Sant´Anna, mãe da Santíssima Virgem

Charles-Antoine Coypel, Sant'Ana mãe da Santíssima Virgem, pintura A Educação da Virgem Maria, c. 1736. Public Domain / Wikimedia Commons

Que tarefa mais difícil poderá ha­ver, que escrever a vida de pessoa de quem há escassez extrema de notas biográficas! Eis o caso de difícil solução, para quem deseja esboçar a vida de Sant’Anna, mãe de Maria Santíssima. Nos Santos Evangelhos palavra alguma faz menção dos pais da bem-aventurada Virgem. O pouco que deles sabemos, é tirado do protoevangelho de Tiago, livro antiquíssimo, que, pelo título, por muitos é considerado obra do Apóstolo S. Tiago. Esta obra é citada em diversos trabalhos dos Padres da Igreja oriental (Epifânio, Gregório de Nyssa) e de fato por eles era considerado como documento de alto valor.

Não tão boa acolhida achou o protoevangelho na Igreja ocidental. São Jerônimo e Santo Agostinho rejeitam em absoluto as obras apócrifas e com eIes outras sumidades da hierarquia latina.

Essa reserva, que observamos nos livros dos Padres latinos, no Martirológio e no próprio Breviário romano, acerca do protoevangelho de Tiago, não pô­de impedir que a devoção à Mãe de Maria Santíssima se divulgasse e se arraigasse no coração do povo católico. O culto público de Sant’Anna, aprovado pela Santa Sé, data de 1378, ano em que o Papa Urbano VI o permitiu aos católicos da Inglaterra. Em 1584 foi confirmada essa aprovação e fixada a festa de Sant’Anna para o dia 26 de Julho. No Oriente, a devoção a Sant’Anna é muito mais antiga.

As relíquias de Sant’Anna, em 710, teriam sido transportadas da Palestina para Constantinopla. De lá foram distribuídas entre muitas Igrejas do Ocidente. Uma grande relíquia da mãe da Santíssima Virgem existe na Igreja de Sant’Anna em Duren (Rhenania).

REFLEXÕES

Contam autores sacros do nosso tempo e do tempo antigo, que Sant’Anna e seu esposo, São Joaquim, muito se entristeceram por Deus não lhes ter dado a bênção da prole ao matrimônio, e que Maria Santíssima, a Virgem bendita, a esperada dos séculos, era o fruto das orações e penitências do santo casal. Consolem-se os esposos, de quem Deus quer o mesmo sacrifício. O que Deus determina e faz, está bem feito. Tudo lhe obedece aos planos. Sabe ele que a existência de filhos seria a perdição de alguns, como é certo que muitos pais se condenam pelos filhos, a quem não dão a educação necessária. Reza uma piedosa tradição, que os santos esposos Anna e Joaquim ofereceram a Deus a filhinha, quando esta tinha três anos apenas. Assim o maior cuidado dos pais devia ser educar os filhos para Deus e entrega-los ao seu santo serviço, quando neles se revelassem sinais indubitáveis de vocação religiosa ou eclesiástica. Sant’Anna de muito boa vontade fez o sacrifício de separa­ção da filhinha, sabendo que Deus a reservara para si. Porque pais cristãos não imitam este belíssimo exemplo da santa mãe de Maria, entregando a Deus o que de mais caro têm aqui na terra, se assim for a vontade divina? Grande é o pecado dos pais e grande a responsabilidade, quando contrariam os planos de Deus, opondo-se à vocação clara e provada dos filhos.

Dizemos: à vocação clara e provada; porque sempre houve e há pessoas que entram no estado religioso e sacerdotal sem ser por Deus chamadas. Pais há que obrigam os filhos a abraçar o estado religioso, tendo para isto motivos meramente de interesse. Isto é dar os filhos, não a Deus, mas à perdição.

S. Paulo recomenda muito o estado de virgindade, aqueles que sentem em si força bastante, para aceitar o jugo que este estado lhes impõe. Aos outros, porém, que não receberam a graça da continência, manda que se casem. “Quem não pode viver em continência, deve casar-se. É melhor que se casem, do que ardam em paixão”.

Mais frequente ainda é a interferência dos pais, quando se trata da vocação sacerdotal ou religiosa. Muitas vocações se perdem, não se desenvolvem, não chegam a ser conhecidas, por causa dos pais que, não só não cultivam no lar o espírito religioso, mas antes o desprezam e oprimem. Essa frieza, essa indiferença, que muitas vezes degenera em antipatia e ódio contra a religião, prejudica não só as almas dos filhos, como também priva a Igreja de Deus de ótimos elementos, retarda a obra de Cristo na salvação das almas. Pais cruéis! Tiranos que sois de vossos filhos e filhas! No juízo de Deus eles contra vós se levantarão e clamarão por vingança. Vereis então as consequências terríveis do vosso egoísmo, da vossa ambição e tarde virá o vosso arrependimento.

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.

Última atualização do artigo em 10 de abril de 2025 por Arsenal Católico

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