Santo André, Apóstolo († 70)
André, entre os Apóstolos o primeiro eleito, era irmão carnal de S. Pedro, e como este pescador de Betsaida e um dos discípulos de S. João Batista. Jesus chegou ao Jordão, ao lugar onde João batizava e este disse aos discípulos: “Eis aí o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo. É este que virá depois de mim.” André, compreendendo o sentido desta palavra, seguiu a Jesus com mais outro discípulo (provavelmente São João Evangelista). Jesus recebeu-os, perguntando-lhes: “Que desejais?” Eles responderam: “Mestre, onde moras?” – Ao que Jesus respondeu: “Vinde e vede!” Foram e passaram o dia todo com Ele. André encontrou o irmão Simão e disse-lhe: “Encontrámos o Messias, que é o Cristo.”
E levou-o a Jesus. Jesus olhou-o e disse: “Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cephas, que quer dizer Pedro, isto é, pedra.” Ainda não ficaram definitivamente com Jesus Cristo, mas voltaram aos seus negócios. Só pelo fim daquele mesmo ano foi que Jesus os procurou no lago Genesareth e tendo-os encontrado, quando lavavam as redes, disse-lhes: “Segui-me, far-vos-ei pescadores de homens.” Então abandonaram as redes e seguiram Jesus e não o abandonaram mais.
Os Santos Evangelhos relatam que Jesus Cristo, tendo passado a noite toda em oração, entre setenta e sete discípulos escolheu doze Apóstolos, dos quais André é enumerado em segundo lugar. Como dos outros Apóstolos, também de Santo André, os santos Evangelhos poucas notícias dão. A Tradição sabe que André, logo depois da descida do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, partiu para a Scythia, país situado ao norte dos mares Negro e Cáspio. Mais tarde vemos o Apóstolo em Colchida, na Thracia e na Grécia. Por último fundou uma Igreja em Taras, na Achaia, que foi uma das mais florescentes dos tempos apostólicos.
A jovem Igreja encontrou aí um inimigo encarniçado na pessoa de Egéas, governador romano, que não recuava diante das medidas mais crucias e desumanas, para defender a idolatria. André, com franqueza verdadeiramente apostólica, se lhe apresentou e disse: “Exiges dos teus súbditos que te reconheçam como juiz. Tens razão. Porque é então que te recusas a reconhecer o supremo Juiz, Jesus Cristo, que é juiz do mundo inteiro?”
Egéas respondeu: “És tu aquele André que derruba os templos de nossos deuses, e mete tolices na cabeça dos simples, para que abracem essa religião supersticiosa, contra a qual os Imperadores deram ordens as mais severas?” – André: “Estas ordens foram dadas por Imperadores que desconhecem a verdade; desconhecem a Jesus Cristo, o Filho de Deus, que veio a este mundo para salvar os homens; são deuses, mas abjetos demônios.” Egéas: “Os judeus crucificaram Jesus Cristo justamente por causa desta doutrina.” – André: · “Ah! se conhecesses o mistério da Cruz e compreendesses quem é Ele, que, Criador de todos os homens, por amor de nós tomou livremente a Cruz sobre si, para nos salvar!” – Egéas: “Livremente não, porque foi processado, preso, condenado e crucificado.” – André: “Quem, como ele, predisse a morte; quem, como ele, predisse ainda o modo porque havia de morrer; quem, como ele, depois de morto, ressuscita glorioso do sepulcro; quem, como ele, disse: “Eu tenho o poder de entregar a minha vida e de reavê-la e confirma esta doutrina por fatos inegáveis, morreu porque quis, morreu livremente e a salvação é um fato que se impõe à crença de todos.” – Egéas: “É um absurdo ser discípulo de um crucificado.” – André: “Se me quiseres ouvir, eu te explicarei este mistério.” – Egéas: “A desconhecem ainda que os deuses não morte na cruz não é mistério nenhum, antes vergonha e castigo.” – André: “Uma coisa e outra: Um castigo porque pela morte da cruz foi tirada a culpa do pecado; mistério, porque tornou fato a graça substituiu o castigo e aos fiéis é garantida a vida eterna.” Egéas: “Com estas fatuidades divertirás a quem quiseres; eu, porém, te digo: Se não abandonares esta religião, se não renderes honra aos deuses, eu te mandarei à flagelação e mesmo à cruz, visto lhe teres tanta veneração.” – André: “O sacrifício que eu dia por dia ofereço, não é incenso, não são holocaustos de bois e carneiros, mas é o Cordeiro Imaculado oferecido a Deus vivo e verdadeiro. Os fiéis bebem o sangue e comem a carne deste Cordeiro, que não morre e a todos dá vida.” Egéas: “Como é possível isso?” – André: “Se quiseres tornar-te meu discípulo, eu te explicarei.
A este convite de graça Egéas respondeu com ordem de prisão. André foi encarcerado e no dia seguinte foram reiteradas as ameaças de morte e as intimações de prestar culto aos deuses romanos. André respondeu ao governador com firmeza e mansidão: “Meu martírio tornar-me-á mais agradável a Deus; meu sofrimento pouco tempo durará, ao passo que teu tormento não terá fim.” – Egéas, fora de si ao ouvir estas palavras, lavrou a sentença de que o inimigo da religião e do império fosse flagelado e crucificado.
Esta injustiça provocou grande indignação entre o povo. Levantando solene protesto, entre ameaças e maldições, este exigiu de Egéas a liberdade do querido pastor. André, porém, receoso de perder a palma do martírio, pediu aos fiéis que, pelo amor do sangue de Cristo se abstivessem de atos de violência e não o retardassem no caminho da glória.
Foram assim executadas as ordens bárbaras de Egéas. Chegado ao lugar do suplício, André, vendo o instrumento do martírio pronto para recebe-lo, saudou-o com estas palavras: “Salve, santa Cruz, tão amada e desejada! Tira-me do meio dos homens e entrega-me ao meu Mestre e Senhor, para que eu de ti receba o que por ti me salvou.”
Todos se admiraram da coragem e da alegria que se estampavam no rosto do Apóstolo mártir, quando se entregou aos algozes.
Pregado na cruz, ficou dois dias nesta posição, edificando a todos os assistentes com os conselhos e orações. Aparecendo ainda com vida no terceiro dia, os fiéis quiseram à força liberta-lo do tormento, mas quando puseram mãos à obra, uma luz intensíssima desceu do céu e envolveu o corpo do Apóstolo, pelo espaço de meia hora; passada esta, André tinha entregue a alma a Deus. Uma piedosa mulher, Maximilla, tirou da cruz o corpo do Apóstolo e sepultou-o com muita honra. Egéas, tendo disto notícia, enfureceu-se e ordenou a exumação do cadáver. Deus, porém, castigou-o horrivelmente. Egéas ficou possesso do demônio e morreu em pleno desespero.
Trezentos anos mais tarde as relíquias de Santo André chegaram a Constantinopla, onde permaneceram até o tempo do Papa Pio II, o qual as mandou transportar para a Catedral de Amalfi, na Itália, onde até hoje se acham. A data do Martírio de Santo André é o dia 30 de Novembro do ano 70.
REFLEXÕES
Nota duas palavras bem memoráveis de Santo André. “Todos os dias ofereço em sacrifício a Deus um Cordeiro imaculado.” Pode haver um testemunho mais claro de que o Apóstolo celebrou diariamente a santa Missa? A nenhum outro sacrifício a não ser ao sacrifício da santa Missa é aplicável esta expressão de Santo André. Todos os Santos Padres, que escreveram sobre o santíssimo Sacramento, vêm nele o sacrifício do novo Testamento. E fora de dúvida que Cristo, instituindo o santíssimo Sacramento entre as cerimônias da última ceia, instituiu a santa Missa. Aviva tua fé na santa Missa e assiste ao santo sacrifício com o maior respeito e com muita piedade. – A outra palavra de Santo André foi esta: “As honras que me são oferecidas, não as aprecio, por serem temporais e passageiras. O martírio, com que me ameaçaram, não o temo, porque sua duração não é eterna.” O que o Apóstolo quer dizer é que honras mundanas, riquezas e prazeres, não têm subsistência. Loucura seria, pois, procurá-los desordenadamente e menosprezar os bens eternos. O sofrimento aqui na terra também não é eterno. As penas do inferno, porém, que são a paga do pecado, duram eternamente. É melhor sofrer, penar e trabalhar, enquanto temos vida aqui na terra, para não experimentarmos as penas de além túmulo.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.
Última atualização do artigo em 26 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico