Segundo Domingo depois da Epifania: O milagre de Jesus

Ó Jesus, dignai-Vos renovar hoje em mim o grande milagre que um dia realizastes em favor dos esposos de Caná.

1 – Encerrado o ciclo da infância de Jesus, a liturgia começa a falar da Sua vida pública. Depois da Epifania recordou-nos o batismo do Salvador nas águas do Jordão, fato que assinalou o princípio do Seu apostolado, e hoje fala-nos do Seu primeiro milagre destinado, como a Epifania e o Batismo, a manifestar ao mundo a Sua gloria de Filho de Deus.

“Naquele tempo celebraram-se umas bodas de Caná da Galileia e encontrava-se lá a Mãe de Jesus e também Jesus…” (Jo. 2, 1-11)., diz o Evangelho de hoje. Logo em primeiro plano, junto do Senhor, encontramos a Virgem na sua função maternal de Medianeira de todas as graças; o milagre de Caná, o primeiro milagre de Jesus, realiza-se precisamente pela sua intercessão que é tão poderosa que faz antecipar a hora de Cristo. “Ainda não chegou a minha hora”, tinha respondido o Senhor a Sua Mãe. Perante esta resposta de Jesus, aparentemente negativa, Maria não se perturba nem insiste; segura do seu Filho e cheia de confiança amorosa n’Ele, diz aos servos: “Fazei tudo o que El vos disser”. Jesus é vencido pela humildade, pela delicadeza, pela fé e abandono confiante de Sua Mãe e para nos mostrar quanto Ela é poderosa sobre o Seu Coração divino, condescende; o milagre realiza-se.

Junto à de Maria podemos admirar também a fé e a pronta obediência dos servos que, seguindo o conselho de Maria, executam imediatamente as ordens de Jesus, enchem de água as talhas e delas tiram vinho. Nem um momento de dúvida, nem um protesto, mas uma obediência simples como a das crianças. Aprendamos a crer e a obedecer, aprendamos a valer-nos da poderosa intercessão de Maria.

2 – “A água tinha-se convertido em vinho”. O milagre que Jesus operou em Caná, continua a renovar-se sobre os nossos altares, de um modo muito mais admirável: um bocado de pão e um pouco de vinho transformam-se no Corpo e no Sangue de Cristo, e esse Corpo e esse Sangue são-nos oferecidos como alimento das nossas almas. Eis porque o Communio da Missa de hoje contém o texto do Evangelho onde se fala da água mudada em vinho. Sim, para nós também Jesus guardou “o bom vinho até agora”; é o vinho precioso da Eucaristia que inebria as nossas almas com o Seu Corpo e com o seu Sangue.

Mas também podemos pensar noutra maravilhosa transformação que Jesus realiza em nossas almas por meio da graça: a água da nossa pobre natureza humana torna-se participante da natureza divina, é mudada no vinho nobilíssimo da vida do próprio Cristo. O homem torna-se membro de Cristo, filho adotivo de Deus, templo do Espírito Santo. E hoje, a Virgem ensina-nos o modo como podemos e devemos favorecer em nós esta preciosíssima transformação: “Fazei tudo o que Jesus vos disser”, repete-nos igualmente como aos servos do banquete de Caná. Maria convida-nos a seguir e a pôr em prática todos os ensinamentos e preceitos de Jesus que nos mostram o caminho para chegar a uma total transformação n’Ele. Com um coração humilde e dócil, com fé viva e plena confiança, entreguemo-nos a Jesus pelas mãos de Maria.

Colóquio – Como me anima, ó Senhor, encontrar hoje junto de Vós a Vossa dulcíssima Mãe! Perto de Maria, sob o Seu olhar maternal, protegido pela sua poderosa intercessão, tudo se torna mais fácil e simples. Que bem fizestes, ó Jesus, em dar-nos a Vossa doce Mãe, em dar-nos uma Mãe para a vida espiritual! Quero seguir o precioso conselho de Maria e fazer tudo o que Vós, Senhor, me disserdes, tudo aquilo que quiserdes de mim.

Quereria imitar a obediência pronta e cega dos servos do banquete: obedecer assim, sempre, a todos os Vossos ensinamentos, conselhos e preceitos, obedecer-Vos também na pessoa dos meus superiores, embora eu não veja a oportunidade das suas ordens e disposições, embora me venham pedir coisas difíceis ou que me pareçam absurdas. Mas quereria ainda mais imitar o abandono da Vossa Mãe que com tanta delicadeza Vos confia o seu desejo de ajudar os esposos na dificuldade em que se encontram. Não se perturba pela Vossa aparente recusa, não insiste na sua súplica, nada pede; mas está segura, plenamente segura de que o Vosso Coração, infinitamente bom e terno para com todas as misérias, proverá com abundância.

Ó Senhor, com esta confiança, e este abandono quero hoje mostrar-Vos a minha indigência. Não a vedes? A minha alma, como as talhas do banquete, está cheia da água fria e insípida da minha miséria, das minhas fraquezas que não chego a vencer completamente. Posso também dizer como o Salmista: “As águas chegaram-me ao pescoço” (Sal. 68, 2) e têm-me submerso e quase afogado na incapacidade e na impotência. Eu creio, Senhor, creio que se Vós quiserdes, podeis mudar toda esta água no vinho preciosíssimo do Vosso amor, da Vossa graça, da Vossa vida. Sois tão poderoso e tão misericordioso que não Vos assusta a minha miséria, por grande que seja, porque diante de Vós, que sois infinito, é sempre pouca coisa. Como as gotas de água lançadas no cálice durante a Missa se convertem juntamente com o vinho, no vosso Sangue, assim, ó Senhor, tomai a minha miséria, mergulhai-a no Vosso Coração, fazei-a desaparecer em Vós.

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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