Ó Pai, ó Filho, ó Espírito Santo, recebei-me no Vosso amplexo, dignai-Vos admitir-me na Vossa intimidade.
1 – Se desejas que o grande dom da inabitação da Trindade produza em ti todo o seu fruto de íntima amizade com as três Pessoas divinas, deves habituar-te a viver com a Trindade pois é impossível manter uma verdadeira amizade com uma pessoa, se depois de se lhe ter oferecido hospitalidade na própria casa, se vive esquecido dela. Para viver com a Trindade não é necessário que experimentes a Sua presença em ti – isto é uma graça que depende exclusivamente de Deus concedê-la com certeza que as divinas Pessoas moram em ti. Baseando-te nesta realidade que não vês, nãos entes nem compreendes, mas que conheces com segurança porque Deus ta revelou, podes orientar-te para uma verdadeira vida de união com a Santíssima Trindade.
Podes, acima de tudo, considerar a Trindade presente em ti na Sua unidade indivisa, pois já sabes que tudo o que a Trindade realiza fora de Si e, por conseguinte, na tua alma, é operado indistintamente pelas três Pessoas divinas. Todas três moram simultaneamente em ti, produzindo os mesmos efeitos. Todas três infundem em ti graça e amor, iluminam-te, oferecem-te a Sua amizade e amam-te com o mesmo amor. Todavia isto não obsta a que cada uma dElas esteja presente na tua alma com as características próprias da Sua Pessoa: o Pai, como fonte originária da divindade e de todo o ser; o Verbo, como esplendor do Pai, como luz; o Espírito Santo, como termo do amor do Pai e do Filho. Cada Pessoa divina, portanto, ama-te com uma característica pessoal e oferece-te o Seu dom particular. O Pai oferece-te a Sua dulcíssima paternidade, o Verbo investe-te com a Sua luz resplandecente, o Espírito Santo penetra-te com o Seu amor ardente. E tu, pequena criatura, procura tornar-te consciente de tão grandes dons para te aproveitares plenamente deles.
2 – Para corresponder às características específicas das três Pessoas divinas, podes ter com cada uma dElas relações particulares. Considerando em ti o Pai, sentirás a necessidade de viver perto dEle, como um bom filho, de ser para Ele um filho amante e dedicado que procura dar-Lhe prazer em tudo, que em tudo quer fazer a Sua vontade. Ao mesmo tempo, sobretudo nos momentos de dificuldade e desânimo, sentir-te-ás impelido a refugiar-te nEle para encontrares na Sua onipotência, grandeza e bondade infinitas, um amparo e um remédio para a tua insuficiência, pequenez e miséria.
Considerando o Verbo presente na tua alma, sentirás a necessidade de te deixares penetrar pela Sua luz e instruir por Ele que é a palavra do Pai, a fim de que Ele te introduza no verdadeiro conhecimento dos mistérios divinos e te ensine a julgar todas as coisas segundo Deus. Sentirás a necessidade de O ires procurar na Sua Incarnação onde O acharás mais acessível à tua humanidade, de te refugiares na Sua Redenção, através da qual te dá a vida, Se faz teu irmão e te apresenta ao Pai como filho.
Considerando o Espírito Santo, Fruto delicioso do amor do Pai e do Filho, surgirá mais vivo em ti o desejo de secundar a Sua obra de amor na tua alma e por isso quererás seguir mais docilmente as Suas inspirações, quererás deixar-te guiar por Ele em tudo e, enfim, deixares-te tomar pelo Seu impulso divino, para te levar conSigo ao Pai e ao Filho.
Deste modo realizar-se-á em ti o fim altíssimo para o qual Deus nos criou e remiu, a saber: “para que a nossa comunhão seja com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo” (I Jo. 1, 3). Isto não pelos teus méritos, mas unicamente pelos méritos infinitos de Cristo que te fez participante da Sua glória de Filho de Deus, que te deu parte no amor com que o Pai O ama, que te deu o Seu Espírito, que Se fez tua comida para alimentar do modo mais direto a tua vida de união com a Trindade sacrossanta.
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.