São Paulino, Bispo de Nola

St. Paulinus von Nola, patrono da fundição de sinos Data entre 1910 e 1934, Domínio Público, Wikimedia Commons

São Paulino, Bispo de Nola – † 431

NATURAL de Bordéos, filho de família senatorial, rica, antiquíssima, Paulino recebeu uma educação esmerada e teve por mestre o célebre Ausonio, que introduziu seu discípulo nos arcanos da poesia e retórica. Quando Ausonio foi chamado a Roma para ocupar o lugar de mestre de estudos do imperador Graciano, Paulino o acompanhou e, apesar de apenas ter 25 anos, sua eloquência celebrou triunfos tais, que lhe foi conferida a dignidade de Cônsul. Contraiu matrimônio com uma espanhola, senhora igualmente dotada de bens espirituais e materiais. Paulino possuía tudo que o coração humano do mundo pode desejar: riqueza, relações vantajosíssimas, amigos poderosos, a graça do imperador, posição elevadíssima e não obstante uma coisa lhe faltava: a paz da alma. Às insistências de Santo Ambrósio de Milão, de Martinho de Tours, de Delphim de Bordéos e aos rogos de sua santa esposa resolveu receber o santo batismo.

Com a recepção do santo batismo operou-se em Paulino uma transforma­ção completa. Desceu das alturas da sua posição, deu grande parte de sua fortuna aos pobres, doentes e igrejas e se retirou a uma vivenda na Espanha. Lá viveu com sua esposa querida e sua felicidade tornou-se completa, quando esta lhe deu um filho. Deus quis atrai-lo todo a si. Exigiu-lhe o sacrifício do seu primogênito; seus amigos, escandalizados pela vida retraída de todo o mundo se afastaram e o abandonaram; seus parentes, envergonhados, o objurgaram por ter desmerecido a nobreza da família; os próprios empregados julgaram-se no direito de lhe dizer chalaças. A tudo isto Paulino tinha só uma resposta: Se eu agradasse aos homens, não poderia ser servo de Cristo. (Gal. 1 , 10.) e sendo caluniado, dizia: “0  bem-aventurada vergonha, de com Cristo desagradar ao mundo! Seus amigos verdadeiros, porém, Santo Ambrósio, Martinho e Jerônimo defendiam-no com denodo, e de muitos homens, dos mais ilustres do império recebia visitas na sua solidão.

Para fugir totalmente das honras e elogios do mundo e também de seus amigos, resolveu fixar residência em Nola, onde se achava o túmulo de Félix, a quem tinha uma terna devoção. Livre de todos os compromissos com sua família, em Nola se estabeleceu, e, dando o resto de sua grande fortuna para obras pias, lá viveu reservando para si a pobreza. Sua santidade, porém, fez com que pessoas de todas as classes procurassem o “eremita de Nola” e o pedissem as aceitasse como discípulos. Quando morreu o bispo de Nola, sacerdotes e povos unanimemente manifestaram o desejo de ter Paulino por sucessor. Este, porém, se opôs quanto pôde à aceitação da dignidade episcopal, mas mais forte que sua relutância era a vontade dos Nolenses.

Como Bispo, Paulino foi um verdadeiro Pai e Pastor e principalmente um grande amigo da pobreza e dos pobres. Quando um dia pobre pedia um pão, pelo empregado lhe foi negado por haver só um pão em casa. Pela tarde do mesmo dia veio a notícia que de nove navios que eram esperados, e que traziam mantimentos destinados aos necessitados da diocese, um se tinha afundado. “Vês agora”, disse então o santo Bispo ao empregado, “negaste o pão ao pobre, e Deus fez que o navio se perdesse.” A santo Alípio, que o tinha pedido lhe mandasse seu retrato, respondeu: “É impossível atender teu pedido porque os meus pecados desfizeram e estragaram completamente em mim a imagem de Deus.”

Grande nas virtudes de humildade e liberalidade, Paulino era incansável como pregador, escritor e poeta, e nada poupou para implantar nos corações dos seus diocesanos um grande amor ao Santíssimo Sacramento.

Na grande invasão dos Vandalos, também Nola foi saqueada e muitos dos seus habitantes como escravos deportados para África. O santo Bispo, para aliviar a grande miséria, sacrificou tudo que tinha. Um dia apresentou-se lhe uma pobre viúva debulhada em lágrimas que pediu sua intervenção para a libertação de seu único filho da escravidão. Embora completamente destituído ele recursos, Paulino lhe prometeu a libertação do filho; para obtê-la embarcou para a África e ofereceu-se aos Vandalos para que o aceitassem em troca do jovem filho da viúva. A proposta foi aceita e o moço voltou para a casa da mãe.

Paulino teve de prestar serviços de jardineiro real e Deus abençoou seu tra­balho exaustivo. Um dos ministros descobriu que Paulino era um homem ilustradíssimo. Ainda mais disto se convenceu, quando um dia Paulino profetizou a morte próxima do rei, dando ao mes­mo tempo o conselho de com antecedência dispôr os negócios do reino.

Quando o rei soube da profecia do jardineiro, mandou chama-lo em sua pre­sença. Paulino comparece e o rei ao vê-lo, pálido como cera, disse: “Já conheço este homem; é o mesmo que vi em so­nho entre os juízes que tomaram o açoite das minhas mãos.” Só com grande relutância Paulino faz declarações relativamente à sua pessoa e porque se acha­va na escravidão. O rei, admiradíssimo de virtude tão extraordinária, restituiu lhe imediatamente a liberdade e prometeu-lhe de atender o pedido que fivesse, fosse qual fosse. Paulino pediu a libertação de todos os seus diocesanos da escravidão. Admirado pelos Vandalos e festejados pelos Nolenses, voltou à sua diocese onde todos receberam seu santo Bispo com uma alegria indescritível.

Paulino morreu em 22 de Junho de 431 e anjos levaram sua alma ao céu. Uranio, testemunho ocular da sua morte, escreve: “Nós vimos e entre lágrimas e gemidos confessamos ter visto como o justo era arrebatado. A Igreja chorava, o povo soluçava, províncias inteiras lamentavam a perda do santo Bispo. Bem-aventurado o homem que não vivia para si, mas cuja vida era de todos. Ele agora vive em Cristo, não para si, mas para nós, intercedendo quotidianamente por nós. Era um homem admirável, ornado de todas as virtudes, fiel como Abrahão, crente como Isaac, bondoso como Jacob, esmoler como Melchisedech, circunspecto como José, encantador como Benjamim; ele despojava os ricos para dar aos pobres; em zelo pela Igreja, em fé e caridade era igual aos Apóstolos e aos santos Bispos.”

REFLEXÕES:

“Um novo mandamento vos dou que vos ameis uns aos outros.” (Jo. 3,34). Nisto o mundo conhecerá que sois meus discípulos, quando vos amais mutuamente. (Jo. 13,35).

O mundo não reconhece esta lei de Jesus Cristo, por isto no mundo não há caridade. Ao lado duma filantropia vaidosa, orgulhosa e bazófia vemos o ódio desenfreado, a vingança implacável e a especulação desapiedada. Se dá esmola é da sua superabundância, e com o cuidado de nada sofrer e nada lhe faltar. S. Paulino deu toda a sua fortuna aos pobres e libertou um moço da escravidão, tornando-se ele mesmo escravo.

Pelas obras de caridade Deus nos conhecerá como cristãos: Tudo que fizestes ao mí­nimo dos meus irmãos, foi a mim que o fi­zestes e tudo que deixastes de fazer ao menor dos meus irmãos, a mim o deixastes de fazer. Se quereis, pois, ter um juízo benigno, praticai a caridade a todos sem distinção material e espiritualmente. Materialmente: socorrendo o vosso próximo nas suas necessidades, como sejam, na pobreza, na doença, nas aflições, em desastres; espiritualmente: pelos bons conselhos, pelas orações. Praticai as obras corporais e espirituais de misericórdia. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcan­çarão misericórdia. (Mat. 5,7.)

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume I, 1928.

Última atualização do artigo em 16 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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