Sermão de Dom Lefebvre: Os princípios da Revolução Francesa penetraram em todas as instituições – 19 de Abril de 1987

“Ao longo da história, a Igreja tem feito de tudo para garantir que a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo seja mantida, confirmada, consolidada. Quando povos inteiros se convertiam, ela suplicava aos príncipes que a ajudassem – de bom grado – a organizar universidades católicas naqueles países, a ajudar no estabelecimento de mosteiros, instituições religiosas, instituições cristãs, escolas católicas”.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Os princípios da Revolução penetraram em todas as instituições

Mas as forças do mal são poderosas e o Bom Deus permitiu que essas forças satânicas finalmente penetrassem no coração dos próprios Estados cristãos, no interior dessas grandes famílias que constituíram os Estados católicos, essas grandes famílias cristãs, e que, através do protestantismo, espalhassem a discórdia. As forças do mal acabaram por destruir estes Estados cristãos decapitando os reis, arruinando os Estados católicos.

E assim, os princípios da Revolução de 1789, tendo agora penetrado em todas as instituições, minam a fé católica em todos os lugares, em todas as famílias, até mesmo nos seminários, até mesmo na Igreja e até mesmo no clero! Eis o que disse São Pio X:

“Agora vemos que o inimigo não está apenas fora da Igreja, mas dentro dela. E onde ele está especialmente trabalhando? Está nos seminários.”(1).

Por isso ele pedia aos bispos que expulsassem todos os professores modernistas dos seminários, a fim de não permitir que idéias errôneas, idéias falsas se espalhassem dentro dos seminários. Se as ideias da Revolução, as ideias contrárias à fé católica penetrarem nos seminários, sairão deles um dia padres, bispos e, então, o que será da Igreja?

O espírito do erro está no interior (da Igreja)

Meus queridos irmãos, estamos aqui hoje. Esta penetração do inimigo, esta penetração do espírito do erro, do espírito anticatólico está agora em toda parte dentro da Igreja, em toda parte! E, surpreendentemente, inacreditavelmente, aqueles que têm responsabilidades na Igreja decidiram agora não agir como a Igreja e os missionários fizeram durante 20 séculos, não mais defender a fé católica através das missões, não mais pedir aos chefes de família e chefes de Estado para virem em auxílio da Igreja Católica para defendê-la e protegê-la. Eles agora decidiram fazer um pacto de paz com os inimigos da Igreja, e esse pacto de paz chama-se ecumenismo, chama-se liberdade religiosa. De agora em diante eis o fim: paz, paz…

Paz com quem? Com os inimigos de Nosso Senhor Jesus Cristo, com aqueles que o crucificaram, com aqueles que continuam a crucificá-lo há 20 séculos! No Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo, entre os fiéis, houve mártires…milhões de mártires; ainda hoje existem alguns, prisioneiros nas prisões russas por serem católicos. O ódio a Jesus Cristo, o ódio à Igreja – infelizmente somos obrigados a constatar isso – ainda existe. Nos últimos dias, os senhores devem ter lido nos jornais as palavras proferidas pelos protestantes de Genebra, há três ou quatro dias atrás, contra a chegada de um bispo católico em sua cidade, (2) uma oposição radical e absoluta:

“Não queremos uma hegemonia católica em Genebra”.

Eis o inimigo. Assim que se fala de Nosso Senhor Jesus Cristo, assim que se manifesta Nosso Senhor Jesus Cristo, há oposições, e assim será até o fim dos tempos.

Um pacto com os inimigos

Mas que a Igreja, ou pelo menos os homens da Igreja, aqueles que têm responsabilidades na Igreja, façam agora um pacto com aqueles que sempre foram inimigos de Nosso Senhor Jesus Cristo, isso é de uma gravidade excepcional! Dizemos aos inimigos:

“Vocês podem vir até nós livremente agora, não vamos impedi-los de vir às nossas famílias católicas, às nossas instituições católicas, aos nossos estados católicos. Não vamos impedi-los de vir.  Venham, muçulmanos, budistas, venham, serão muito bem vindos. E, mesmo eventualmente, construiremos mesquitas e daremos escolas para vocês. Nós os receberemos em nossas escolas católicas onde não faremos mais o sinal da cruz para não feri-los, nem mais falaremos de Nosso Senhor Jesus Cristo para que todos vocês, judeus, protestantes, muçulmanos, budistas , possam vir às nossas escolas, onde serão muito bem recebidos”.

Porquê isso? Supostamente porque o mesmo será exigido de muçulmanos, comunistas e todos os estados totalitários. Diremos:

Agora, uma vez que aceitamos todas as ideologias, todas as falsas ideologias e até mesmo todos os inimigos da Igreja (as aceitamos ao nosso redor, agora os chamamos de irmãos), bem, façam o mesmo conosco. Abram suas portas. Muçulmanos, abram seus países. Comunistas, abram seum países para que possamos proclamar nossa fé”.

Ilusão total! Eles são inimigos declarados de Nosso Senhor Jesus Cristo. Veja o que está acontecendo no Líbano: os católicos, provavelmente, acabarão sendo lançados ao mar pelos muçulmanos, por causa de um espírito anticristão! Este princípio, que agora foi adotado pela Igreja – um princípio que esses clérigos acreditam estar baseado na razão natural, naquilo que eles chamam de dignidade humana, nos direitos do homem – coloca o erro e a verdade no mesmo nível. Essa é, portanto, a destruição total da Igreja e estamos testemunhando, gradualmente, a infiltração de erros. Com os erros vem a amoralidade e, consequentemente, a imoralidade, até mesmo em nossas famílias.

Meus queridos irmãos, os senhores mesmos poderiam dar exemplos concretos, talvez em suas próprias famílias, talvez em seus pais. Todos nós, em nossas famílias, constatamos uma infiltração de imoralidade ou ateísmo; vemos até mesmo crianças partindo para as seitas, vemos o aborto, o divórcio, a contracepção se multiplicando por toda parte, em todas as nossas pequenas cidades, que já foram cidades católicas! Não faz muito tempo, quando eu era superior do seminário de Mortain, em 1945-1947, confessava-me frequentemente nos dias de festas, como a Páscoa, nos vilarejos da Normandia, na França. Pois bem, na maioria desses vilarejos, há quase 40 anos, as pessoas apontavam o dedo a quem não praticava; eles eram conhecidos: “Fulano não pratica“. Mas toda a cidade praticava. As cidades inteiras praticavam. Vejam agora! Poucas pessoas na igreja, poucas pessoas se confessando…

É a ruína da religião cristã, da religião católica! Esses maus exemplos, essas más ideias que circulam por toda parte e que são propagadas por todos os meios de comunicação social, destroem a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, na divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. O demônio conseguiu uma operação sensacional para ele: fazer as pazes com os inimigos da Igreja, deixá-los entrar em todos os lugares, até em nossa casa… É o fim da Igreja Católica! O objetivo de Satanás é a destruição da Igreja Católica e a destruição do espírito católico, a destruição da fé católica. E ele agora tem todas as portas abertas.

Queremos continuar a Igreja

Quanto a nós, nós resistimos. Queremos continuar como a Igreja fez no passado: defender nossas famílias, defender nossas cidades, defender nossos vilarejos e, se necessário, erguer capelas para nossas famílias, construir escolas onde Nosso Senhor Jesus Cristo será o Mestre, o rei. E, se por acaso, houver um jovem protestante ou um jovem judeu que queira vir para a nossa escola, ele aprenderá o catecismo como os outros e, se ele não quiser, não será obrigado a ficar nas nossas escolas. Foi o que fizemos em Dakar quando tínhamos muçulmanos em nossas escolas. Por serem poucos, concordaram em aprender o catecismo. Uma vez, tínhamos uma pequena criança muçulmana que era a primeira da turma no catecismo, mas que, infelizmente, não pôde comungar e chorou no dia da primeira comunhão porque não podia seguir os outros que iam comungar. Mas, se tivéssemos pensado em dar a comunhão a esta criança e, antes disso, batizá-la, os muçulmanos teriam incendiado nossa escola. Dessa forma, batizar uma criança muçulmana estava fora de questão!

Portanto, devemos manter esta fé católica, proteger as nossas famílias e, para isso, reconstituir um tecido de instituições cristãs:  mosteiros, comunidades contemplativas de religiosos e freiras, a fim de restituir a atmosfera católica na qual costumávamos respirar, enquanto no mundo moderno, com o desaparecimento de todas as instituições católicas, somos asfixiados. Mesmo as instituições ditas católicas já não a são e, pouco a pouco, podemos dizer, na verdade, que padres e bispos já não são mais católicos porque não querem mais defender a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Eles não acreditam mais na divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo; não é possível de outra forma. Se eles acreditassem, como a Igreja tem cantado todos estes dias, que Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou, que ele é o Salvador, que ele é nosso Deus, que em poucos anos nos encontraremos todos lá em cima diante Dele, em seu esplendor (como o Apóstolos no Monte Tabor O veremos em sua magnificência, em Seu reinado eterno), eles automaticamente teriam o desejo de espalhar essa fé ao seu redor e fazer com que o maior número possível de pessoas pudesse seguir Nosso Senhor Jesus Cristo em sua Ressurreição, em sua Ascensão ao céu. Eis o espírito da Igreja!

† Marcel Lefebvre

Fontes: Sermão em Ecône, Páscoa, 19 de abril de 1987, texto publicado em Le Rocher c’est le Christ n°105 – fevereiro/março de 2017 – La Porte Latine de 9 de fevereiro de 2017

Notas:

  1. Encíclica Pascendi
  2. Em fevereiro de 1987, D. Amédée Grab, OSB, foi nomeado Bispo Auxiliar da Diocese de LGF, com residência em Genebra.
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