução religiosa. Edwiges mesma costumava passar dias entre as freiras, acompanhando todos os exercícios da comunidade. No vestir não se lhe notava nenhuma ostentação, nem liberdade alguma, de modo que o exemplo da duquesa obrigava a todos na corte ao maior recato.
Contrariedades e graves desgostos não faltaram para pôr-lhe em prova as virtudes. Uma guerra imprevista arrebatou-lhe o esposo, que caiu nas mãos do inimigo. Ao receber esta última notícia, Edwiges, cheia de fé, levantou os olhos para o céu e disse: “Espero vê-lo em breve são e salvo.” Ela mesma se dirigiu ao duque Conrado, que lhe guardava preso o esposo e rogou com tanta insistência, que obteve a libertação de Henrique, o qual adoeceu e pouco depois morreu. Às pessoas que lhe apresentavam pêsames, Edwiges respondia: “Cumpre adoramos os desígnios da divina Providência na vida e na morte. Nosso consolo deve consistir no cumprimento de sua santíssima vontade.”
Três anos depois, seu filho Henrique perdeu a vida, numa batalha contra os Tártaros. Embora este golpe crudelíssimo lhe ferisse profundamente o coração de mãe, Edwiges demonstrou a mesma resignação que por ocasião da morte do esposo.
O resto da vida passou-se lhe no convento. Aí viveu como a última entre as freiras. As regras e as constituições da Ordem viram na santa Duquesa a observadora mais fiel. Se sua vida antes da entrada no convento era de sacrifícios e penitências, no mosteiro redobrou os exercícios de austeridade. Só interrompia o jejum aos domingos e dias santos. O único alimento que tomava era pão, água e legumes, abstendo-se por completo do vinho e da carne. O cilício era-lhe companheiro inseparável, e o leito eram duas tábuas. No inverno mais rigoroso andava descalça sobre neve e gelo. Apenas três horas antes das matinas dedicava ao sono, passando o resto da noite em oração, sujeitando o corpo, não raras vezes, a severa flagelação. Com esses exercícios tão duros de penitência, Edwiges emagreceu, e o corpo tomou-lhe feições esqueléticas.
Tinha uma devoção terníssima à Sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo, que era o assunto de suas meditações quotidianas. Acompanhando a Nosso Senhor nos sofrimentos, derramava abundantes lágrimas. Terno amor dedicava à Santíssima Virgem. O rosto incandescia-se lhe ao pronunciar o nome da doce Mãe celeste. A humildade de Edwiges foi recompensada com o dom dos milagres. Fazendo uma vez o sinal da cruz sobre uma cega, esta recuperou a vista imediatamente. Muitas curas maravilhosas se efetuaram por sua intercessão.
O fim de tão santa vida foi uma morte santíssima. Acometida de grave doença, pediu os santos Sacramentos, os quais recebeu com tanto fervor, que comoveu a todos que assistiram. Morreu em 1243. Numerosos foram os milagres que se lhe observaram no túmulo. Clemente IV deu-lhe a honra dos altares. Santa Edwiges é a padroeira da Polônia.
REFLEXÕES
“Tanto na vida como na morte elevemos adorar humildemente as determinações da divina Providência”. – Assim falou Santa Edwiges, quando o marido lhe foi arrebatado pela morte. A mesma conformidade heroica manifestou quando lhe morreu o filho primogênito. Qual é a tua conduta em acontecimentos semelhantes? Nunca terás a tranquilidade de espírito, se não te sujeitares às ordens divinas, conformando tua vontade com a de Deus. Porque não te sujeitas? Porque não te conformas? As ordens de Deus são justas, embora muitas vezes incompreensíveis. Nada te poderá acontecer sem que Deus disso tenha conhecimento, e sem que tenha dado consentimento. Tudo que Deus ordenar a teu respeito, é justo e é para teu bem. É a fé que assim no-lo ensina. Ensina mais – que ninguém se deve opor à vontade de Deus claramente conhecida. É necessário, pois, que da necessidade se faça virtude, conformando-se com aquilo que Deus quer. Se assim fizeres, terás a paz de tua alma e poderás obter muitos merecimentos para o céu.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.
Última atualização do artigo em 13 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico