São Francisco Xavier ( Século XVI)

São Francisco Xavier, o grande Apóstolo das Índias, o maravilhoso taumaturgo do século dezesseis, glória da Igreja e da Companhia de Jesus, a que pertenceu, nasceu aos 7 de Abril de 1506, no castelo de Xavier, no reino de Navarra. Na idade de dezoito anos foi levado pelo pai a Paris, onde se matriculou na Universidade daquela cidade. Extraordinários foram os progressos que Xavier fazia nos estudos. Doutorou-se em filosofia e começou logo as preleções sobre esta mesma matéria. Uma inteligência raríssima e outras qualidades apreciáveis foram os dotes com que Deus distinguiu a quem tinha escolhido, para ser-lhe nas mãos instrumento de um apostolado fertilíssimo. O ideal de Xavier era ser grande no século, e encher o mundo de glórias de seu nome. Passados alguns anos, o pai quis chama-lo para junto de si; a irmã, porém, que era priora no convento das Clarissas em Gandien, religiosa de muita virtude e santidade, fez com que desistisse desta ideia, porque Xavier, assim profetizou, era por Deus predestinado a ser Apóstolo de muitos povos.

No tempo que Xavier esteve em Paris, vivia na mesma cidade um outro grande eleito do Senhor – Santo Inácio de Loyola. Conhecendo os grandes talentos de Francisco, tratou de travar relações com este, na intenção de ganha-lo para a causa do Senhor. Não era fácil conseguir este propósito, visto a vaidade e a ambição de Francisco terem em mira fins bem diferentes. Inácio, porém, esclarecido por uma luz divina, não desanimou e, graças à oração e à insciência na palavra de Cristo: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder a alma” teve a satisfação de observar no discípulo uma grande mudança. Francisco entregou-se inteiramente à direção de Inácio e, tendo feito os exercícios espirituais, foi recebido entre os primeiros associados da Companhia de Jesus. Passado algum tempo, recebeu Francisco ordem de seguir para a Itália. Dois meses passou em Veneza, ocupando-se como enfermeiro no hospital. Existia ali um doente, cujo corpo estava coberto de úlceras asquerosas, que exalavam um cheiro nauseabundo. Como ninguém dele se quisesse compadecer, Francisco venceu heroicamente o nojo, que a moléstia lhe causava, tratou do pobre doente com todo carinho, chegando a ponto de abraça-lo, beijar-lhe as úlceras e sugar-lhes o pus. Deus recompensou este heroísmo e Francisco nenhuma repugnância mais sentiu dos doentes. Dois meses depois recebeu Francisco a ordenação sacerdotal. Quarenta dias de solidão, oração e penitência precederam a celebração de sua primeira Missa.

João III, Rei de Portugal, pediu ao Papa que mandasse seis sacerdotes da Companhia de Jesus para as possessões que a coroa portuguesa tinha adquirido nas Índias. Santo Inácio só dois pode destacar para aquela missão: os Padres Simão Rodriguez e Nicolau Bobadilha. Este adoeceu gravemente e para substituí-lo foi designado Francisco Xavier, por Deus escolhido para tão elevada missão. Com imensa satisfação recebeu Francisco este destino e pôs-se a caminho com o companheiro, não levando senão o crucifixo, o breviário e um bastão. Após viagem perigosíssima, chegaram a Lisboa, onde se hospedaram não no paço real, mas no hospital. Não havendo ocasião de partir para as Índias, Francisco prestou serviços aos doentes, como as circunstâncias o permitiam. Ao ver o grande zelo dos dois missionários, João III manifestou o desejo de pode-los reter em Lisboa. Com a licença do Superior Santo Inácio, ficou o Padre Simão Rodriguez em Portugal; Francisco, porém, prosseguiu na viagem para as Índias. Em sua companhia viajaram mais dois sacerdotes, que tinham sido admitidos na Companhia de Jesus. O navio levava 900 passageiros, dos quais grande número adoeceu. Francisco fez-se enfermeiro deles, e com os modos caridosos conseguiu leva-los todos à pratica de uma vida cristã. Esta missão continuou em Moçambique, onde o navio, sendo inverno, ancorou e ficou durante seis meses. O descanso noturno que Francisco se permitia, não excedia de três horas e servia-lhe de leito o soalho, de travesseiro a amarra. Já tinham passado treze meses da partida de Lisboa, quando afinal aportaram em Goa, capital das Índias. O Apóstolo São Thomé, assim reza a tradição, tinha pregado o Evangelho na Índia e convertido grande parte da população. Do cristianismo alguns vestígios tinham-se conservado através dos séculos. Francisco encontrou o paganismo em toda a pujança, do qual os portugueses pareciam ser os primeiros devotos. Foi em Goa mesmo que Francisco encetou os trabalhos apostólicos. Foram as crianças, a quem se dirigiu primeiro. Passando de rua em rua, ao som de uma campainha chamava grandes e pequenos, explicando-lhes em seguida a doutrina cristã, ensinando-lhes a rezar pequenas orações e cantar alguns cânticos religiosos. Muitas destas crianças tornaram-se apóstolos nas famílias e pediram aos pais que fossem procurar o grande missionário. Outros traziam ídolos dos pais e vizinhos e queimavam-nos na presença de Francisco. Ainda outros indicavam ao missionário os lugares onde havia crianças expostas, para que os batizasse antes de morrerem.

Tendo por algum tempo e com ótimo resultado catequizado a infância, Francisco dirigiu-se aos adultos. Aos cristãos pregava penitência e a santificação da vida; aos infiéis mostrava a verdade da fé cristã. Em tudo desenvolveu um zelo admirável. Os dias eram-lhe pequenos para vencer o trabalho que fazia, como pregar, confessar e batizar. As noites eram em grande parte passadas em oração e penitência.

De Goa Francisco se dirigiu a Piscária e ao reino de Travancor, onde batizou dez mil brâmanes. Na Piscária o; batizados eram tantos, que lhe cansavam o braço. Muitos sacerdotes pagãos, convencidos do erro do paganismo e da verdade da doutrina cristã, converteram-se. Em sua presença Francisco chamou à vida quatro mortos. Como os Apóstolos, possuía o dom das línguas. Sem ter aprendido o idioma hindu, com os múltiplos dialetos, pregava a doutrina cristã e todos o compreendiam perfeitamente. Esta circunstancia, bem como os numerosos e estupendos milagres que fazia quase diariamente, chamou a atenção dos povos circunvizinhos, que vinham da chusma, para conhecer o homem extraordinário e ouvir-lhe a doutrina.

Francisco empreendeu grandes viagens, no intuito de propagar o reino de Deus na terra. De uma ilha dirigiu-se a outra, de um remo passou a outro, dedicando todas as energias à causa da salvação das almas. De trabalhos, fadigas e sofrimentos não conhecia medida. Em sonho lhe foram mostrados os trabalhos e sofrimentos que lhe estavam reservados e Francisco, vendo-os, exclamou: “Ainda mais, Senhor! Mandai trabalhos, sofrimentos, provações!”

Em Meliapur visitou o túmulo do Apóstolo S. Thomé e passou ali muitas noites em oração. Em Malacca muitos maometanos, judeus e pagãos se converteram. Entre outros receberam o batismo uma mulher com sua filha única. Esta morreu e foi enterrada três dias depois a mãe se apresentou ao Santo, comunicou-lhe a morte da jovem e pediu-lhe que em nome de Jesus Cristo a chamasse à vida. Xavier retirou-se um momento para rezar, voltou e à mulher: “Vai, tua filha vive!” A mãe foi-se, com o auxílio de algumas pessoas abriu a cova e achou a filha viva e sã.

De Malaca embarcou para umas ilhas, que eram habitadas por antropófagos. O amor de Jesus Cristo não o fazia medir perigos e pronto estava para derramar o sangue, sempre que Deus o quisesse.

Quando, numa viagem por mar, fortíssima tempestade pôs em perigo a embarcação, Francisco entrou em oração e as ondas amainaram.

Sendo excessivo o trabalho para uma pessoa só, Santo Inácio mandou novos auxiliares sacerdotes e irmãos. Francisco estacionou-os em diversos lugares. Em companhia de um sacerdote e de um irmão, fez a viagem para o Japão, onde nunca tinha chegado à boa nova do Evangelho. Poucas linhas não chegariam para relatar os trabalhos apostólicos de Francisco no império do Sol nascente. Basta dizer que, como na Índia, a palavra, os milagres e a santidade de Francisco Xavier causaram grandes conversões.

O zelo apostólico não se lhe contentou com os resultados estupendos obtidos na Índia e no Japão. Mais longe lhe iam as aspirações. Depois de uma viagem de inspeção ás Índias, acompanhado por um Irmão, tomou um navio, que o devia levar à ilha de Sancian, que fica trinta milhas distante da China. Durante a viagem começou a faltar a água potável e houve muita doença a bordo. Francisco mandou que enchessem de água do mar alguns barris. Rezando sobre estes, mandou tirar daquela água, que se tinha convertido em água doce e todos recuperaram a saúde.

O desejo de Francisco de estabelecer o reino de Cristo na China, não pôde ser satisfeito. Aprouve a Deus chamar o fiel servo à eterna recompensa. Em 20 de Novembro foi Francisco acometido de um forte acesso de febre e por Deus cientificado da morte iminente. Uma sangria que se fez muito desajeitadamente, aumentou ainda os sofrimentos do doente.

Semelhante ao divino Mestre durante a vida, quis Francisco ser-lhe igual na morte. Paupérrimo, desprovido de todo conforto, longe dos seus, privado da assistência dos irmãos, morreu Francisco em 2 de Dezembro de 1552, na doce paz do Senhor. Os olhos do moribundo ou procuravam o céu ou o crucifixo; os lábios murmuravam-lhe incessantemente jaculatórias como: “Jesus! Maria! Filho de Davi, tende compaixão de mim! Maria, mostrai que sois minha mãe!”

As últimas palavras que disse, foram: “Em vós pus minha esperança, Senhor, não serei confundido.” S. Francisco, apesar de ter trabalhado só dez anos como missionário nas Índias e no Japão, levou milhares de almas ao céu.

Grandiosa apresenta-se-nos a obra de S. Francisco Xavier. Mais de cem mil milhas percorreu, para semear a palavra divina; em mais de cem ilhas e reinos pregou o Evangelho; a mais de duzentas mil pessoas administrou o sacramento do batismo e sem número é a multidão daqueles que por sua palavra foram levados à penitência e à fé verdadeira.

O corpo do Santo foi revestido de vestes sacerdotais, depositado num caixão e coberto de cal virgem, para assim acelerar a decomposição e possibilitar o mais breve possível a trasladação dos ossos para a Índia. Dois meses tinham já passado e nenhum sinal de decomposição se anunciava; o corpo do Santo exalava um doce perfume. A trasladação para a Índia foi feita com grande solenidade. Nos lugares onde o navio atracava, se realizaram grandes milagres. Ao chegar à cidade de Malaca, esta se viu livre da peste, que a assolava. O braço direito, com que o Apóstolo batizou a tantos milhares, foi separado do corpo e levado para Roma, onde goza de grande veneração.

É admirável observar como uma pessoa, em tão curto lapso de tempo, pode levar a efeito uma obra tão imponente, como o fez S. Francisco Xavier. Explicam-no o grande e ardente zelo do Santo pela salvação das almas, a santidade de vida, as virtudes que possuía em grau perfeitíssimo, os talentos extraordinários e antes de tudo a graça divina. Os biógrafos enumeram, entre os dons sobrenaturais que Deus concedeu a Francisco, os seguintes: o dom das línguas; o dom de conhecer as coisas futuras; o dom de ser orientado sobre coisas e acontecimentos, no mesmo momento em que se deram, em lugares bem distantes; o dom de fazer milagres, entre os quais se relatam vinte e cinco ressurreições de mortos. Dificilmente será encontrado um Santo dos últimos séculos, a quem Deus tivesse concedido tantos privilégios e por um prazo de muitos anos.

O Papa Urbano VIII, referindo-se a S. Francisco Xavier, disse: “Francisco foi um Apóstolo dos povos dos nossos tempos, verdadeiramente eleito por Deus. Deus glorificou-o perante o mundo todo, por um grande número de milagres e profecias.” – “Não fez menos – disse o Papa Gregório XV – que os grandes Apóstolos fizeram.”

Francisco Xavier foi canonizado por Gregório XV, no ano de 1621. Benedito XIV apresentou-o aos países da Índia oriental, como padroeiro, e hoje a Igreja o venera como padroeiro da grande obra missionária em toda a Terra.

REFLEXÕES

Uma das figuras mais salientes na história das Missões católicas é S. Francisco Xavier. O zelo, o amor às almas deste Santo é modelar para todos os missionários, de todos os países e de todos os tempos. Zelar pelas missões é dever de todo o católico. Trabalhar pelas missões é traduzir praticamente a petição do Pai Nosso, que diz: “venha a nós o vosso reino.” Os Papas não se cansam de chamar a atenção dos católicos para as missões e lembrar-lhes a obrigação que têm, de ajudar efetivamente a Igreja na grandiosa obra da propagação da fé. Todos devem entrar nas fileiras dos trabalhadores na vinha do Senhor: uns como missionários ativos, outros com a colaboração na imprensa missionária, ainda outros pela propaganda da ideia missionária entre os católicos, todos com a esmola material e espiritual. Se todos os católicos compreendessem nitidamente o dever de trabalhar pelas missões – disse o Papa Pio XI e se esta obrigação cumprissem, em pouco tempo seria satisfeito o desejo de Jesus Cristo: de haver um só rebanho e um só pastor; em pouco tempo o mundo inteiro seria convertido ao cristianismo.

Reza muito pelas missões e os missionários e manda inscrever teu nome numa das grandes obras pontifícias pelas missões ou entra em uma ou outra Liga de Missas pró Missões. As obras oficiais pontifícias destinadas para leigos, promissões, são: 1º. A Obra de Propaganda da Fé; 2º. a Obra da Santa Infância; 3º. a Obra de S. Pedro pela formação do clero indígena.

Oração pelas Missões e pela conversão dos infiéis

Ó amabilíssimo Senhor Nosso, Jesus Cristo, que, com o preço do vosso sangue preciosíssimo, remistes o mundo, lançai o olhar misericordioso sobre a pobre humanidade, que em grande parte ainda jaz imersa nas trevas do erro e nas sombras da morte e fazei irradiar sobre ela toda a luz da verdade.

Multiplicai, Senhor, os Apóstolos do vosso Evangelho; afervorai os, fundando-lhes e abençoando lhes com a vossa graça, o zelo e as fadigas, afim de que, por meio deles, todos os infiéis vos conheçam e se convertam a vós; que de todos sois Criador e Redentor.

Chamai os transviados pelo erro ao vosso redil e os rebeldes ao seio da vossa única verdadeira Igreja.

Apressai, amabilíssimo Salvador, apressai o auspicioso advento do vosso reinado sobre a terra, atraindo ao vosso suavíssimo Coração todos os homens, para que possam participar dos benefícios incomparáveis da vossa Redenção, na eterna felicidade do céu. Amém.

***

A estas orações foram concedidas: 1) Indulgências de 300 dias, “toties quoties”; 2) Plenária, uma vez por mês, aos que durante todo o mês a tiverem recitado.

Invocação – Para que vos digneis chamar à união da Igreja todos os que erram e trazer todos os infleis à luz do Evangelho: Ouvi os nossos rogos!

(lndulg, de 300 dias, “toties quotis”, A. S. 32).

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.

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