Santa Gertrudes* († 1334)
Natural de Eisleben, na Saxônia, nasceu Gertrudes em 1256, sendo irmã de Santa Mechtildis. Tendo apenas cinco anos de idade, confiaram-na os pais às religiosas beneditinas do convento de Rodelsdorf. Foi naquele convento, que mais tarde fez os santos votos e exerceu as funções de abadessa, desde o ano de 1294. Mais tarde passou para o convento de Helpedes, onde igualmente funcionou como superiora.
Na infância tinha aprendido a língua latina e nela se aprofundado, como o exigia o bom tom naquele tempo. Manejando com facilidade o idioma de Cicero, possuía Gertrudes profundo conhecimento da Bíblia. Sempre unida a Deus na oração, era seu prazer estar na presença do Ss. Sacramento. Alma profundamente contemplativa, a ocupação predileta de Gertrudes era meditar a sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo e o Sacramento do a:mor. Falando às religiosas nestes dois grandes mistérios da religião, fazia-o com tanto ardor e eloquência, que as comovia até as lágrimas. A uma vida tão íntima com Deus não podiam faltar os dons extraordinários, que geralmente acompanham as almas eleitas. Frequentes vezes se achava Gertrudes arrebatada em êxtase e o amor divino penetrava-lhe todo o ser de maneira tal, que parecia ser-lhe o substratum de todas as ações e aspirações. É para admirar que, absorta nas profundezas da mística, não vivesse mais para este mundo e suas vaidades? Quotidianamente castigava o corpo e destruía em si tudo que lhe parecesse obstáculo à união com Cristo, seu Senhor. Infatigável era portanto em praticar a obediência, a abnegação, a vigilância, o jejum e outras obras de penitência. Entregue constantemente a estes exercícios, era um portento de humildade e mansidão imperturbável.
Se bem que a alma, constantemente experimentada e por Deus extraordinariamente privilegiada, lhe tivesse adquirido um alto grau de santidade, Gertrudes enxergava em si só imperfeição. Uma expressão desta humildade tem-se nas palavras da mesma Santa: “Um dos maiores milagres da bondade divina é, tolerar-me ainda neste mundo.” Longe de se ensoberbecer no cargo de Superiora, fez-se serva de todas as religiosas, julgando-se indigna de viver na companhia delas.
Engana-se quem pensa que Gertrudes, parecendo não fazer outra coisa senão práticas de piedade, tivesse descurado as obrigações de religiosa e Superiora. Os serviços mais humildes e abjetos da casa fazia-os com a maior pontualidade e satisfação.
Intimamente ligado ao amor a Jesus Cristo era-lhe a devoção a Maria Santíssima. Dia não passava que não se dirigisse em orações, cheias de confiança, à Mãe de Jesus Cristo. Nas preces e devoções não lhe ficavam esquecidas as almas do purgatório, para com as quais Gertrudes revelava uma terna compaixão.
O voto de castidade observava-o com a mais perfeita fidelidade. Todo o cuidado se lhe dirigia no sentido de conservar sem sombra de mancha a inocência batismal.
Firme e inabalável era a confiança que depositava em Deus. Em toda e qualquer necessidade era Deus seu refúgio. Dispensando consolo humano, esperava o auxílio divino, que nunca falta aos que temem e amam a Deus. Consolações dulcíssimas do Espírito Santo, libações do cálice da Paixão de Jesus, arrebatamentos sublimes ao alto do Thabor, tristezas profundas de Getsêmani – tudo aceitava da mão de Deus, com igual conformidade, bendizendo-lhe o Santíssimo Nome com alegria e beijando-lhe a mão, quando lhe mandava tribulações e dores. Em tudo e por tudo procurava só a realização do “seja feita a vossa vontade.”
As revelações com que Deus a distinguiu, Gertrudes escreveu-as. Este livro permite-nos observar de perto a vida íntima da Santa, os transportes de amor com que a alma se lhe elevava a Deus, os doces colóquios que entretinha com o celestial Esposo. Ao lado dos livros de Santa Teresa, talvez seja o “Mensageiro do divino amor” de Gertrudes a obra mais importante da teologia mística, mais apropriada para acender o fogo do santo amor, nas almas que se dedicam à vida contemplativa.
O ano de 1334 trouxe-lhe a união tão desejada com o divino Esposo. A morte não foi senão a realização do desejo de sua alma, como Gertrudes mesma o exprimiu: “Dizei-me então, com a vossa melodiosa voz, estas palavras, que me soarão qual doce harmonia: “Vê, o Esposo já vem; levanta-te e enlaça-te com ele estreitamente. Goza as delícias nectáreas, que manam da contemplação de seu semblante, radiante de esplendores eternos.”
REFLEXÕES
Santa Gertrudes era mestra da oração e da meditação. A oração é a prática de piedade por excelência. O homem, rodeado de perigos, de tribulações e angústias, só em Deus acha, consolo, conforto, proteção. É a vontade de Deus, porém, que este socorro seja o fruto da oração insistente e humilde. A palavra, a promessa de Jesus não deixa nenhuma dúvida sobre o valor e a eficácia da nossa oração. Se às vezes não alcançamos o que pedimos, não é porque Deus não tenha mantido a palavra. O motivo devemos procura-lo na má condição da nossa oração. A oração deve ser feita em nome de Jesus, com confiança humildade e perseverança. A oração do justo, feita nestas condições, penetra as nuvens e não descansa, enquanto não chega até ao trono do Altíssimo.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.
(•) Autores abalizados, como Kaulen e outros, afirmam que Santa Gertrudes (Trutha) não era irmã. de Santa Mechtildes e nunca ocupou na Ordem o cargo de abadessa. A primeira superiora de Gertrudes possuía o mesmo nome e dela Santa Mechtildes era irmã carnal. Daí resultou a confusão dos nomes.
Última atualização do artigo em 25 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico