Santo Ambrósio, Arcebispo e Doutor da Igreja

Santo Ambrósio impedindo Teodósio da Catedral de Milão [Detalhe], pintado em 1619 por Anthony van Dyck . Galeria Nacional, Londres, Domínio Público, Wikimedia Commons

Santo Ambrósio, Arcebispo e Doutor da Igreja († 397)

Entre os grandes doutores da Igreja, é Santo Ambrósio um dos que ocupam os primeiros lugares. Extraordinário em ciência, inigualável na arte retórica, poeta fecundíssimo, Príncipe modelar da Igreja, Santo Ambrósio é o vulto mais eminente do clero católico no século quarto. Nasceu em Tréves, onde viu a luz do mundo em 340. O pai de Ambrósio era governador de grande parte da Itália, Espanha, França e Alemanha. Pela morte do pai, a família de Ambrósio mudou-se para Roma. Ambrósio começou os estudos e decorridos poucos anos, já seu nome, como orador e poeta, estava na boca de todos. Tantos eram os triunfos, que alcançava nos tribunais de Roma, que o governo resolveu manda-lo para o norte da Itália, como governador daquela parte do império, com residência em Milão. Pela morte de Auxencio, bispo de Milão, a cidade foi teatro de lutas apaixonadas entre católicos e arianos. Ambrósio, como governador, julgou ter o dever de intervir naquela questão, que ameaçava degenerar em guerra religiosa.

Pela firmeza, prudência e circunspecção, mas antes de tudo pela eloquência arrebatadora, conseguiu que os ânimos serenassem e acabassem as contendas. Deu-se na mesma ocasião um fato extraordinário, que impressionou profundamente tanto os católicos, como arianos. Ambrósio mal tinha terminado o discurso, diante de muito povo, quando uma criança levantou bem alto a voz e disse: “Ambrósio é nosso Bispo!” Católicos e arianos atônitos entreolharam-se e a multidão, que enchia o templo, rompeu na aclamação uníssona: “Ambrósio será nosso Bispo! ” Embora este protestasse contra a manifestação da vontade do povo, embora alegasse que não era batizado ainda, a multidão não se deixou demover daquela atitude, e mais alto ressoaram as aclamações: “Ambrósio é nosso Bispo!” O Imperador Valeriano, colocando-se ao lado do povo, empenhou-se com sua autoridade, para que Ambrósio aceitasse a dignidade episcopal. Ambrósio, porém, fugiu de Milão, mas, passados alguns dias, foi pelo povo levado em triunfo à cidade, onde então sucessivamente recebeu os sacramentos do Batismo e da Ordem.

Uma vez bispo, entregou-se às obras da caridade, revelando ao mesmo tempo um zelo apostólico extraordinário. A grande fortuna desapareceu-lhe nas mãos dos pobres e o jejum que guardava, era tão rigoroso e desapiedado, que os discípulos se julgaram obrigados a dirigir-lhe o pedido de poupar a saúde. Ambrósio respondeu: “Muitos já morreram pelo excesso no comer, porém ninguém ainda jejuando.” Três coisas Ambrósio propôs-se:

A celebração quotidiana da Santa Missa, a pregação dominical e a luta contra a heresia e os maus costumes. Únicos em beleza são os tratados que escreveu sobre a castidade e virgindade das donzelas, que, movidas pelas instruções de Ambrósio, deixaram em grande número o mundo, para abraçar a vida religiosa. As pregações do Santo Prelado eram tão abençoadas por Deus, que inúmeros hereges se lhe prostraram aos pés, pedindo absolvição do erro e readmissão no seio da Igreja. O maior triunfo da vida apostólica de Santo Ambrósio é a conversão de Santo Agostinho, o qual, ouvindo a palavra evangélica do santo Arcebispo, o procurou e abjurou a heresia do Maniqueísmo.

A sombra acompanha a luz. Era natural que o demônio e respectivos sequazes movessem guerra ao homem de Deus. Uma inimiga fidalga surgiu-lhe na pessoa da Imperatriz Justina, adepta fanática do Arianismo. Furiosa por causa da grande influência do Arcebispo, por essa paixão nada poupou, para fazê-lo desaparecer. Dinheiro, intrigas, maledicências, calúnias e perseguições disfarçadas e abertas eram as armas a que recorreu aquela mulher, para conseguir o diabólico plano.

Todas estas tramoias falharam, ante a dedicação e amor, que o povo tributava ao bispo. Justina fez valer a autoridade de mãe junto ao filho, o Imperador Valentiniano II, que exigiu de Ambrósio a entrega de tema das igrejas aos arianos. Ambrósio respondeu-lhe: “As praças do mundo pertencem ao Imperador, as igrejas ao Bispo. Se esqueceste, que és príncipe católico, eu te mostrarei que sou bispo católico! Não serei traidor do rebanho de Cristo, e não entregarei o templo de Deus aos falsificadores da fé. Se quiseres minha fortuna, toma-a; minha vida está em tuas mãos, mas não a entregarei senão nos degraus do altar.”

Justina escumava de ódio e mandou sicários, com ordem de assassinar o Arcebispo. Este, porém, defendido pelos fiéis, saiu incólume de todos os perigos. Um dos facínoras, experimentou o castigo de Deus, no momento em que ia apunhalar o Arcebispo; o braço ficou-lhe duro. Ambrósio não só lhe perdoou o crime, mas ainda lhe curou o braço e despediu-o, dando-lhe conselhos paternais.

O Imperador Valentiano II, destronado pelo general Máximo, foi por Teodósio o Grande restabelecido no poder. Fiel ao costume observado em Constantinopla, Teodósio também em Milão escolhera lugar na igreja perto do altar. Ambrósio, vendo nisto uma arrogância indébita, intimou-o a descer para onde estavam os demais fiéis. “Pela púrpura és Imperador, mas não sacerdote,” disse a Teodósio, o qual, longe de levar a mal esta franqueza, disse aos amigos: “Afinal achei um homem, que me disse a verdade. Conheço só um, digno de ser bispo: e este é Ambrósio.”

Em 390 a plebe de Tessalônica tinha linchado o governador imperial. Teodósio, num acesso de furor, decretou a morte de todos os habitantes daquela cidade. Às instâncias de Ambrósio, desistiu da execução da sentença. Mais tarde, porém, esquecido da palavra dada ao Arcebispo, cometeu o crime bárbaro. Ambrósio, inteirado do ocorrido, excomungou Teodósio e condenou-o a fazer penitência pública. Quando, apesar da excomunhão, em dia de grande festa, Teodósio se dirigiu ao templo, para assistir aos santos mistérios, encontrou na porta Ambrósio, em ornato episcopal, vedando-lhe a entrada.

“Tuas mãos estão ainda gotejando do sangue de justos, – disse ao Imperador, – e tu te atreverás a levanta-las a Deus? Terás a ousadia de receber o corpo de Deus na boca, que proferiu uma sentença tão horrível?” Teodósio animou-se a replicar: “Não pecou também o rei David?” Ambrósio respondeu: “Como imitaste a David no pecado, imita-o também na penitência!” Teodósio humildemente aceitou o que o Arcebispo lhe impôs e durante oito meses fez penitência pública.

Ambrósio morreu em 397, depois de ter precisado o dia do trânsito. A morte do grande Bispo foi muito sentida por todos e considerada um desastre para a Itália. Stilicão, o célebre general do Imperador, chegou a dizer: “Se este homem morre, a Itália está perdida. Grande foi a alegria da cristandade toda, quando em 1871 foram descobertas as relíquias de Santo Ambrósio, que se julgavam perdidas; pois durante 1.000 anos se ignorava o lugar onde tinham sido depositadas.

REFLEXÕES

“Não temo a morte, porque temos um bondoso Senhor” – disse Santo Ambrósio. Sim, temos um Senhor de uma misericórdia ilimitada. Consolem-se com esta verdade aqueles, que durante a vida procuraram fazer o bem e servir à Deus com toda a fidelidade. É coisa sabida, que o demônio procura inocular o desânimo nas almas dos fiéis servidores de Deus. A lembrança dos sacrifícios, das orações e das boas obras, a lembrança das confissões bem feitas, pelo contrário, deve enchê-las de ânimo. Com Santo Ambrósio, digam confiadamente: “Nós temos um Senhor muito bondoso.” Nele pus toda a minha confiança e esperança. Não hei de ser confundido. O exercício da esperança é utilíssimo, para aqueles que se vêm tentados pelo desânimo e pelo desespero, quando a consciência lhes dá o testemunho de terem cumprido o dever. “O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem devo, pois, temer? O Senhor é o protetor de minha vida, diante de quem temerei? Ainda que exércitos se levantem contra mim, meu coração não temerá. Não aparteis de mim a vossa face! Vós sois meu protetor; não me abandoneis e não me desprezeis, vós, meu Deus e Salvador! (Ps. 26.1. 3. 9.) “Por vós clamei, Senhor. Disse: vós sois minha esperança e minha porção na terra dos viventes.” (Ps. 141. 6.) “Coração de Jesus, em vós confio!”

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.

Última atualização do artigo em 27 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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