São Remígio, Bispo († 533)

Este, grande Apóstolo dos Francos, descendente de família nobre e religiosa, nasceu no castelo de Laon, em 439. Inteligente, talentoso e aplicado, fez Remígio grandes progressos nos estudos, principalmente na arte retórica, de maneira que era considerado o maior orador do seu tempo. Não menos se distinguiu pela pureza de costumes, por um grande amor a Deus e dedicação à oração. Para com mais sossego poder dedicar-se às práticas de piedade e de penitência, abandonou a casa do pai, à procura de um lugar solitário.

Não podia ficar desapercebida a santidade de sua vida e assim aconteceu que, estando vaga a sede episcopal de Reims, os Bispos da Província o convidassem para aceitar a dignidade episcopal, embora contasse apenas 22 anos de idade. Bem contra a vontade, foi eleito para tão elevado cargo.

O jovem Bispo revelou logo espírito eminentemente apostólico, pelo interesse que desenvolveu na pregação do Evangelho, na propaganda da fé, no zelo de converter os pecadores e reconduzir os hereges à Igreja que a abandonaram.

Na vida particular era exemplaríssimo. Pelo amor à oração, o estudo contínuo dos Santos Livros, a devoção com que celebrava a santa Missa, a eloquência com que expunha ao povo a doutrina da santa religião, foi considerado um dos luzeiros mais brilhantes da Igreja do Ocidente. Numerosos milagres que Deus se dignou de fazer por intermédio do seu servo, argumentaram ainda mais a fama de santidade do mesmo.

O governo de Remígio coincide com a vitória dos Francos sobre os povos da Gallia. O primeiro rei dos Francos, Clóvis, geralmente considerado como fundador da nova dinastia dos Merovíngios, embora pagão, era respeitador da religião cristã, dos bispos e sacerdotes, e grande admirador de Remígio.

Não se enganam os historiadores atribuindo tudo isto à influência benéfica de Clotilde, esposa de Clóvis, princesa católica e muito fervorosa. O desejo ardente de Clotilde era conseguir a conversão do marido ao Catolicismo. Não era fácil tarefa. O primeiro filho morreu logo depois do batismo, fato por Clóvis atribuído à influência maligna da religião católica. Em sua grande tristeza, que chegava quase ao desespero, acusou a santa mulher, dizendo-lhe: “Se tivesse pedido as bênçãos dos meus deuses, em vez de ter levado meu filho à pia batismal, não teria morrido”. O segundo filho adoeceu gravemente depois do batismo, e difícil tornou-se a situação de Clotilde ante a cólera do Rei, que não fazia segredo do ódio à religião de Cristo, que lhe ia arrebatar também o segundo filho. Deus, porém, ouviu as orações de Clotilde e o filhinho restabeleceu-se.

A conversão de Clóvis ao catolicismo é devida a uma circunstância particular e interessante. Envolvido em uma guerra contra os Suábios e Alamanos, aceitou Clóvis batalha com eles, em Tolpiac. Todas as vantagens eram dos inimigos, e a causa dos Francos começou a tornar-se desesperadora. Lembrou-se então Clóvis do que lhe havia dito Clotilde: “Se queres obter a vitória sobre teus inimigos, invoca o Deus dos cristãos”. Assim fez e, atormentado pela expectativa da derrota certa, levantou os olhos ao céu e disse: “Oh Cristo, Filho de Deus vivo, valei-me! Meus deuses abandonaram-me. A vós me dirijo com fé e prometo aceitar o batismo, se conseguir vencer meus inimigos.”

Clóvis obteve uma brilhante vitória. Em cumprimento do voto, instruiu-se nas verdades da santa religião e esse exemplo foi imitado pelos grandes do reino. Por ocasião do solene batismo, disse Remígio ao rei: “Abaixa, Sigambro, tua cabeça orgulhosa! Adora o que queimavas e queima o que adoravas.”

A conversão do rei deu novo impulso ao incremento da religião, e Remígio pode com mais facilidade se dedicar à obra da propaganda. Por toda parte surgiram conventos e escolas. Novos Bispados foram criados e o Cristianismo fez a entrada gloriosa na França. Bispos arianos, reunidos num Concílio, em Lyon, testemunharam a operosidade maravilhosa de Remígio, e alguns se converteram à Igreja Romana. Remígio morreu em 533, com a idade de 94 anos. No ano de 853 foi encontrado o corpo do Santo, sem o menor vestígio de corrupção. O Papa Leão IX determinou a trasladação das relíquias para a abadia beneditina em Reims, no dia 1 de outubro de 1049.

Uma regra admirável, encerrada em três palavras, é atribuída a S. Remígio, lema cuja observação relevante serviços lhe prestou no caminho da santidade: Abstine, mortifica teus sentidos; sustine, aguenta; aggredere, começa corajosamente. Na observância destas três palavras está de fato o segredo da perfeição.

REFLEXÕES

Três regras preciosas que S. Remígio estabeleceu e observou fielmente, são de grande utilidade para todos aqueles que querem viver santamente: 1. Evitar todo o pecado voluntário. 2. Por amor de Deus privar-se de vez em quando de prazeres e divertimentos lícitos. Isto agrada muito a Deus e é de grande utilidade. 3. Sofrer com paciência as provações e amarguras da vida. Conformar-se com a vontade de Deus em todas as adversidades. Também isto é necessário para a salvação eterna. Não é o sofrimento como tal que nos conduz ao céu, mas só aquele que é suportado com paciência cristã.

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.

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