São João de Mata († 1213)
São João de Mata, o grande fundador da Ordem dos Trinitários, nasceu em 1160 em Francon, cidade do sul da França. Seus pais, igualmente distintos pela virtude e descendência, consagraram o recém-nascido à S. S. Virgem. Menino ainda, João mostrava grande amor à oração e aos pobres. O dinheiro que de seus pais recebia para seus modestos divertimentos, repartia-o entre os pobres. Nos dias santos seu passeio predileto era ao hospital, onde servia aos doentes, fazia curativos e prestava outros serviços de enfermeiro. Com distinção terminou seus estudos em Paris. À ciência ligava ele grande virtude e piedade, motivo porque o Arcebispo de Paris não pôs dúvida em ordená-lo sacerdote.
No dia da celebração de sua primeira Missa tomou a resolução de dedicar suas energias à obra da libertação dos cristãos, que gemiam sob o jugo da escravidão dos infiéis. Seu plano obedecia a um duplo fim: libertar os cristãos da escravidão e salvar as almas, que, no contato com povos infiéis, corriam risco de se perder. Antes de pôr em execução este seu plano, foi ter-se com S. Felix de Valois, pobre eremita, que morava perto de Meaux e cuja santidade por todos era reconhecida. Felix acolheu-o com muita satisfação, mas logo percebeu que seu hóspede, longe de ser principiante na vida religiosa, era mestre abalizado, e nesta qualidade o aceitou, não como discípulo, mas como companheiro, que Deus lhe tinha mandado. Nos longos anos, que assim viveram na mais perfeita harmonia e práticas de virtudes heroicas, muitas vezes, se ocupavam do plano de João de Mata, de que Felix estava convencido ser fruto de inspiração divina. Em continuas e ardentes orações pediram as luzes do Espírito Santo para uma obra tão nobre e ao mesmo tempo dificílima para ser posta em prática. Em 1197 dirigiram-se a Roma para, em audiência particular, apresentar se ao grande Papa Inocêncio III. Este recebeu-os com muitas honras e aprovou seu instituto. Deu-lhes como distintivo da nova Ordem um hábito branco com uma cruz azul-vermelha no peito. Aludindo a estas três cores, deu-se-lhes o nome de Trinitários ou Irmãos da Ordem da SS. Trindade. Aprovada sua obra, João foi nomeado primeira General da Ordem. O Bispo de Paris junto com o Abade de S. Vitor foram incumbidos da elaboração da regra, que teve a aprovação pontifícia em 1198.
João construiu o novo convento em Cerffroid. A afluência de jovens a esta nova instituição era considerável e João deu-lhes um novo superior na pessoa de Felix de Valois. Não conseguindo ele mesmo o consentimento do Papa para trabalhar no meio dos infiéis, em breve mandou seus primeiros missionários. Dois dos mesmos libertaram cento e oitenta e seis cristãos, que foram em triunfo levados a Paris. Este brilhante resultado despertou de tal forma o entusiasmo de João de Mata, que renovou seu pedido perante o Papa de lhe ser permitida a viagem a África. Desta vez mais bem sucedido, partiu imediatamente para África, onde resgatou grande número de cristãos. Em 1210 fez sua segunda viagem a Tunis, e grandes foram. os tormentos e provações, a que os maometanos o sujeitaram. Seu zelo lhe contraiu um ódio mortal dos infiéis, que de tal modo o maltrataram, que o deixaram meio morto, banhado em sangue nas ruas de Tunis. Neste seu martírio João julgava-se feliz de poder sofrer pela causa de Deus. Logo que recobrará as forças, reuniu todos os cristãos resgatados e embarcou-os num navio que os devia levar a Roma. Os bárbaros, porém, foram ao seu encalce, apoderaram-se do navio, quebraram-lhe o leme, retiraram o mastro, rasgaram as velas, tudo isto para impossibilitar o desembarque dos cristãos. João, porém, não se deixou intimidar. Cheio de confiança em Deus, substituiu as velas pelo seu manto, tomou do Crucifixo e pediu a Deus que dirigisse o navio. Maravilhoso efeito produziu este recurso inspirado pela fé.
Em poucos dias, o navio contra toda a expectativa chegou em Ostia.
Nos últimos anos de sua vida, João percorreu a ltália, França e a Espanha, despertando por toda a parte um vivo interesse pela triste sorte dos cristãos na África. Deus moveu os corações dos ricos, que concorreram com avultadas somas para a realização de uma obra tão generosa e cristã como era a libertação dos cristãos das mãos dos maometanos. A Ordem desenvolveu-se rapidamente, e tornou-se necessária a construção de novos conventos.
João, outra vez chamado pelo Papa a Roma, lá fora incansável no serviço da caridade: Deus abençoou seu apostolado de tal modo, que milhares de pecadores, entre eles os mais contumazes se converteram a uma vida exemplar.
João de Mata morreu em 1213 na idade de 61 anos, tendo a consolação de ver sua Ordem espalhada e conhecida em todo o mundo. Seu corpo foi depositado na Igreja do seu convento em Roma e mais tarde transladado para Espanha. Canonizado por Inocêncio XI sua festa foi marcada para o dia 8 de Fevereiro.
REFLEXÕES
1. O cuidado principal de S. João de Mata era libertar os fiéis do poder dos pagãos, para assim salvar as almas de muita gente. Tua preocupação constante deve ser preservar tua alma da escravidão do demônio. Pelo pecado é que o homem se torna escravo do inimigo. Para se desenvincilhar dos laços diabólicos, do pecado e do vício, há só um recurso: confessá-lo ao sacerdote e pedir perdão. Obtido este, com máximo cuidado deve-se evitar a recaída. Não disse Nosso Senhor ao paralítico, que obtivera a cura do seu mal: “Eis que ficaste bom; não torne a pecar, para que não te suceda coisa pior? (Job 5. 14) “O homem que cair de novo no pecado, do qual alcançou perdão, provoca, diz Theodoreto, a ira de Deus e receberá maior castigo.”
2. S. João de Mata, sendo estudante ainda, dava aos pobres o dinheiro que se lhe dava para suas despesas. Quem é mais pobre que os missionários que trabalham no campo das missões, passando por mil necessidades e misérias! A esmola dada aos missionários, por ser destinada a obra mais querida de Deus, que é a propaganda da fé, deve trazer e traz muita benção já na vida e a garantia de uma boa morte. Se quiseres manifestar tua amizade a Deus e pôr a seguro tua salvação, dá esmola para as missões, auxiliando a grandiosa obra da propaganda da fé.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume I, 1928.
Última atualização do artigo em 19 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico