Tudo é vaidade e tribulação do espírito (Ecl. I, 14).
Todas as criaturas são obras de Deus, nas quais vem refletir-se a sua sabedoria, poder e bondade. Elas, porém, só em grau muito limitado receberam o que o homem deve encontrar, reconhecer e amar em grau infinito no Criador.
Vaidade das vaidades, e tudo vaidade! (1) São vãs as riquezas e as honras, vãos os prazeres, vãs todas as coisas criadas; vãs em si, vãs com relação a nós, vãs na presença de Deus, vãs para a eternidade!
Como é miserável a felicidade deste mundo! Quão poucos a logram, e quão grande é o número dos que a não podem alcançar! E Deus havia de colocar a nossa felicidade em bens que distribui indistintamente entre bons e maus, em bens que poucos podem alcançar e que não ultrapassam as balizas dos sentidos?
Como é vã e insuficiente a felicidade do mundo! Nem deixa a alma sossegada e satisfeita, nem apaga a sêde que sente o coração. Semelhante à água do mar, em vez de saciar abrasa, enjoa, enfastia. O avarento diz: ainda mais; o sensual repete: ainda mais; e o ambicioso: mais ainda! (2)
Por mais tesouros, honras e deleites que lancemos no abismo do desejo, jamais conseguiremos cumulá-lo: são bens tão vãos como a espuma e o fumo, incapazes de apagar a sêde de felicidade que atormenta o coração.
Como é breve a felicidade da terra! Dura poucos dias; mas ainda que se prolongue por muitos anos ou até por toda a vida, o que é ela comparada com a eternidade? Um sonho que se desvanece! Apenas resta dela a lembrança e o remorso da culpa.
Como é venenosa a felicidade da terra! É a taça inebriante, cujas fezes todos os pecadores se veem obrigados a esgotar! (3)
Vaidade das vaidades, e tudo vaidade, exceto amar e servir só a Deus!
Hoje, glória, alegria, saúde e bem-estar; talvez amanhã aflição, dor e a morte.
Hoje num palácio; amanhã numa cova. hoje, descansando num leito fofo; amanhã num duro ataúde. hoje rodeado de aduladores, de companheiros, entre prazeres e alegrias; amanhã, na triste solidão do sepulcro, entre os vermes e a corrupção. Hoje florescente, ataviado, sedutor, amanhã, morto, rígido, desfigurado e hediondo.
Vaidade das vaidades, e tudo vaidade!
Assim como no deserto as colinas movediças se transportam rapidamente dum lugar para outro, deixando concavidades onde há pouco se viam proeminências, assim mudam os bens da terra: vão e veem, levantam-se e abatem-se. Feliz, quem não põe neles a sua confiança.
Só Deus é o verdadeiro bem que satisfaz o coração. possuindo-o, podes deixar tudo o mais: sem Ele, não haverá nada que te possa satisfazer.
O teu coração, criado por Deus, não encontrará descanso, enquanto não repousar nEle.
Aparta, pois o coração de todas estas vaidades: delas te separará a morte cedo ou tarde.
Confessa em todas as criaturas o poder de Deus; ama-o ao menos pelo dom que tão generosamente te concede, e virá um dia em que te será dado amá-lO em si mesmo.
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Ecles. I, 2.
(2) Prov. XXX, 15.
(3) Prov. XXX, 15.
Última atualização do artigo em 18 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico