Quando, Senhor, me verei livre de tantas angústias, e pensarei somente em Vos amar e cantar Vossos louvores? Quando gozarei dessa paz sólida, isenta de aflições e todo o perigo de me perder? Ó meu Deus, quando me verei todo absorto em Vós, contemplando a Vossa beleza infinita face a face e sem véu? Quando enfim, Criador meu, quando terei a felicidade de Vos possuir, e poder dizer-vos: Meu Deus, não temo mais Vos perder?
Senhor, enquanto vivo neste desterro, estou continuamente em guerra com os meus inimigos interiores; socorrei-me com as vossas graças: sem o Vosso socorro, temo que os prazeres terrestres e as minhas propensões ilícitas me arrastem nalgum precipício.
Retido no fundo deste triste vale, quisera ao menos, ó meu Deus, ocupar-me sem cessar convosco e me folgar da Vossa felicidade infinita; mas os desejos desordenados dos meus sentidos produzem tanto ruído em mim, que me perturbam. Quisera empregar todas as faculdades da minha alma em Vos amar e render ações de graças; mas a carne me solicita para o gozo dos prazeres terrenos, e vejo-me obrigado a clamar com São Paulo: Infeliz de mim, quem me livrará deste corpo de morte (Rom 7, 24). Tenho de lutar sem cessar, não somente contra os meus inimigos de fora, mas ainda contra as minhas próprias inclinações, a tal ponto que me sinto cansado de viver e sou pesado a mim mesmo. Quem então me livrará desta morte, isto é, do perigo de cair no pecado, perigo que por si só é para mim morte contínua, tormento que não terminará senão com o meu último suspiro?
Meu Deus, não Vos separeis de mim, porque, se Vos separais, temo Vos ofenda; ah! antes, ficai-Vos pertinho de mim pelo Vosso poderoso socorro, não cesseis de me suster, a fim de que possa resistir aos assaltos dos meus inimigos. O Vosso profeta nos assegura que estais perto daqueles que têm o coração aflito (SI 33, 19), e os armais de paciência. Estai então constantemente ao meu lado, ó amadíssimo Senhor meu, e dai-me a paciência de que preciso para triunfar de todos os tédios que me acabrunham.
Ó palácio de meu Deus, morada preparada para aqueles que o amam, desde esta miserável terra suspiro sem cessar por ti. Amadíssimo Pastor meu, descido do céu para salvar as ovelhas perdidas, aqui estou eu, uma dessas ovelhas que tiveram a desgraça de Vos voltar as costas e perder-se. Senhor, buscai-me, tornai-me e ponde-me sobre os Vossos ombros, para que não possa separar-me mais de Vós. Enquanto aspiro ao Céu, o inimigo da minha alma se esforça por me aterrar pela lembrança das minhas faltas, mas, ó meu Jesus crucificado, a Vossa vista me tranqüiliza e faz esperar ir um dia Vos amar, sem véu, no Vosso feliz reino. Augusta Rainha do paraíso, continuai a ser a minha advogada: graças ao sangue de Jesus Cristo e à vossa intercessão, tenho a firme confiança de me salvar.
As Mais Belas Orações de Santo Afonso, Coordenadas pelo Pe. Saint-Omer, Redentorista e vertidas para o vernáculo por D. Joaquim Silvério de Sousa, Editora Vozes, 1961.
Última atualização do artigo em 22 de março de 2025 por Arsenal Católico