Santificar-se no apostolado

Dai-me luz, ó Deus, a fim de reconhecer as graças que preparastes no meu caminho para me conduzirdes à santidade; tornai-me capaz de lhes corresponder.

1 – O apostolado mais fecundo é o do santo. Será então necessário ser santo antes de se consagrar ao apostolado? Teoricamente seria o ideal, mas na prática é impossível. Não se pode pensar que os anos de formação – do seminário ou do noviciado, por exemplo – sejam suficientes para nos tornarem santos; por outro lado, quando o dever ou a caridade o impõem, ninguém se pode eximir das obras do apostolado a pretexto de não ter ainda chegado à santidade. Portanto devemos concluir, que, decorrido o período consagrado exclusivamente à preparação, é necessário unir a ascese pessoal ao exercício da atividade apostólica. Por outras palavras, os apóstolos devem santificar-se no apostolado e por meio dele. “Santificar-se em vista e por meio do apostolado, eis a palavra de ordem para um sacerdote diocesano… Faríamos mentir a Igreja, a vida de Jesus e todas as vidas dos santos, se afirmássemos a incompatibilidade do apostolado exterior com a santidade”. Estas palavras que o Padre Poppe dirigiu aos sacerdotes, valem para todos os apóstolos, clérigos ou leigos, religiosos ou seculares; cada apóstolo deve ter a certeza de que encontrará precisamente no seu campo de trabalho – e não noutro lugar – todas as graças necessárias para se santificar e para chegar à união íntima com Deus. Quando uma pessoa se dá ao apostolado, não por escolha própria nem por impulso natural para a atividade, mas somente para corresponder a um apelo divino, pode estar certa de que, assim como Deus a quis no apostolado, também a quer santa e lhe proporcionará todos os meios para chegar a sê-lo. Deus não pode condenar à mediocridade uma alma que, para cumprir a Sua vontade, e portanto por Seu amor, se sujeitou a trabalhos e fadigas apostólicas. “Não, irmãos – continua o Padre Poppe – a vida ativa não é uma noite em que se extingue a luz do ideal. Se tantos perderam nela o seu, tende vós mais confiança, humilhai-vos mais profundamente por causa da vossa fraqueza, e uma graça mais abundante vos levará certamente ao êxito. Não sabeis que as dificuldades e os obstáculos, sob a maravilhosa ação da graça, se transformam muitas vezes em auxílios e cooperam admiravelmente para o bem? Certus sum, podeis vós dizer com S. Paulo: estou certo de que nenhuma criatura do mundo tem poder para me desviar do caminho da santidade”. Na medida em que o apóstolo for dócil e fiel à graça, Deus o purificará, o aperfeiçoará e o santificará precisamente através das fadigas apostólicas.

2 – A certeza de nos podermos santificar no meio das obras, não exclui o convite tácito ao recolhimento, o desejo de solidão e de intimidade com Deus que tantas vezes acompanha o apóstolo no meio das suas atividades e que por vezes se aviva a ponto de envolver a sua vida num véu de nostalgia. Quem saboreou, por pouco que fosse, a beleza e a bondade infinita de Deus, não pode deixar de sentir o desejo e a necessidade imperiosa de O possuir. É bom sinal: quer dizer que a alma não se deixou invadir e dissipar pelas ocupações exteriores e que, apesar de viver no mundo, não é do mundo, mas tende na verdade para Deus. Ainda que essa ânsia, em determinadas alturas, se transforme em tormento, o apóstolo não se deve perturbar nem supor ter errado o caminho; esta pena purificá-lo-á e conduzi-lo-á ao Senhor. De resto não se pense que o simples desejo de maior recolhimento e união com Deus seja indício certo de um chamamento à vida contemplativa, pois este é caracterizado sobretudo pela necessidade de uma entrega e de uma imolação mais profundas. O chamamento insistente à vida interior deve ser antes considerado como uma graça ordenada a defender o apóstolo contra os perigos da atividade exterior: é o baluarte, é o muro de clausura da sua vida espiritual.

Todavia esta necessidade de Deus deve ser satisfeita; além das horas diárias de oração e de silêncio, o apóstolo deve ter suficientes pausas no seu trabalho: os retiros mensais e os exercícios anuais são indispensáveis, e são também uma oportunidade para se recolher após um período de atividade particularmente intensa. Seria um erro fatal deixar-se absorver pelo apostolado até ao ponto de já não encontrar tempo para se concentrar em Deus, num contato íntimo com Ele: nem sequer sob a aparência de maior generosidade o apóstolo deve renunciar às suas horas de oração.

Ao mesmo tempo, porém, deve ir ao seu trabalho de ânimo sereno e confiante, tendo bem presente que, enquanto não atingir a plena maturidade da vida espiritual, não poderá fugir ao conflito entre a ação e a contemplação: a ação que tenta afastá-lo da contemplação e esta que desejaria prolongar-se para além do tempo fixado. O seu esforço deve ser o de se manter num justo meio, evitando os dois extremos e unificando a sua vida por meio do amor. Antes do conflito se acalmar numa perfeita harmonia, há um logo caminho a percorrer, durante o qual é absolutamente necessário dar-se à ação com prudência e ser muito fiel à oração não consentindo que o tempo que lhe e destinado seja invadido pelo trabalho.

Colóquio – “Meu Deus, como são poucos os apóstolos santos! Como são raros os Vossos verdadeiros amigos! Ó Senhor, ardo em desejos pela vinda do Vosso reino às almas dos apóstolos; ardo, mas sou tão pobre que serei consumido antes que este reino chegue.

“Fazei de mim, ó Senhor, um apóstolo santo, porque obtém mais um santo com uma só palavra do que um trabalhador ordinário com uma série de discursos. Sem santidade sou como um bronze que soa, como um címbalo que tine, e Vós, meu Deus, só falais pela boca dos santos. Dai-me, pois, a santidade, única coisa capaz de mover o sentimento, de ferir as almas e de as renovar. Ó Deus, não permitais que eu venda ouropel nem seja um tonel vazio.

“Santificar-se no apostolado é difícil: são muitos os obstáculos e os perigos que se encontram. Deverei então retirar-me desanimado? Não, meu Deus, porque se tiver boa vontade serei sempre ajudado pela Vossa graça, e onde a graça opera, sempre se encontra o caminho que conduz ao fim, à santidade. Que devo então temer? A Vossa graça está comigo; Vós mesmo estais comigo e em mim. E se Vós, ó Deus, entrais na arena comigo, a que poderei eu ainda chamar obstáculo? À tribulação ou à angústia, à fonte ou à nudez, ao perigo, à perseguição ou à espada? Todas estas dificuldades vencerei com o Vosso auxílio, porque Vós me amais e não me abandonais. Apoiando-me em Vós, ó Senhor, tenho a certeza de que nenhuma criatura do mundo me poderá desviar do caminho da santidade. Tenho a certeza disto porque Vós quereis que os Vossos apóstolos sejam santos, porque sois infinitamente bom, infinitamente poderoso e fiel às Vossas promessas, porque sois infinitamente misericordioso” (P. Eduardo Poppe).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 8 de março de 2025 por Arsenal Católico

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