Por ocasião de sua canonização, Pio XII chamou o Papa Sarto o papa da Eucaristia e do Catecismo.
Sobre o ensino do Catecismo
Em 15 de abril de 1905, pela encíclica Acerbo nimis sobre o ensino da doutrina cristã, o pontífice fala novamente da perversidade dos dias em que vivia com acentos profundos de tristeza.
“Os secretos desígnios de Deus nos levantaram de Nossa pequenez ao cargo de Supremo Pastor da grei inteira de Cristo em dias bem críticos e amargos, pois o antigo inimigo anda ao redor deste rebanho e lhe estende laços com tão pérfida astúcia, que agora principalmente parece ter-se cumprido aquela profecia do Apóstolo aos anciãos da Igreja de Éfeso: ‘Sei que… os hão de assaltar lobos vorazes que destruam o rebanho’ (At 20, 29). Deste mal que padece a religião não há ninguém a quem anime o zelo da glória divina que não investigue as causas e razões, sucedendo que, como cada qual as acha diferentes, proponham diferentes meios, conforme à sua opinião, para defender e restaurar o reinado de Deus na terra”.
E acrescenta: “Posto que da ignorância da religião procedam tantos e tão graves danos e, por outra parte, são tão grandes a necessidade e utilidade da doutrina religiosa, já que, desconhecendo-a, em vão seria esperar que ninguém pudesse cumprir as obrigações dos cristãos”, é necessário a catequização tanto dos adultos quanto das crianças. (1)
Para isso o papa santo da regras detalhadas, especialmente em relação à instrução religiosa dos estudantes nas escolas públicas e mesmo nas universidades, como única fonte de remédios contra todos os males presentes que por toda parte surgiram.
Em 1908 fez publicar um Catecismo da Doutrina Cristã, mais conhecido como Catecismo de São Pio X, e os Primeiros Elementos da Doutrina Cristã, ou Pequeno Catecismo de São Pio X, com essa mesma finalidade.
O interesse de São Pio X pelas crianças era devido a sua simplicidade e inocência. Conta-se que ele, quando caminhava pelas ruas, de Mântua e de Veneza, carregava nos bolsos bombons para dar-lhes e ensinar-lhes o catecismo. Mesmo depois de papa, nas audiências gerais, ele reunia as crianças ao seu redor e falava-lhes de coisas que lhes interessava. Nas suas aulas de catecismo semanais no Pátio de São Damaso, no Vaticano, ele sempre reservava um lugar especial para elas. Ele queria que em toda paróquia houvesse uma Confraternidade da Doutrina Cristã para instruir sobretudo as crianças.
Colateralmente, pode-se afirmar que São Pio X, confirmou, se bem que não infalivelmente, a existência do Limbo em seu Catecismo de 1905, dizendo que as crianças mortas sem o batismo “não têm a alegria de Deus, mas nem sofrem… elas não merecem o Paraíso, mas também não merecem o Inferno ou o Purgatório”.
A Comunhão frequente
O Santo Pontífice tinha muito empenho em incentivar a piedade dos fiéis. Um dos meios para isso foi promover a comunhão frequente pelo decreto Sacra Tridentina Synodos, do Santo Ofício, de 20 de dezembro de 1905. Esse decreto alargava singularmente as regras para a Sagrada Comunhão frequente e quotidiana, antes estabelecidas pelo decreto de Inocêncio XI (12 de fevereiro de 1679). O decreto afirma:
“Jesus Cristo e a Igreja desejam que todos os fiéis cristãos se acerquem diariamente ao sagrado convite, principalmente para que unidos com Deus por meio do Sacramento, tomem forças para refrear as paixões, se purifiquem das culpas leves quotidianas, e impeçam os pecados graves a que está exposta a debilidade humana”. Desse modo, “dê-se ampla liberdade a todos os fiéis cristãos, de qualquer condição que sejam, para comungar frequente e diariamente, por quanto assim o desejam ardentemente Cristo Senhor Nosso e a Igreja Católica, de tal maneira que a ninguém que esteja em graça de Deus e tenha reta e piedosa intenção a Comunhão seja negada” (3). Em sintonia com esse decreto, dizia o Pontífice que “a Sagrada Comunhão é o caminho mais curto e mais seguro para o céu”.
Algum tempo depois São Pio X, pelo decreto Post editum, de 7 de dezembro de 1906, dispensava os doentes da obrigação do jejum para torna-los aptos a receberem a Comunhão, pelo menos duas vezes por mês e mesmo mais frequentemente (4). Finalmente, também a esse propósito, o Santo pontífice ordenou que não se tardasse mais a Primeira Comunhão das crianças quando alcançassem a idade da razão. Assinala como mais conveniente para isso a idade de sete anos, momento no qual a criança já tem noção de seus atos (5). Ou seja, adiantar a Primeira Comunhão das crianças para que “antes do diabo, entre nelas Deus”. Sobre esse decreto, ele afirmou: “Este documento me foi inspirado pelo próprio Deus”.
Conta-se que o seguinte fato a este respeito: uma dama inglesa apresentou seu filhinho para que o Papa o abençoasse. Ele perguntou ao menino quantos anos tinha. – “Quatro, santidade. E quero fazer logo a Primeira Comunhão”. O Papa perguntou-lhe: – “Quem vais receber na Comunhão?” – “Jesus Cristo”, respondeu o menino. – “E quem é Jesus Cristo?” inquiriu o Pontífice. – “É Deus”, disse com toda segurança o menino. – “Traga-o amanhã, aqui”, disse o Papa à mãe do menino, “e eu próprio lhe darei a Comunhão” (6).
Tal era o empenho que tinha Pio X na comunhão frequente que, numa audiência dois dias depois, 9 de dezembro de 1906, ele não pôde conter-se e exclamou: “Ó Virgem Maria, Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, glória do povo cristão, alegria da Igreja universal, saúde do mundo! Rogai por nós e reaviva em todos os fiéis a devoção à Santíssima Eucaristia, para que se façam dignos de recebe-la quotidianamente” (7).
Ademais, pela constituição Tradita ab antiquis, de 14 de setembro de 1912, São Pio X autorizou os católicos a comungarem em qualquer rito católico, sendo que os católicos de rito oriental poderiam receber a sagrada comunhão no rito latino, e s de rito latino, no rito oriental. Ele também deu ênfase ao frequente recurso ao Sacramento da Penitência, para que assim a Sagrada Comunhão fosse recebida mais dignamente.
O Santo Pontífice desejou que o Congresso Eucarístico de 1905 fosse realizado em Roma, e promoveu Congressos Eucarísticos locais enviando para eles, para dar-lhes maior solenidade, cardeais legados. Entretanto, durante seu reinado no sólio pontifício, não houve nenhum congresso eucarístico nacional. Os últimos realizados foram os de Nápoles, em 1891, Turim, em 1894, Milão, em 1895, Orvieto, em 1896 e o de Veneza em 1897, que foi o último dos anos antes da Primeira Guerra Mundial.
Em compensação, durante o pontificado de São Pio X houve quatro congressos eucarísticos internacionais. Angoulême, na França, em 1904; Colônia, em 1909; Madri, em 1911 e o de Malta, em 1913.
Trechos do livro Vida e Obra de São Pio X, “Restaurar tudo em Cristo”, por Plínio Maria Solimeo.
(1) Encíclica Acerbo Nimis, 15 de abril de 1904, n. 1 e 7, in Coleccion Completa Encíclicas Pontificais, tomo I, p. 729.
(2)
(3) Decreto Sacra Tridentina Synodus, de 20 de dezembro de 1905, ns. 3 e 10, 1º., in Collecion Completa Encíclicas Pintificais, tomo I, p. 750.
(4) Decr. Sagrada Congregação dos ritos, 7 de dezembro de 1906.
(5) Decreto Quam Singulari Christus Amore, de 8 de Agosto de 1910.
(6) JAVIERRE, p. 275.
(7) Doctrina Pontifícia, Biblioteca de autores Cristianos, Madri, 1964, p. 392.
Última atualização do artigo em 10 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico