São Teodoro de Amasea, Filippo Palizzi, 1840, Domínio público, Wikimedia Commons

São Teodoro (306)

TEODORO, Santo de grande veneração na Igreja Oriental, era natural da Síria. Bem jovem ainda, foi alistado no exército e destacado para a legião em Amasea, no Ponto. No mesmo ano de 306 foi publicado o último decreto imperial contra os cristãos, que punha os mesmos diante da alternativa ou de sacrificar aos deuses ou de sofrer o martírio. Reinava o pavor entre as famílias cristãs. Teodoro, recruta no serviço militar, mas soldado experimentado na milícia de Cristo, encarou firme o perigo, não fazendo segredo algum de sua santa religião. Foi um dos primeiros intimados para render culto aos deuses, mas, sem hesitar um momento sequer, respondeu com firmeza: “Sou cristão e jamais sacrificarei aos ídolos.” Os juízes exortaram-no a que prestasse obediência ao imperador e honrasse as divindades nacionais. Teodoro, porém, respondeu: “Ainda não tinha entrado no exército dos Imperadores e já era soldado de Cristo; vossos deuses são demônios. Eis a minha fé, pela qual darei a minha vida, se assim for preciso. Cortai, pois, batei, queimai; dou todos os membros do meu corpo, para confessar a meu Deus e Senhor.” Os juízes não puderam disfarçar a admiração pelo jovem intemerato, que com tanta firmeza defendia a fé e concederam-lhe um prazo de alguns dias, esperando que ao entusiasmo do momento se seguisse a reflexão calma. Prometeram-lhe, além disto, a promoção à dignidade de sacerdote de Cybele.

Teodoro preparou-se para a luta e nas orações pediu a Deus força e constância. Aproveitando-se do silêncio da noite, dirigiu-se ao templo de Cybele, destruiu a imagem da deusa e incendiou o templo. A opinião pública, indigitando-o como culpado deste sacrilégio, fez com que Teodoro fosse citado perante o tribunal. Lá fez a seguinte declaração: “Queimei apenas lenha de nenhum valor, para provocar o poder da vossa famosa deusa, em cujo serviço como sacerdote me quisestes colocar. Como estais vendo, a divindade não aguentou a prova.”

O juiz sentenciou-o à flagelação e ameaçou-o com castigos mais fortes ainda, se não sacrificasse aos deuses na mesma hora. Theodoro respondeu:  “Em  vista dos bens celestiais e da coroa eterna, que me espera, não tenha medo dos tormentos, por mais horríveis que possam ser; meu Senhor e Rei está comigo; Ele me receberá, quando as minhas forças desfalecerem.” O juiz recorreu de novo a modos persuasíveis e propôs a Teodoro o seguinte: “Se obedeceres, dou-te minha palavra de honra, terás alta colocação no exército e serás nomeado Sumo Sacerdote de Cybele.” Teodoro, ouvindo-o, riu-se altamente e disse: “Não conheço gente mais miserável que os vossos sacerdotes; ao mesmo tempo tenho pena deles, porque são vítimas da fraude e injustiça; dos ruins, porém, os piores são ao meu ver os Sumos Sacerdotes. Tenho pena dos próprios Imperadores, cujas leis ímpias corrompem o povo. Também se rebaixam à condição de Sumos Pontífices, aproximando-se, como estes, dos altares transformando-se em carniceiros e cozinheiros, que matam animais e remexem nas vísceras dos mesmos.”

Enfureceu-se o juiz com estas palavras do defensor da fé cristã e deu ordem para que os algozes o martirizassem, como bem lhes parecesse. Teodoro, longe de se deixar intimidar, entoou o Salmo 33: “Bendirei o Senhor em todo o tempo; seu louvor estará sempre na minha boca.” O juiz, não sabendo o que pensar desta constância tão extraordinária, disse: “Desgraçado que és, não vês que é uma tolice e uma vergonha pôr toda tua confiança num homem, que, como Cristo, dizendo-se Deus, morreu uma morte ignominiosa?” Teodoro, levantando os olhos para o céu, respondeu: “Sim, tolice e vergonha é, mas eu e todos que a Cristo conhecem, de boa vontade a tomamos sobre nós.”

Encarcerado, o santo Mártir teria padecido fome, se Jesus Cristo não lhe tivesse aparecido e trazido conforto. Alta noite os guardas viram o cárcere iluminado por uma luz claríssima e ouviram cânticos maviosos de vozes angélicas.

Penetrando no recinto onde Teodoro estava, acharam-no dormindo tranquilamente.

Foram feitas diversas tentativas ainda, para demover o santo homem da linha do dever, mas tudo em vão. Quanto mais os pagãos insistiam, mais calorosa se tornava a defesa de Teodoro. Afinal, esgotados todos os recursos da persuasão, os juízes lhe perguntaram: “Que escolha afinal fazes: desejas ficar conosco vivo ou preferes estar com teu Cristo morto?” Teodoro, sem hesitar, com toda firmeza respondeu: “Estive, estou e estarei sempre com Cristo.”

Ao ouvir isto, o juiz pronunciou a sentença de morte pela fogueira, para ser executada no mesmo dia. Nunca um Imperador vitorioso entrou com maior satisfação numa cidade conquistada, como o recruta Teodoro se dirigiu ao lugar do suplício. Ao subir à fogueira, persignou-se, recomendando a alma a Deus. Vendo entre os circunstantes o amigo Cleonico, que se entregava aos sentimentos de dor, disse-lhe: “Irmão, espero por ti; segue-me brevemente; inseparáveis que aqui éramos sê-lo-emos lá em cima.” As labaredas subiram e envolveram o corpo do heroico moço, cuja alma o povo viu, qual um relâmpago, subir ao céu.

Uma piedosa mulher chamada Euzébia, comprou o corpo do santo Mártir, que as chamas maravilhosamente tinham poupado e fez-lhe um enterro honroso, na cidade de Euchaia. Os grandes e numerosos milagres com que Deus quis glorificar o túmulo do seu santo servo, fizeram com que de todos os lados viessem grandes peregrinações e sobre o túmulo se lhe erguesse um majestoso templo, terminada a época das perseguições.

REFLEXÕES

A lembrança da presença de Deus era um dos meios mais eficazes de santificação na vida de S. Teodoro. Realmente a lembrança da presença de Deus nos dá grande força na luta contra o pecado. “Enquanto pensamos em Deus, esquecemo-nos dos vícios”, diz S. Crisóstomo e S. Jerônimo afirma que “aquele que pensa em Deus, está longe de pecar”. A fé nos ensina que Deus está em todo lugar e tudo vê e tudo ouve. O mau espírito procura fazer-nos esquecidos desta verdade. Se conseguir que o homem perca da memória a Deus, Lúcifer terá causa ganha.

“Os homens facilmente caem nos vícios mais abomináveis, quando julgam que Deus não os vê ou não liga importância ao seu modo de proceder”, escreve Santo Agostinho. Deus próprio frisa a causa de muitos pecados no povo de Israel, quando diz: “Eles dizem que Deus não nos vê e abandonou a nossa terra”. (Ezech. 8. 12.)

Anda sempre na presença de Deus e pondera as palavras do Sábio: “Os olhos de Deus são mais claros que o sol; eles vêm todos os caminhos dos homens e perscrutam os abismos mais profundos do coração e os lugares mais recônditos”. (Eccl. 23. 28.)

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.

Última atualização do artigo em 25 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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