São Cipriano e Santa Justina, Mártires († 304)
São Cipriano, cognominado feiticeiro, natural de Antioquia na Fenícia foi pelos pais introduzido em todos os segredos da superstição, astrologia e feitiçaria. Para ampliar os conhecimentos na arte mágica, fez grandes viagens e visitou os centros principais do mundo, como Athenas, Memphis, Argos e a Índia. Mestre em todas as artes diabólicas da feitiçaria, entregou-se a uma vida desbragada. Para a religião cristã havia só insultos; crianças inocentes eram as vítimas prediletas; tendo-as enforcado, oferecia o sangue das mesmas como holocausto ao demônio e nas entranhas ainda palpitantes procurava conhecer os segredos do futuro. Perseguição atroz fazia às donzelas, aproveitando-se de enredos diabólicos, para demove-las do caminho da virtude. Malogravam, porém, esses artifícios diante das jovens cristãs.
Uma delas era Justina, que morava em Antioquia, cristã fervorosa, porém filha de pais pagãos. Formosa de corpo e espírito, pelo exemplo fez com que toda a família se convertesse ao cristianismo. Agladio, jovem pagão, ardia pela virgem cristã. Não podendo, porém, cativar-lhe o afeto, recorreu aos artifícios mágicos de Cipriano. Justina experimentou em si os acessos diabólicos, os quais conseguiu debelar pela oração e pelo sinal da Cruz. Vendo-se tão rudemente assaltada pelas tentações mais horríveis, a virgem recomendo-se frequentemente à Rainha das Virgens e saiu vitoriosa das insídias do inimigo. Este fracasso dos estratagemas mais poderosos fez Cipriano duvidar do poder dos demônios e tomar a resolução de livrar-se deles. Lutas terríveis foram a consequência desta resolução; pois o demônio de tão bom grado não ia privar-se de um instrumento utilíssimo, como era Cipriano. Apoderou-se lhe do espírito uma profunda tristeza e a lembrança dos feitos passados levou-o quase ao desespero. Deus mandou-lhe alívio pelo sacerdote Eusébio. As orações e as palavras confortadoras deste santo homem fizeram com que Cipriano não desfalecesse no meio do caminho. Grande foi a surpresa dos fiéis, quando viram o grande e terrível feiticeiro num domingo entrar na igreja, conduzido por Eusébio. O próprio Bispo não quis acreditar no que via e pôs-se a duvidar da seriedade desta conversão. Cipriano, porém, trouxe todos os livros cabalísticos e entregou-os ao fogo, na presença de todo o povo e distribuiu a fortuna entre os pobres. À vista desta mudança radical, o Bispo consentiu que Cipriano fosse batizado. Junto com ele Agladio recebeu o sacramento do batismo. Justina, vendo as maravilhas da divina graça, cortou a linda cabeleira e pelo voto de virgindade perpétua dedicou-se ao serviço de Deus.
A conversão de Cipriano foi sincera e constante. Os escanelados dados na vida passada, reparou-os pela conduta exemplar e pela prática das mais belas virtudes. A dedicação à causa de Deus mereceu-lhe a dignidade de sacerdote e mais tarde Bispo. Veio a perseguição diocleciana. Cipriano foi levado a Tyro, onde sofreu atrozmente. Também Justina, acusada de cristã, foi apresentada ao governador da Fenícia, que a submeteu à flagelação crudelíssima. Transportados para Nicomedia, onde se achava Diocleciano, pelo próprio Imperador foram sentenciadas à morte pela decapitação. A sentença foi executada em 304. As relíquias dos dois mártires foram trasladadas para Roma, onde Rufina, cristã fervorosa da família dos Claudios, erigiu uma igreja sob a invocação de Cipriano e Justina. Hoje os corpos destes dois grandes mártires descansam na igreja de S. João de Latrão em Roma.
NOTA – Se S. Cipriano detestou suas próprias obras de feitiçaria e queimou-as publicamente; com que direito se servem ainda hoje muitos cristãos do livro de S. Cipriano, para fins supersticiosos e diabólicos? Além de ser mais do que duvidoso que este livro seja da lavra de S. Cipriano, é uma obra perniciosa, cuja leitura é proibida pela Igreja.
REFLEXÕES
Cipriano e Agladio converteram-se ao cristianismo e chegaram a um alto grau de santidade, devido à resistência firme e resoluta que encontraram em Santa Justina. Cipriano, em sinal de sinceridade de sua conversão, atirou ao fogo com os livros ímpios que possuía e os instrumentos de que se servia, nas práticas da feitiçaria. Que belo exemplo deu a todos! A conversão de feiticeiros e impuros é um milagre extraordinário da graça divina, que vemos operado em Cipriano e Agladio, que resolutamente romperam com o pecado, para servir a Deus e santificar a alma. Graça igual terão todos os escravos do vício da impureza, se de coração e com sinceridade procurarem remover o obstáculo da união com Deus. A conversão da vida impura a uma vida santa exige o afastamento de tudo que contrária a virtude angélica, como sejam maus livros, revistas imorais, amizades e entrevistas perigosas e inconvenientes, certas liberdades entre pessoas de sexo diferente, etc. Se Santa Justina não tivesse rejeitado as insinuações pecaminosas, Cipriano e Agladio não se teriam convertido. Se tivesse dado consentimento à tentação, os três, que agora ornam os santos altares, talvez sofressem penas eternas, cobrindo-se de maldições mutuamente. Pela firmeza, porém, mereceu a si própria a graça da perseverança e a conversão para os dois jovens. O exemplo de Santa Justina ensina-nos que as armas contra o espírito impuro são: a fuga da ocasião, a vigilância, a oração, a devoção à Santíssima Virgem e a recepção dos santos Sacramentos.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.
Obs.: Imagem dos Santos não disponível.
Última atualização do artigo em 20 de março de 2025 por Arsenal Católico