Um quarto de hora diante de Jesus Sacramentado

Anthony Richter - Adoração do Santíssimo Sacramento, 1756, Paróquia Católica Romana de Šternberk

Não é preciso, meu filho, saberes muito para me agradares; é suficiente que me ames muito. fala-me, pois, aqui singelamente, como falarias ao amigo mais íntimo, a tua mãe, a teu irmão.

Tens necessidade de me fazer uma súplica a favor de alguém? Dize-me seu nome, seja o de teus pais, o de teus irmãos, o de teus amigos; dize-me o que desejas que faça por eles. pede muito, muito; não duvides em pedir: gosto muito dos corações generosos que se esquecem de si mesmos para atender, com singeleza, dos pobres que queres consolar; dos extraviados que desejas voltem ao bom caminho, dos amigos ausentes que com gosto verias a teu lado. Dize-me por todos uma só palavra, porém palavra de amigo, palavra entranhável e fervorosa. Lembra-me que tenho prometido ouvir as súplicas que saem do coração, e não sairá do teu a petidão por aqueles que mais amas?

E para ti, não necessitas alguma graça? Faze o rol de tuas necessidades e vem à minha presença. Dize-me com franqueza que sentes orgulho, amor à sensualidade e ao regalo, que és talvez egoísta, inconstante, negligente…, e pede-me logo que venha auxiliar os esforços, poucos ou muitos, que fazes para afastares de ti semelhantes misérias.

Não te envergonhes, pobre alma. Há no céu tantos justos, tantos santos de primeira ordem que também tiveram esses mesmos defeitos! Porém rogaram-me com humildade e confiança, e… pouco a pouco ficaram livres deles.

Nem duvides pedir-me os bens do corpo e do entendimento: saúde, memória, êxito feliz nos teus trabalhos, negócios e estudos. Tudo isso posso dar-te e desejo que m’o peças, sempre que não se oponha, antes bem favoreça e ajude a tua santificação. Hoje que precisas? que posso fazer por teu bem? Se conhecesses os desejos que tenho de favorecer-te!

Trazes agora entre mãos algum projeto? Conta-me tudo minuciosamente. Que te preocupa? que pensas? que desejas? que posso fazer pelo teu irmão, pela tua irmã, pelo teu amigo, pelo teu superior? Que desejarias fazer por eles?

E por mim, não desejas minha glória? não quiseras fazer algum bem a teu próximo, a teus amigos, que muito amas, e que talvez me tenham esquecido?

Dize-me, que coisa chama hoje mais particularmente tua atenção? Que anelas mais vivamente e com que meios contas para o conseguir? Conta-me se corre mal a tua empresa e dir-te-ei as causas do mau êxito. Não queres que me interesse algo em teu favor? Sou, meu filho, dono dos corações, e docemente os levo, sem prejuízo da sua liberdade, aonde me apraz.

Sentes talvez tristeza ou mau gênio? Conta-me, conta-me, alma desconsolada, tuas tristezas com todas as minúcias. Quem te feriu? Quem melindrou teu amor próprio? Quem te desprezou? Chega-te ao meu Coração, que tem bálsamo eficaz para todas as feridas do teu coração. Dá-me conta de tudo e acabarás por me dizer que, à semelhança do que eu fiz, tudo perdoas, tudo esqueces, e, em recompensa, receberás minha consoladora bênção. Temes talvez? Sentes em tua alma melancolias que, embora injustificadas, não deixam de ser dilacerantes? Deita-te nos braços da minha Providência. Estou contigo; aqui, ao teu lado, me tens; vejo tudo, ouço tudo, nem um momento te abandono.

Sentes abandono por parte de pessoas que antes te queriam bem, e agora, esquecidas, se afastam de ti, sem lhes teres dado motivo? Roga por elas e eu as voltarei a teu lado se não servirem de obstáculos à tua santificação.

E não tens talvez alguma alegria a comunicar-me? Por que me não fazes participante delas, sendo eu teu melhor amigo? Conta-me o que desde ontem, desde a última visita que me fizeste, tem consolado e feito sorrir teu coração. Quiçá tiveste agradáveis surpresas; talvez tens visto dissipados pungentes receios; quem sabe se recebeste boas notícias, uma carta, uma prova de carinho; tens vencido uma dificuldade, saíste bem duma ocasião perigosa… Obra minha é tudo isso, e eu t’a proporcionei; por que não me manifestas gratidão e me dizes singelamente: Graças, meu Pai, graças Vos dou. O agradecimento traz consigo novos benefícios, porque ao benfeitor lhe agrada ver-se correspondido.

Não tens alguma promessa para me fazer? Leio, bem o sabes, o fundo do teu coração: aos homens facilmente se pode enganar, a Deus, não. Fala-me, pois, com toda sinceridade. Tomaste a firme resolução de te não expores àquela ocasião de pecar? De privar-te daquele objeto que te prejudicou? De não leres mais aquele livro que excitou tua imaginação? De não tratares mais com aquela pessoa que turvou a paz de tua alma? Voltarás a ser doce, amável, condescendente, tolerante, com aquela outra que, por haver-te faltado, consideraste até hoje como teu inimigo?

Ora, bem, meu filho; volta a teus afazeres habituais, a tua oficina, a tua família, a teu estudo… mas não esqueças o quarto de hora de grata conversa que aqui tivemos sozinhos no santuário. Guarda, quanto possível, silêncio, modéstia, recolhimento, resignação, caridade com o próximo. Ama minha Mãe, que também é tua, a Virgem Santíssima… e volta amanhã com o coração mais carinhoso ainda, mais dedicado a meu serviço: no meu encontrarás cada dia novo amor, novos benefícios, novas consolações.

Devocionário e Mês de Santa Rita de Cássia pelo Exmo. e Revmo. D. Bernardo Martinez Noval O.S.A., Bispo de Alméria, traduzido do espanhol pelo P. Domingos de Lemos da mesma Ordem, 2ª Edição, 1952,

Última atualização do artigo em 24 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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