Santos Vito, Modesto e Crescência, Mártires † 330
SÃO VITO, filho de nobre família pagã da Sicília, viu a luz do mundo em Mazara, onde nasceu pelos fins do século terceiro. Bem cedo seu pai Hylas confiou-o aos cuidados de Modesto e Crescência, casal cristão de muita virtude. Como era costume dos pagãos ricos, não cuidavam da educação de seus filhos, tarefa que cabia aos escravos. Modesto e Crescência, tomaram muito a sério a educação da criança, cuidando porém, muito mais da parte espiritual do que da material. Clandestinamente levaram-na ao oratório para que recebesse o batismo das mãos do sacerdote. Logo após as cerimônias sacramentais, Crescência tomou em seus braços o pequeno entesinho, beijou-o carinhosamente e disse: “Agora, Senhor, meu Deus, dai a vossa bênção a esta criancinha, para que ela cresça na fé que hoje recebeu, e se torne digna de entrar no vosso reino, que lhe prometestes”. Sob a vigilância e o carinho verdadeiramente paternais de Modesto e ele sua mulher, Vito cresceu e junto com o desenvolvimento físico e intelectual formavam-se no seu coração as virtudes mais preciosas cristãs. Vito contava doze anos apenas, e já era um cristão perfeito, de que Deus se servia para coisas extraordinárias. Não era possível, que seu pai ficasse na ignorância, desconhecendo as condições em que vivia seu filho, e, sendo ele inimigo rancoroso da religião cristã, não podia faltar que seu ódio se estendesse também a Vito, principalmente depois de ver frustradas todas as tentativas no sentido de faze-lo abjurar a fé cristã e prestar homenagem às divindades. Vito opôs à ira de seu pai a uma mansidão imperturbável e dizia : “Meu pai! porque o Senhor não quer conhecer e adorar Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo. Ele é o cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo. Para nos salvar e fazer nos felizes eternamente, ele morreu em uma cruz não há nada no mundo que possa tirar do meu coração o amor que Lhe tenho.” Estas palavras, em vez de abrandar a ira do pai, excitaram-na mais ainda . Hylas tanto se esqueceu de sua dignidade de pai, que chegou a maltratar barbaramente seu filho. Vendo, entretanto, que nada conseguia, entregou-o ao governador Valeriano, para que tomasse as providências, que a lei exigia.
Valeriano recorreu a todos os meios para levar a Vito a apostasia. Por fim empregou a força bruta, e ordenou que o jovem fosse açoitado. Quando, porém, os verdugos levantaram as vergastas, para executar a ordem recebida, paralisaram-se-lhes as mãos a eles e a Valeriano. Este, embora supondo que se tratasse de um embuste, pediu a intervenção de Vito. Este fez o sinal da cruz sobre os membros imobilizados e curou-os. O governador entregou-o novamente ao pai, não deixando faltar recomendações a este, para que insistisse com Vito visto que se tratava da honra dos deuses e do prestígio das ordens imperiais.
Hylas mudou então de tática com seu filho, e cumulou-o de atenções, prodigalizando-lhe toda a sorte de prazeres. Para se assegurar mais ainda da sua queda, assalariou mulheres depravadas que o tentassem de todas as maneiras. Um dia conduziu-o para um rico salão e, retirando-se inesperadamente, fechou a porta à chave. Vito, olhando em redor, já não se via só. Mais depressa do que podia pensar, viu-se rodeado de raparigas cinicamente vestidas, a convida-lo para se entregar a ações vergonhosas. Vito, apavorado caiu de joelhos e implorou o auxilio do céu. No mesmo momento uma claridade admirável encheu o salão, e ao lado do jovem apareceu um anjo do Senhor. As mulheres não mais se atreveram a dar um passo adiante. Hylas que se colocara do lado de fora observando por uma fresta da porta a cena que se desenrolava no chão, sentiu uma dor agudíssima na vista, que o fez gritar desesperadamente. Vito fez os sinal da cruz sobre a vista do seu progenitor, que no mesmo instante se viu livre do tormento. Nem assim o pai mudou de sua atitude perversa. Tendo seu filho por feiticeiro, inventou e aplicou-lhe novas crueldades.
Modesto e Crescência por um aviso do céu, conceberam a idéia de proporcionar a Vito a possibilidade de se livrar do pai pela fuga. Embarcaram com ele num navio que os levou ao reino de Nápoles. Se agora se julgavam seguros, foi um triste engano seu. Sua piedade, seu modo de viver, sua fé profunda e não em último lugar o dom de milagres que Deus lhes dera, chamaram a atenção dos pagãos, que os denunciaram. Veio ordem imperial de sua prisão e tiveram de responder ao tribunal do juiz pagão. Os processos foram os mesmos: primeiro louvaminhas, promessas mil para faze-los abandonar a religião proibida; depois ameaças, cárcere e aplicação de torturas bárbaras. Os Santos enchiam a prisão de orações e cânticos de louvor a Deus.
Afinal foram condenados à luta com as feras. O próprio imperador quis presenciar a cena, e vendo-os entrar na arena, disse-lhes: “Quero ver, se vosso Deus é capaz de livrar-vos das minhas mãos.” Vito respondeu: “Tua fúria deixa-me calmo. Pela graça de Jesus Cristo recebemos o espírito da simplicidade e somos mansos como uma pomba; também Ele, nosso modelo, nosso Mestre foi manso. Aqueles que querem ser seus discípulos, devem, com Ele ser mansos e humildes. Mansidão e paciência dá aqueles, que se lhe dedicam. Fortalecidos por ele são como cordeiros no meio dos lobos. Ele é o pastor bom e onipotente, de cujas mãos ninguém arrebatará uma só ovelha. Não desejo viver por mais tempo; mas tenho um pressentimento, que me diz, que o Pastor supremo me protegerá contra o furor dos teus leões.”
O imperador deu ordem para que fosse solto o leão mais vigoroso. Apareceu a fera e aconteceu o que ninguém esperava. Em vez de se atirar furiosa sobre as pobres vítimas, delas se acercou mansamente e deitou-se aos seus pés. Mas a fera que o próprio leão, mostrou se tirano. Ordenou que os três mártires fossem despidos e metidos em um banho de piche e chumbo derretido. Como os três mancebos na fornalha da Babilônia, entoaram cânticos de louvor a Deus e, como eles incólumes saíram. Os verdugos então se precipitaram sobre eles, e com requintada crueldade rasgaram-lhes as carnes. No meio destes tormentos indizíveis, clamaram ao céu, dizendo: “O Deus, livrai-nos pelo poder de vosso nome.” E eis um anjo e com requintada crueldade rasgaram-lhes as carnes. No meio destes tormentos indizíveis, clamaram ao céu, dizendo: “O Deus, livrai-nos pelo poder de vosso nome.” E eis um anjo do Senhor veio livra-los das mãos dos seus perseguidores. Deus aceitou seu sacrifício e recebeu os no seu reino glorioso. Uma piedosa mulher, Florência, enterrou os corpos dos mártires, cuja morte ocorreu no ano de 300 aproximadamente.
As relíquias de São Vito estão guardadas na magnífica Catedral de seu nome em Praga. São Vito é invocado nos casos de epilepsia.
REFLEXÕES
São Vito teve ótimos instrutores nas pessoas de Modesto e Crescência, quando Hylas seu pai tudo fez para afastai-o da religião. Pais que querem educar bem seus filhos, devem lhes dar uma sólida instrução sobre as verdades principais da religião. Não merecem o titulo honroso de pais aqueles, que por preguiça ou por uma falsa vergonha não cumprirem esse seu dever. Ninguém melhor do que eles estão em condições de em linguagem apropriada lhes falar de Deus, que é o Senhor do céu e da terra; de Deus, que a todos dá a vida e a conserva; de Deus, que é santo e quer que os homens sejam santos; de Deus, que recompensa os bons e castiga os maus; de Deus, que é todo poderoso, onisciente e está presente em todo lugar; de Deus, a quem nós todos devemos amar e servir, para receber a glória eterna. Ensinar os filhos estas grandes verdades, é preparai-os para a luta que os espera. As verdades da religião, uma vez gravadas no coração da criança, dão-lhe uma direção firme para toda a vida, serão sua alegria, ou sustentáculo e seu consolo. Lastimáveis os filhos, cujos pais os deixaram na ignorância das verdades principais da religião.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume I, 1928.
Última atualização do artigo em 22 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico