Santo Antão Abade e São Paulo, o primeiro eremita, por Diego Velázquez, por volta de 1634, Museu do Prado, Domínio Público, Wikimedia Commons

São Paulo, eremita († 343)

São Paulo, o primeiro eremita no Egito, nasceu na Thebaida no ano 230 aproximadamente. De pais cristãos recebeu o filho educação aprimorada. Favorecidos pela fortuna puderam proporcionar-lhe os meios para se instruir nas ciências gregas e egípcias. Paulo na idade de 15 anos ficou órfão de pai e mãe e proprietário de grandes bens. Seu coração, porém, não apetecia os prazeres do mundo; pelo contrário sua maior satisfação era servir a Deus na prática das virtudes cristãs. Paulo contava 23 anos, quando a grande perseguição de Décio se estendeu também sobre a Thebaida. O inimigo não poupou esforços para afastar as almas da doutrina de Cristo. Blandícias e torturas entraram em ação para conseguir este fim. Paulo, impressionado com o que via e com receio de não ter força para enfrentar o martírio, fugiu para o deserto com a intenção de lá ficar enquanto durasse a perseguição. Penetrando mais no deserto, um dia encontrou uma grande gruta, que no tempo da rainha Cleópatra tinha servido de esconderijo a criminosos e moedeiros falsos. Paulo resolveu a passar o resto da sua vida naquela gruta. Água receberia da fonte que lá se achava e uma palmeira lhe forneceria alimento e folhas para se cobrir. Quando escassearam os frutos, Deus lhe mandou um corvo que lhe trazia pão todos os dias. Pelo espaço de noventa anos Paulo morou naquela gruta, sem que tivesse visto mais rosto humano.

Quando contava 113 anos, recebeu a visita de Sant’Antão. Este santo varão, eremita como Paulo, tinha noventa anos e, julgando-se o homem mais velho do mundo, com este pensamento se envaidou. Deus lhe revelou a existência dum ente mais idoso e mais santo que ele e lhe ordenou que o procurasse: Sem saber para onde se dirigir, pôs sua confiança em Deus e entrou no deserto. Tendo andado metade do dia, foi de encontro com um desconhecido, ao qual pediu informações relativas à morada de Paulo. O homem, sem dizer palavra, indicou com a mão a direção e fugiu. Dois dias e duas noites pisou Antão a areia do deserto, quando apercebeu uma loba faminta, que fugitiva se escondeu numa gruta. Antão foi-lhe ao encalço e penetrando mais no interior da gruta, viu-se diante da cela de Paulo. Este vendo-se descoberto, fechou-se no seu esconderijo e Antão pôs-se a orar até que o eremita se resolvesse a aparecer. Depois de muito esperar, a porta se abriu e Paulo saiu da sua cela. Os dois se abraçaram e apesar de nunca se terem visto na sua vida, chamaram-se pelo nome reconhecendo no seu encontro uma singular permissão da divina Providência.

“Afinal achaste, – disse Paulo a Antão a quem procuraste. Estás vendo um homem que daqui há pouco será pó e cinza.” Depois pediu ao hospede informações sobre o estado das coisas no mundo, sobre a perseguição etc. a que Antão respondeu do modo que lhe era possível.

Enquanto dialogavam, veio o corvo e trouxe duas rações de pão. Vendo isto Paulo, cheio de admiração disse: “Vê, como Deus é bom e misericordioso, mandando-nos o nosso manjar. Sessenta anos aqui estou e recebo diariamente um pãozinho; por causa da tua visita mandou-nos hoje ração dobrada.” Nisto os dois varões reconheceram a obra da divina Providência. Muitas horas permaneceram em colóquio e a noite passaram em oração. No dia seguinte disse Paulo ao companheiro: “Muito tempo sabia que moravas nesta redondeza. Estando eu no fim de minha vida, Deus te mandou, para dar sepultura ao meu corpo.” Antão se entristeceu com estas palavras e pediu ao santo eremita, que, indo ao céu, o levasse consigo. Este, porém, respondeu: É a vontade divina que fiques ainda algum tempo no mundo, para o bem daqueles que em ti veneram seu mestre.” Pediu então a Antão que fosse buscar o manto que tinha recebido de Santo Atanásio para nele envolver seu corpo morto. Isto ele fez para Antão não precisar ser testemunha da sua morte e para testemunhar seu grande respeito ao grande Bispo, que tanto sofrera em defesa da sua fé.

Antão foi apressadamente cumprir a ordem do santo eremita. A pergunta dos seus Irmãos de hábito, onde se tinha demorado tanto, respondeu: “Ai de mim pobre pecador que mui injustamente levo o nome de monge! Eu vi Elias, eu vi S. João no deserto, eu vi Paulo no paraíso.” Nada mais falou. O medo de não mais encontrar com vida o eremita Paulo, não o deixou demorar-se no convento. Tomou o manto de Atanásio e com ele pôs-se a caminho para a gruta. Antes de chegar, viu a alma do santo varão rodeada de grande esplendor, subir ao céu, acompanhada de anjos, profetas e Apóstolos.

Impressionado com a visão continuou a jornada até chegar à morada de Paulo. Ao entrar na gruta deparou-se lhe um quadro singularíssimo. Lá estava Paulo de joelhos com os braços abertos em cruz, a cabeça elevada ao céu – imóvel. Se Antão ao princípio julgou ver o santo homem em oração, logo se convenceu de que tinha um cadáver diante de si. Imediatamente dispôs o necessário para dar sepultura ao defunto. Envolveu o corpo de seu companheiro em o manto de Santo Atanásio, como tinha sido a vontade do falecido. Para fazer uma cova, viu-se embaraçado, visto que não existia no lugar   instrumento nenhum que lhe pudesse remover a terra. Deus veio em seu auxílio. Da floresta próxima vieram dois leões, os quais com grandes uivos se deitaram aos pés do cadáver depois de terem assim dado sinal de sua gratidão, escavaram na terra uma abertura assaz larga e funda para nela poder-se sepultar o corpo do Santo Eremita. Antão rezou sobre o defunto e sepultou-o. A única roupa que de Paulo existia, uma túnica feita de folhas de palmeira, Antão a levou como lembrança preciosa e dela se servia só nos grandes dias de festa.

S. Paulo, segundo o cálculo de S. Jerônimo, morreu no ano de 341 tendo a idade de 113 anos.

REFLEXÕES

1. Cento e treze anos contava S. Paulo quando a morte o chamou para a eternidade S. Teodósio morreu com cento e cinco anos. A biografia destes varões diz, que a vida deles era de uma autoridade espantosa e quase um jejum contínuo. A idade avançada que estes Santos (como ainda outros) alcançaram, é uma apologia do jejum, que em nossos dias caiu em grande descredito também entre aqueles que querem ser muito católico e religiosos. O cuidado exagerado que muitos têm pela saúde corporal, deixa-os ver no jejum um grande inimigo e tudo fazem para se ver livres da obrigação de jejuar nos dias que a Igreja marcou como de jejum. O Espírito Santo assegura-nos; que o jejum não é nocivo; pelo contrário. “Quem sobriamente vive, prolonga sua vida.” (Eccl. 37). Não te deixeis vencer pelo comodismo, e não dês facilmente ouvido às insinuações malévolas contra uma instituição tão salutar como é a do jejum. É mais fácil que o organismo se recinta do excesso na comida e na bebida do que da prudente e ponderada abstenção.

2. Quando S. Paulo procurou o deserto, pensava passar nele só um certo tempo. Mais do que esperava, tornou-se a solidão sua amiga, e convenceu-se da grande utilidade de servir a Deus, longe do bulício do mundo. Contra a solidão e o afastamento das causas do mundo há também entre católicos grandes preconceitos, achando-os insuportável uma vida mais retraída e silenciosa. Antes não julgassem o que não conhecem. Se queres a prova da doçura da vida longe do mundo, faze a experiência e verás como é deliciosa. A penitência, o arrependimento dos pecados é um consolo e traz um bem estar tamanho, que igual não se encontra no meio dos prazeres e divertimentos do mundo.

“Muitos, diz. S. Bernardo, fogem da penitência, porque deixando-se unicamente fascinar pela cruz, não enxergam a doce unção. “Se nos aplicarmos a uma vida piedosa e santa, nada haverá que nos possa entristecer. (S. Crisóstomo). “A alegria, que procuramos não na criatura, mas em Deus, é alegria verdadeira, que não tem seu semelhante entre as alegrias do mundo.” (São Bernardo).

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume I, 1928.

Última atualização do artigo em 28 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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