São Plácido, da Ordem Beneditina, nasceu em Roma. O pai, Tertullo, personagem de grande destaque na sociedade romana, igualmente distinto pela origem e pelo saber, ocupava os cargos mais elevados. Piedoso que era e desejando dar ao filho uma boa educação, confiou-o aos cuidados de S. Bento. Plácido tinha apenas sete anos, quando foi entregue aos sábios monges.
Aconteceu que, brincando nas margens do lago Subiaco, perdesse o equilíbrio e caísse na água. Estava S. Bento, na sua cela, quando por intuição soube do desastre e ordenou ao jovem Mauro que acudisse à criança, que estava em perigo de afogar-se. Mauro pediu a benção do abade e correu pressuroso para o lugar da desgraça. Sem experimentar o menor medo, entrou na água e agarrou o menino pelos cabelos, salvando-o da morte certa.
S. Bento atribuiu este milagre à obediência de Mauro, e este viu no fato a eficácia da benção do santo abade. Plácido, porém, disse: “Quando me tiraram da água, vi sobre minha cabeça a pelúcia do abade e ele mesmo me socorrer.”
A salvação milagrosa da morte certa, nas águas do Subiaco, foi por todos considerada uma imagem das graças auxiliadoras, que o preservaram do abismo do pecado. Ele mesmo reconheceu neste importante fato de sua vida um aviso do céu, para que iniciasse resolutamente o serviço de Deus.
Tanto na piedade, como no exercício das artes, Plácido fez tantos progressos, que aos próprios eclesiásticos podia servir de modelo.
Chegando à idade em que devia tomar deliberações para a vida toda, decidiu-se entrar para o convento. Tertullo não só deu todo o consentimento, como também fez à Ordem doação de largos terrenos nas proximidades do monte Cassino, onde S. Bento tinha começado a construir o primeiro convento. Além desta doação, cedeu aos beneditinos grandes terrenos na Sicília, na convicção de fazer desta maneira o melhor uso possível de sua fortuna.
O nobre gesto de Tertullo não teve aprovação de todos. Houve protestos e até requisições indébitas. S. Bento, no intuito de requisitar tudo e defender os interesses da Ordem, mandou o jovem Plácido à Sicília. Grande confiança tinha na virtude e habilidade deste jovem religioso que, munido da benção do santo abade, se pôs a caminho para lá, onde foi festivamente recebido. Sem muito empenho, pode salvar os terrenos, aos quais especulação interesseira queria dar outro destino.
De combinação com S. Bento, escolheu um lugar próprio para a fundação de um mosteiro, nas proximidades de Messina. Dentro do espaço de quatro anos estavam prontos o convento e a igreja.
Uma vez instalado o novo mosteiro, não faltaram homens que para lá se dirigissem, pedindo para serem aceitos entre os religiosos. Sob a sábia direção de Plácido, o convento floresceu visivelmente. Mais do que a palavra, era tal o exemplo do Superior, que os monges, seus filhos espirituais, se viam animados e levados a uma perfeita vida monástica.
Ninguém como ele se dedicava à oração, à penitência e à caridade. De sua boca não se ouvia palavra áspera ou ofensiva. Nunca ninguém o viu ocioso.
Corriam tranquilos os tempos, quando a paz foi perturbada com a chegada de uma flotilha de piratas pagãos que, inimigos de tudo que levava o nome de cristão, concentravam todo o ódio contra os monges. O mosteiro de Plácido foi alvo da fúria destruidora dos bárbaros. Plácido e os companheiros foram trucidados e o convento foi reduzido a um montão de escombros, no ano 546.
O mosteiro de S. Plácido, mais conhecido pelo nome de S. João Batista, foi restaurado poucos anos depois.
Em 669 e 880 se deram novas cenas de matança e pilhagem, provocadas pelos sarracenos. No ano de 1432 alguns fidalgos de Messina fundaram o mosteiro de S. Plácido de Colonero, distante dez, milhas da cidade.
Os corpos de S. Plácido e seus companheiros de martírio foram encontrados na igreja de S. João Baptista, em Messina, onde ainda se acham.
REFLEXÕES
Nunca ninguém viu em S. Plácido o menor movimento de ira. A ira é um vício frequentemente encontrado entre os homens. Em si a ira não é pecado. Há uma santa ira, de que o próprio Salvador se deixou tomar. A ira dos Santos visa a glória de Deus e o bem das almas e nunca ultrapassa os limites da justiça e da moderação. Em muitos casos a ira é pecado, ou porque é imoderada e injustificável, ou degenera em ódio e inimizade, e prorrompe em blasfêmias e impropérios. “O homem não se precipite na ira, porque a ira humana não faz o que é justo perante Deus” – escreve o Apóstolo S. Tiago. (1. 19). “Quem se irrita, facilmente cai em pecado”. (Prov. 29. 22). ‘’Tira a ira de teu coração”, exorta o Espirito Santo (1I. 10), porque a ira é incompatível com a caridade e a mansidão. Com a graça de Deus e com boa vontade se consegue combater o vício da ira, como demonstra o exemplo da vida de muitos Santos, que, por índole, estavam inclinados a este vício.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.