SÚPLICAS A NOSSA SENHORA

Para que interceda por nós a seu bendito Filho, e nos alcance a dor de pecados.

Como chorarei, Senhora, minha feia vida e meus vergonhosos pecados? Que poderei dizer-vos, Virgem pura? Perplexo me acho e temeroso; porém ajudai-me, Senhora.

Por onde principiarei a enumerar minhas graves culpas e malignos feitos? Ah! e que será de mim para o futuro? Que sorte me espera, infeliz! Porém, antes que minha vida acabe, compadecei-vos de mim, Senhora.

Percorrido tenho todo o caminho dos pecadores, e em parte nenhuma achei a vereda da salvação; porém a vós recorro, advogada minha, não me desprezeis quando contrito vos invoco.

A miúdo penso em minha última hora, e no terrível tribunal que me espera; mas o costume de mal obrar me prende e arrasta; vós porém ajudai-me a quebrar minhas cadeias.

O cruel inimigo que me viu fraco, desvalido, longe de Deus e das santas virtudes, ameaça engolir-me; apressai-vos, Senhora, que me perco!

Feias culpas, vergonhosos pecados, desfeiam minha pobre alma; infeliz de mim, onde irei, de vós apartado, de remorsos e desesperação devorado?!

Com ânimo arrogante e ingrato vossa imagem ofendi, Virgem santa; infeliz de mim, a quem recorrerei? Porém apressai-vos, Senhora, em socorrer-me.

Não há talvez entre os mortais quem, como eu, violado tenha a lei de vosso bendito Filho; com minhas maldades manchei a veste pura do santo batismo.

Não há ação má que não tenha cometido; contra mim clama o Céu e a terra; vós porém, Santíssima Virgem, acudi depressa a tão infeliz pecador.

Temem os coros dos Anjos e as Virtudes dos Céus o poder de vosso Filho; e eu, endurecido na culpa, sinto-me de temor privado!

Pasmada está a terra e se estremece ao ver a protérvia com que aos crimes me entrego, e a graça de vosso Filho desprezo!

Feiamente tenho manchado o templo de meu corpo, e com indiferença entro no templo do Deus vivo; ai de mim, Virgem Santa, se me não acudis!

Estranho na casa de vosso Filho, inteiramente indigno de sua graça, à desesperação me entregara se em vós não confiara! Purifica-me, Virgem Santa, de tantas manchas, alcançai-me dor viva de meus gravíssimos pecados.

Transgrediu Adão um só preceito da lei divina, e foi por isso do Paraíso desterrado; como chorarei eu o abismo de meus pecados, eu tantas vezes apóstata e prevaricador contra Deus e sua Igreja?!

Foi logo de Deus o fratricida Caim maldito, por ter morto inocente Abel! que mereço eu, atrevido e ingrato, que tantas vezes tenho dado morte à inocente alma que de meu Criador recebi?!

Mias dado à gula e à sensualidade que Esaú, tenho manchado meu corpo e minha alma com indecências e demasias; e tremo ser despojado da herança celestial!

Com o vosso resplendor, beatíssima Virgem, sarai a enfermidade de minha alma em que me lançou o espírito corruptor; livrai-me de seu duro cativeiro, que folga ele quando me vê de vós desamparado.

Minha vida se esvaece, minha alma desfalece, ao ver as misérias em que estou abismado; eia pois, advogada minha, correi em meu socorro.

Antevejo meu último fim, e não posso suportá0lo; argui-me a consciência, e não sei sossegá-la; lança-me em rosto meus péssimos feitos, minha vida inconstante e perdida, e não tenho assaz de dor de meus pecados! acudi-me, Senhora.

Como bicho roedor, devora o fogo da concupiscência minha carne pecadora; por vossa intercessão, livrai-me de tão terrível e implacável inimigo.

Temo e tremo, quando me lembro das ciladas em que o espírito tentador me tem feito cair. Conheço a fraqueza de meu coração, e receio ser de novo vítima sua! Por vossa maternal bondade, dai-me lágrimas para chorar o passado, e forças para vencer no futuro.

Mergulhado no pego profundo de meus pecados, faleço de forças para dele sair; de mim se ri o inimigo maligno; porém vós, Senhora, levantai-me com mão poderosa.

Tremendo é o juízo que te espera, ó alma minha infeliz e desavisada, perpétuo e horrível tormento! Porém suplica reverente a Mãe de teu Juiz, e teu Deus; e porque desesperas de tua salvação?

Não era a Madalena uma pecadora? Não era Dimas um facinoroso? Sem Maria foram perdoados; que temes tu tendo por ti a Mãe de teu Juiz?

Em vós, Virgem Santa, coloquei toda minha confiança; não aparteis de mim vosso rosto; não fecheis para mim vossas maternais entranhas, ó Mãe de Deus; mostrai que sois também Mãe minha, ajudai-me nesta hora.

Em trevas vivo envolto e opresso de misérias, perdi da alma a luz e a inteligência; aluminai-me sem demora ao suave gozo da imortalidade.

Virgem singular que destes o ser a Cristo Deus, e em vossos braços o trouxestes, apagai em mim o fogo ardente das paixões, e lavai minha alma com uma torrente de lágrimas.

Estremeço com a lembrança da morte, mas não temo assaz o juízo que a ela se há de seguir, nem me emendo de minha errada vida; compadecei-vos de minha miséria, e antes que o fim chegue, ouvi benigna minhas súplicas.

Dai-me, Senhora, incessantes gemidos, perenes lágrimas, em que lave meus muitos delitos e incuráveis chagas, até que alcance a vida eterna.

A vós confesso, piedosa Senhora, a multidão de meus pecados; nem há no mundo pecador que tenha irritado tanto a Deus vosso Filho e Senhor meu; por vossos rogos reconciliai-me com Ele sem demora.

Filho de Maria, no dia tremendo do juízo não me mistureis com os condenados, mas pelos rogos de vossa Mãe carinhosa, apiedai-vos de mim, e com os escolhidos à direita me colocai.

A vós volvo meus olhos, ó Imaculada Senhora; quão poderosa é a súplica de Mãe ao Filho! Ah! como Mãe intercedei por mim, para que se abrande sua justiça, e use comigo de misericórdia.

Em vós confiado espero o justo Juiz Filho vosso, que pelos homens morreu; fazei, Senhora, que Ele seja propício e à sua direita me coloque.

Dor de pecados sobretudo me alcançai, propósito de emenda me inspirai, o caminho do céu me facilitai, para que com os anjos e arcanjos em vossa companhia cante louvores ao Deus Trino e Uno por toda a eternidade. Amen.

Novas Horas Marianas ou Ofício da SS. Virgem Maria, J. I. Roquette, 1888.

Última atualização do artigo em 13 de abril de 2025 por Arsenal Católico

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