São Marcos hebreu de origem, da tribo de Levi, foi um dos primeiros discípulos de S. Pedro, que na festa de Pentecostes receberam o santo Batismo das mãos do Apóstolo. Marcos não é idêntico com João Marcos, outro discípulo apostólico, que se achava na companhia de Paulo e Barnabé.
Marcos revelou um zelo e dedicação tal, que Pedro o levou consigo nas suas viagens apostólicas. Em Roma teve Marcos o prazer de ver os belos frutos, que a pregação do príncipe dos Apóstolos produziu, crescendo dia por dia o número dos que pediam o santo batismo. Para o tempo de sua ausência. São Pedro confiou a Marcos a vigilância sobre a jovem Igreja. Atendendo ao insistente pedido dos primeiros cristãos de Roma de deixar-lhes um documento escrito que contivesse tudo que da sua e da boca de Pedro ouviram da vida, da doutrina, dos milagres e da morte de Jesus Cristo, Marcos escreveu o Evangelho que traz seu nome. S. Pedro o leu, aprovou e recomendou-o aos cristãos que dele fizessem sua leitura.
Depois de ter passado alguns anos em Roma, Marcos pregou o Evangelho no Egito e nos países vizinhos. As conversões produzidas pela sua pregação contavam-se aos milhares. Milhares de ídolos ruíram por terra e nos lugares dos templos ergueram-se igrejas cristãs. O Egito, antes um país entregue à mais crassa idolatria, tornou-se teatro da mais alta perfeição cristã e refúgio de muitos eremitas. Marcos trabalhou 19 anos em Alexandria, onde a Igreja chegou a um estado de extraordinário esplendor. Não satisfeitos com a observância de tudo aquilo que o Evangelho apresentava como indispensável, muitos cristãos observavam do modo mais perfeito os conselhos evangélicos, abstendo-se a exemplo de seu mestre, do uso da carne e do vinho e distribuindo os seus bens entre os pobres. Inúmeros eram aqueles que viviam em perfeita castidade. O número dos cristãos cresceu de tal maneira que, para todos terem ocasião de assistir ao santo sacrifício da missa e à pregação, foi necessário destacar um número de casas bem grande, onde se pudessem reunir.
Tão grande prosperidade da causa do Senhor não podia deixar de inquietar e irritar os sacerdotes pagãos contra o grande Apóstolo. Marcos sabendo, que os inimigos de Cristo e seus inimigos tinham conspirado contra sua vida, e receando uma generalização da perseguição na qual muitos cristãos poderiam não ter a força de perseverarem na fé, deu à igreja de Alexandria um novo bispo na pessoa de Aniano e ausentou-se da cidade. Dois anos durou sua ausência.
Sua volta coincidiu com uma grande festa, que os pagãos celebravam em honra do seu deus Serapis. A maior homenagem que podiam render à divindade, havia de ser – assim opinavam os idolatras – a oferta da vida do Galileu: por este nome era conhecido o grande evangelista.
Imediatamente se puseram a caminho em busca de Marcos. A eles se uniu o populacho. Descobrir seu paradeiro e penetrar na casa que o hospedava era obra de minutos. Marcos estava celebrando os santos mistérios, quando a horda sequiosa do seu sangue, entrou. Prenderam-no e com escolhida brutalidade e requintada crueldade conduziram-no pelas ruas da cidade. O trajeto todo ficou marcado pelo sangue do Mártir. Marcos nenhum sinal de resistência fez; ao contrário deu louvor a Deus por ter sido achado digno de sofrer pelo nome de Cristo.
Na noite seguinte apareceu um anjo e disse-lhe: “Marcos, Servo de Deus, teu nome está escrito no livro da vida e tua memória jamais se apagará. Os arcanjos receberão em paz teu espírito.” Além desta teve a aparição de Deus Nosso Senhor da maneira como muitas vezes o tinha visto durante sua vida mortal e disse-lhe: “Marcos, a paz seja contigo.” Estas, como as palavras do anjo, encheram a alma do Mártir de grande consolo e ânimo.
O dia seguinte, 25 de Abril, foi o dia do seu martírio. Os pagãos o maltrataram de um modo tal, que morreu no meio das suas crueldades. Suas últimas palavras foram: “Em vossas mãos encomendo o meu espírito.”
Os pagãos quiseram incinerar seu corpo. Uma fortíssima tempestade que sobreveio, frustrou-lhes os seus planos e forneceu aos cristãos ocasião, de tirar o corpo e dar-lhe honesta sepultura numa rocha em Bucoles.
Em 815 foram as relíquias de S. Marcos transportadas para Veneza onde ainda se acham.
É costume na Igreja católica no dia de S. Marcos cantar as ladainhas de Todos os Santos para invocar a misericórdia de Deus. Este uso, bem como a procissão que se costuma realizar neste dia foi introduzido pelo Papa Gregório Magno, por ocasião de uma peste que em 586 dizimou horrivelmente a população de Roma.
REFLEXÕES
A S. Marcos foi revelado que seu nome estava escrito no livro da vida. Nós não temos esta certeza quanto ao nosso nome, embora devamos ter boa esperança dele se achar no registo dos eleitos, se aliás cumprimos o que Cristo de nós exige. Nosso Senhor não nos deixou em dúvida sobre as coisas que são necessárias para nossa salvação. No santo Evangelho encontramos as regras para nossa conduta. Deve, pois, o Evangelho ser nossa leitura predileta e constante. “Fazei penitência e crede no Evangelho” disse Cristo no seu primeiro sermão. (Marc. 1. 15.) Quem crê no Evangelho como na palavra de Deus, observa também o que ele prescreve. Pode alguém dizer, que crê em Cristo, se não faz o que Cristo mandou que fizesse?” (S. Cypriano.) “Não são todos que obedecem ao Evangelho” diz São Paulo (Rom. 10. 16) É esta a razão, porque seus nomes não são encontrados no Livro da vida, e porque não se salvam. “Minhas ovelhas ouvem minha voz. (Jo. 10. 27.) São as ovelhas que no dia do juízo serão colocadas ao lado direito do eterno juiz. São elas que ouvem a sua voz e lhe obedecem. Quem quer figurar entre os eleitos de Nosso Senhor, deve ouvir sua voz, isto é, seu Evangelho e pôr em prática seus mandamentos.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume I, 1928.