Litografia do Papa São Dâmaso I ( Lisboa , 1840), Biblioteca Nacional de Portugal, Domínio Público, Wikimedia Commons

São Dâmaso, um dos maiores Papas da Igreja de Deus era espanhol. Órfão de mãe, levou-o o pai a Roma, para receber urna sólida educação religiosa e científica. Os progressos que fez foram tão notáveis, que Dâmaso foi tido como um dos homens mais santos e sábios do seu tempo. Na qualidade de diácono da Igreja de Roma, acompanhou o Papa Libério ao exílio. Pela morte deste Papa, foi elevado ao trono pontifício, em atenção à sabedoria e santidade que o distinguiam, como também ao zelo e coragem com que defendera a Igreja contra a heresia. O governo de S. Dâmaso durou dezessete anos e dois meses e coincidiu com épocas bem angustiosas. Todos os escritores eclesiásticos daquele tempo lhe tecem os maiores elogios. S. Jerônimo chama-o o grande amador da castidade e mestre evangélico da Igreja virginal. Theodoreto vê nele um homem adornado de todas as virtudes e digno de todo o louvor. Santo Ambrósio reconhece em Dâmaso um instrumento escolhido pela divina Providência, para o bem da Igreja de Cristo. Os bispos, reunidos em Constantinopla, elogiam-no pela firmeza heroica na defesa da santa fé, dando-lhe o título honroso de diamante invencível da fé. Em diversas ocasiões patenteou esta firmeza evangélica. Logo depois da sua eleição se formou uma corrente fortíssima contra a pessoa de Dâmaso, com o fim induvidável de derruba-lo do trono pontifício. A alma deste movimento foi um tal Ursino, que ambicionava para si a dignidade papal. Dâmaso, receoso de ser causador de cisma, declarou-se pronto a renunciar à tiara pontifícia e retirar-se à vida privada. Os elementos bons, porém, opuseram-se a isso, e empregaram todos os esforços, até que o governador romano se resolveu, a mandar para o exílio o promotor das desordens. Vendo frustrados os planos, os adversários de Dâmaso recorreram a um outro estratagema, – à calúnia, acusando o Papa de uma falta gravíssima contra a virtude angélica. A grande maioria, porém, dos fiéis, não deu crédito a estas acusações, porque lhe era bem conhecida a santidade do Supremo Pastor. Dâmaso, porém, julgou ter o dever de provar publicamente a inocência. Para este fim, convocou em Roma um Concílio de quarenta Bispos e convidou os detratores para que apresentassem a este tribunal as queixas e acusações. Não tardou fazer-se luz naquela questão e os caluniadores confessaram publicamente o pecado.

Algum tempo depois, começou a luta contra a heresia, que tinha levantado a cabeça em diversos lugares, até na capital da cristandade. Em diversos Concílios parciais e finalmente no Concílio ecumênico de Constantinopla, foi condenada a heresia de Macedônio e desterrado o respectivo autor.

O Pastor vigilante trabalhou incessantemente no melhoramento da organização da Igreja. Muitas Igrejas foram construídas e as relíquias de muitos mártires, por iniciativa do Papa, foram entregues à veneração dos fiéis. Homens importantes do tempo, como Atanásio, Ambrósio e Jerônimo faziam parte do conselho particular do Pontífice. A S. Jerônimo a Igreja deve a tradução dos livros bíblicos para a língua latina. A confiança de que Dâmaso gozava do povo cristão era tão grande, que os Imperadores Teodósio, Graciano e Valentiniano ordenaram expressamente aos súditos, que não aceitassem outro Credo a não ser aquele que São Pedro pregara em Roma e que era ensinado por seu sucessor Dâmaso; que haviam de considerar errôneas e heréticas as doutrinas por Damaso como tais censurados. O Imperador Graciano promulgou uma lei, que determinava a competência jurídica do Papa em julgar as questões que houvesse entre Bispos.

Grande interesse manifestou Dâmaso pela digna celebração dos mistérios. Por sua iniciativa, foi reformada a igreja de São Lourenço e enriquecida com belíssimas pinturas.

Dâmaso morreu na idade de oitenta anos.

Consta que ainda em vida, com uma pequena oração, restabeleceu a vista a um cego. No túmulo se lhe deram grandes milagres. Muitos possessos de demônios, por intercessão de S. Dâmaso, ficaram livres do mau espirito e inúmeros doentes recuperaram a saúde.

REFLEXÕES

Como discípulo e imitador de Jesus Cristo, Dâmaso perdoava aos inimigos. Perdoar aos inimigos e rezar por aqueles que nos perseguem, é particularidade muito cristã. O Antigo Testamento conhecia a lei da vingança que permitia tirar desforra. Jesus, porém, ensinou uma lei mais perfeita, a lei da caridade, que obriga a todos que querem ser seus discípulos. Pela lei da caridade e a observação da mesma se distingue o mundo do reino de Nosso Senhor. O mundo não conhece a caridade e muito menos o perdão. Jesus Cristo estabelece o humano perdão aos nossos semelhantes, como condição de obtermos o perdão divino dos nossos pecados. Quem não perdoa, não quer ser perdoado. Quem não perdoa, esquece-se que nunca, ofensa alguma que sofreu do seu semelhante, poderá ser igual em gravidade à mínima ofensa que fez a Deus, cujo perdão impetra. Quem não quer perdoar, de boa consciência não pode rezar o Pai Nosso, em que pede a Deus perdão dos pecados, à medida que perdoa aos inimigos. A este respeito escreve Santo Atanásio: “Se não perdoas o mal que te fizeram, nada pedes para ti; pelo contrário, em vez de pedires perdão a Deus, provocas sua ira em dizer: perdoai-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.” O mesmo diz S. Crisóstomo: “Como podes levantar as mãos ao céu ou mover tua língua e pedir perdão? Posto que Deus te queira perdoar, não lh’o permites, enquanto não mudares tua atitude hostil contra teu irmão.”

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.

Última atualização do artigo em 27 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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