Santa Isabel, filha de Pedro III, rei de Aragão, nasceu em 1217. Menina de tenra idade, fornecia indícios indubitáveis de futura santidade, tanto pela grande caridade e compaixão que tinha aos pobres, como pelo amor com que se dedicava à oração e às práticas de piedade. A Igreja era seu lugar predileto, onde passava horas rezando. Quando tinha oito anos, rezava o divino ofício diariamente, costume que conservou durante toda a vida.
Menina ainda, jejuava todos os sábados e nas Vigílias das festas Marianas.
Todo o exterior, o modo ele falar e agir, interpretava lhe nitidamente o grande rumor à pureza de coração. Dotada de inteligência invulgar, era, pela sua virtude, por todos estimada e venerada.
Na idade de doze anos, foi dada em matrimônio a Diniz, rei de Portugal.
Conservando as práticas de piedade, procurou Isabel santificar-se em seu novo estado. Em três épocas durante o ano observava um jejum, cada vez de quarenta dias, alimentando-se quase exclusivamente de pão e água. Em tudo havia método – tanto na oração, como nos trabalhos. Nunca alguém a encontrava ociosa, mas sempre ocupada em coisa útil. Assídua na recepção dos santos Sacramentos, para eles se preparava com muito cuidado. A pessoas que aconselhavam maior moderação nos trabalhos, orações e penitências, Isabel respondia: “Poderá haver maior utilidade e necessidade da oração, que na idade em que os perigos e as paixões se apresentam mais fortes?”
Especial atenção dedicava aos pobres e aos doentes. Isabel costumava dizer: “Outro motivo Deus não teve de colocar-me sobre o trono, senão de proporcionar-me os meios de socorrer os necessitados”. Dia não se passava, sem que a santa rainha fizesse uma ou muitas obras de caridade, ora em socorrer os pobres, ora em visitar os doentes.
Deus recompensou essa dedicação com o dom de milagres. Uma pobre mulher, cujo corpo estava coberto de úlceras, recuperou a saúde com um abraço, com que Isabel a distinguiu. Em todas as sextas-feiras da quaresma, como na Quinta-feira Santa, costumava Isabel lavar os pés a treze mulheres. Entre estas havia uma, cujo pé apresentava uma ferida asquerosa. A santa rainha não só lavou a ferida, mas, terminada essa manipulação, levou a penitência ao ponto de imprimir um ósculo sobre o lugar ferido do pé, e este sarou imediatamente. Em outra ocasião uma cega desde a infância obteve a vista, em virtude da oração de Isabel. Muitos doentes foram curados com o sinal da cruz, que a Santa sobre eles fazia.
O rei, seu esposo, era o contrário quanto à virtude. Embora Isabel lhe soubesse os desregramentos e muito se entristecia, ao ver os crimes que Diniz cometia contra Deus, nunca proferiu uma palavra se quer de queixa, mas com paciência invencível suportava o marido, pedindo a Deus sua salvação.
Isabel teve a satisfação de obter a conversão do marido. Aconteceu que um pajem tivesse a triste ousadia de fazer ao rei a falsa denúncia de relações ilícitas, mantidas pela rainha com um jovem fidalgo, que a auxiliava na distribuição de esmolas. O rei D. Diniz, atento em acreditar na infâmia, deu ordem ao caieiro da côrte para atirar ao forno de cal o jovem que lhe apresentasse no dia seguinte, perguntando-lhe se já executara a ordem real. – Ora, o encarregado dessa missão assassina foi justamente o jovem escudeiro da rainha que, cônscio de sua inocência, sem preocupações se dirigiu à caieira. No trajeto, ouviu, porém, o toque da Missa e, como bom cristão, não deixava passar o dia sem assistir ao Santo Sacrifício e assim se dirigiu a Igreja, não achando inconveniente em antecipar a assistência da Missa ao cumprimento da ordem real. Assim fez, mas, em lugar de uma missa, assistiu duas Missas. Por outra vez, D. Diniz, aflito por saber do resultado da macabra missão, enviou à caieira o moço perverso e acusador, que gostosamente tratou de certificar-se da morte da vítima da calúnia. Mal chegou à presença do mestre da caieira, que este, surdo aos protestos e súplicas do gentil homem, mandou lança-lo ao forno incandescente.
Decorridos poucos minutos, apareceu o moço caluniado, dirigindo ao mestre a pergunta, como lhe fora ordenado pelo rei. Obtendo resposta afirmativa, voltou ao palácio, transmitindo ao rei o recado obtido. D. Diniz muito se admirou de ver em sua presença, vivo, aquele que morto devia estar, e imediatamente fez indagações. Ciente de tudo, reconheceu a patente intervenção da Divina Providência na defesa dos dois inocentes.
Muito se arrependeu D. Diniz da leviandade com que dera crédito a tão vil calúnia, contra pessoa digna de toda a sua veneração.
O príncipe Affonso tinha organizado um levante contra o rei, seu pai. Isabel procurara todos os meios para afastar o filho dos planos sinistros. Não obstante houve quem acusasse a rainha de combinação com o filho revoltoso.
O rei, sem examinar a questão, expulsou a rainha do palácio, dando-lhe por morada uma casa de campo. Isabel apelou para Deus, que não tardou em patentear a inocência da rainha. Desde então, reinou a mais completa harmonia entre os esposos, e Diniz começou a tratar a esposa com todo respeito e consideração. Caindo gravemente doente, Isabel não se lhe afastou da cabeceira. Não só lhe foi a enfermeira mais dedicada, mas preparou-o com todo o cuidado e amor para a recepção dos últimos Sacramentos. Diniz morreu cristãmente. Isabel pediu admissão no convento das religiosas de Santa Clara, em Coimbra, de que era fundadora. As religiosas, porém, fizeram-lhe ver que sua presença no mundo seria muito mais útil do que no convento. Isabel habitou então uma casa nas proximidades do convento e começou uma vida só de Deus, a serviço dos pobres e doentes. Duas peregrinações fez a Compostela, na Espanha; a primeira, logo depois da morte do marido, e a segunda por ocasião do jubileu. Esta última foi feita a pé, e em companhia de duas empregadas, fazendo as três romeiras a penitência de viver de esmolas que pediam.
De volta da segunda peregrinação, soube de uma guerra que ia rebentar entre o filho Affonso e um rei vizinho e parente. Isabel, que de Deus tinha o dom de reconciliar ânimos exaltados e inimizades, pôs-se entre os dois litigantes e obrigou-os a fazerem as pazes.
Tendo chegado a Estremadura, Isabel adoeceu gravemente. Pressentindo a morte, para ela se preparou com todo fervor. Vestida de Clarissa, recebeu de joelhos o SS. Viático. Próxima a morte, deu conselhos aos filhos, de conservar a paz e proceder sempre cristãmente. Entre as dores da doença, repetiu muitas vezes a jaculatória:
“O Maria, Mãe das graças, Mãe de misericórdia, defendei-me contra o espírito maligno e recebei-me na hora da morte”.
Isabel morreu em 1336, na idade de 65 anos. Trezentos anos depois da morte foi-lhe o corpo encontrado sem sinal de corrupção, exalando perfume deliciosíssimo. Grandes milagres Deus se dignou fazer no túmulo de sua serva. Isabel foi canonizada pelo Papa Urbano VIII, no ano ele 1625.
REFLEXÕES
Da santa vida de Isabel todos podem aprender: 1º a mocidade vê nela um modelo de santificar os anos da infância pela oração, pela obediência e pelo respeito na casa de Deus; 2º os jovens de ambos os sexos aprendem os meios de conservar-se na modéstia e castidade, que são a oração, o jejum e a recepção frequente dos santos Sacramentos; 3º os casados devem imitar lhe o exemplo e suportar com paciência os defeitos da outra parte, tratar-se com caridade, prestar-se o mútuo socorro, quando as circunstâncias o exigirem e interessar-se vivamente pela sua alma; 4º pessoas viúvas têm em Isabel o modelo da modéstia cristã, que evita os prazeres, os divertimentos e as vaidades do mundo, para com tanto mais facilidade se poder dedicar a obras de caridade e piedade; 5º aqueles que com a mercê de Deus ocupam lugar eminente na sociedade, devem imitar a santa rainha na humildade e na caridade, aproveitando-se das muitas ocasiões que se lhes deparam, para praticar o bem em honra de Deus e para consolo dos pobres e aflitos.
A vida do cristão deve ser uma vida de sacrifício, de abnegação, de penitência e de caridade, como foi a vida de Santa Isabel. Como a prática de todas essas virtudes não agrada à nossa natureza inferior, é indispensável, que recorramos aos meios de santificação, que são os santos Sacramentos, a oração e a devoção à Santíssima Virgem, que é por excelência o auxílio dos cristãos na vida e na morte. “Quem quer alcançar uma graça de Deus, diz S. Boaventura, recorra com muita confiança e devoção a Maria; pois ela é a rainha de misericórdia, que não nega o que lhe pedem os que se lhe dirigem”.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.
Última atualização do artigo em 6 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico