Ó Jesus, fazei que eu possa alimentar, para com as almas, sentimentos semelhantes aos do Vosso divino Coração.

1 – Uma colaboração eficaz exige sempre uma certa afinidade de intenções e de métodos entre o promotor da obra e os seus colaboradores; e esta afinidade deve ser tanto mais profunda quando mais a obra a realizar for espiritual e não material. Devendo colaborar com Deus no bem das almas, o apóstolo tem que viver numa íntima afinidade espiritual com Ele, de maneira a partilhar o mais possível os Seus pontos de vista e os Seus desígnios para a salvação do mundo.

O apóstolo só poderá cooperar na efusão atual do amor e da graça penetrando a fundo no mistério do amor de Deus aos homens. Mediante as virtudes teologais, deve manter-se em contato íntimo com Deus e procurar captar o movimento profundo do Seu amor. A fé ensina-nos que Deus chamou os homens á existência movido pela Sua bondade infinita que quis expandir-Se para comunicar aos outros alguma coisa do Seu bem, da Sua felicidade, da Sua própria vida. A graça, criação do Seu amor, torna os homens participantes da Sua natureza. E quando os homens se separaram dEle pelo pecado, tornando-se indignos do Seu dom, não renunciou ao Seu plano de amor; para lhes poder restituir o que por sua culpa tinham perdido, sacrificou o Seu Unigênito “que por nós, homens, e por nossa salvação, desceu do céu” (Credo).

O apóstolo deve compreender a fundo que a ação de Deus em relação aos homens é toda ela obra de amor: é a ação do pai que vai em busca do filho pródigo, do pastor que vai à procura da ovelha perdida; é a ação de Deus que quer oferecer aos homens a Sua amizade para os tornar felizes, para os poder acolher em Sua casa, para os poder admitir á Sua intimidade, para os fazer bem-aventurados com a Sua bem-aventurança eterna. O apóstolo deve procurar pôr o seu coração em contato com o coração de Deus para o encher do Seu amor, para participar da Sua caridade para com os homens. O apóstolo deve, por assim dizer, sentir com Deus, sentir com Cristo, isto é, alimentar profundos sentimentos de amor pelos seus irmãos – pálido reflexo do amor de Deus aos homens.

2 – O apóstolo deve manter-se em contato com Deus e com o mistério do Seu amor pelos homens, deve colaborar humildemente com Ele não só na oração, mas também no exercício do seu apostolado. Procurará este contato através de um intenso exercício de fé que lhe fará compreender cada vez mais profundamente o mistério da Redenção, lhe permitirá reconhecer a realização deste mistério nas diversas circunstâncias da vida, no desenrolar dos acontecimentos, e o ajudará a inserir a sua humilde ação na poderosa ação divina. Deste modo, ainda que empregue meios humanos e se ocupe de questões materiais, manter-se-á numa atmosfera sobrenatural: nunca perderá de vista o fim último da sua atividade, mas terá sempre desperta em si a consciência de colaborar com Cristo na salvação das almas.

À sua fé, o apóstolo deve unir uma ardente caridade, porque o contato com Deus e a afinidade com o Seu amor realiza-se justamente por via de amor. Pela força de intuição que lhe é própria, a caridade permitirá ao apóstolo penetrar mais a fundo no mistério da Redenção, saborear a doce realidade do Amor infinito que nele se manifesta e impeli-lo-á a viver em comunhão íntima com este Amor, do qual há de ser colaborar e instrumento. Então o seu exemplo e as suas palavras darão testemunho de verdades não só acreditadas em teoria, mas vividas na prática, saboreadas, experimentadas no contato íntimo com Deus. o apóstolo poderá dizer com S. João: “Nós conhecemos e cremos na caridade que Deus tem por nós” (I Jo. 4, 16), e ainda: “O que vimos com os nossos olhos e contemplamos e apalparam as nossas mãos relativo ao Verbo da vida… [disso] damos testemunho… vo-lo anunciamos” (ib. 1, 1-3).

Por meio da fé e do amor, o apóstolo alcançará uma afinidade espiritual cada vez maior com o mistério da Redenção e com Jesus que o operou, poderá fazer seus os sentimentos de Jesus, conforme a palavra de S. Paulo: “Tende em vós os mesmos sentimentos que [houve] em Jesus Cristo” (Fil. 2, 5). Este “sentir com Cristo”, que significa amar e querer em uníssono com o Coração divino, compartilhar o Seu imenso amor a Deus e às almas, é o segredo de todo o apostolado.

Colóquio – “ó Jesus, Filho de Deus, se penso que Vós morrestes para a redenção das almas, com poderei não desejar morrer também por elas? E ao ver calcado aos pés o Vosso Sangue, como posso tolerar que Vos seja feita tamanha injúria, Senhor meu? Como posso dizer que Vos amo e que desejo o Vosso amor, se ao ver que a Vossa imagem é atirada à lama não me preocupo com a tirar de lá? Por que razão, pois, não me consagro inteiramente a orar, não me consagro inteiramente a trabalhar, para fazer conhecer e honrar o Vosso nome, a fim de colher, convertendo as almas, os frutos do Vosso Sangue?

“Meu Deus, ainda que tivesse a plena certeza de que nunca mais gozaria de Vós, apesar disso, para Vos honrar, quereria de boda vontade morrer por cada alma pecadora, de maneira que, no presente, sofreria tantas mortes quantas almas pecadoras há no mundo, para que elas obtivessem agora a graça e no futuro a glória. Mas se eu soubesse que também depois receberia a glória com elas, muito mais ainda o faria!” (S. Boaventura).

“Senhor, só há uma coisa a fazer durante a noite desta vida, a única noite que virá uma só vez: amar-Vos com toda a força do meu coração e salvar-Vos almas para que sejais amado.

“Ó Jesus, a vista do Sangue precioso que cai das Vossas feridas impressiona-me profundamente e sinto muita pena ao pensar que este Sangue cai por terra sem que ninguém se apresse a recolhê-lo. resolvo, por isso, conservar-me em espírito ao pé da cruz para receber este divino orvalho e espalhá-lo em seguida sobre as almas.

“O Vosso grito sobre a Cruz: ‘Tenho sede!’ ecoa continuamente no meu coração; estas palavras ateiam em mim um ardor desconhecido e muito vivo… Ó meu Amado, quero dar-Vos de beber e eu própria me sinto devorada pela sede das almas; as almas dos grandes pecadores atraem-me e ardo no desejo de as arrancar às chamas eternas.

“Para o conseguir quero empregar todos os meios imagináveis e, sentindo que por mim mesma nada posso, ofereço-Vos, ó Deus, todos os méritos infinitos de Nosso Senhor e os tesouros espirituais da Santa Igreja” (T.M.J. Cart. 74; M.A. pg. 111 e 112).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 8 de março de 2025 por Arsenal Católico

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