Exemplos de vários estados daqueles que confessaram mal

Os condenados Lançados no Inferno por Luca Signorelli - 1499-1504 (San Brizio chapel, Orvieto Cathedral, Orvieto, Italy)

Alguns exemplos de vários estados daqueles que se confessaram mal, copiados de Santo Afonso em seu livro intitulado: Instrução ao Povo.

Exemplo 1

Exemplo dum homem que fazia más confissões e, depois, quando quis confessar-se devidamente, não pôde; porque bem o diz o mesmo Deus: “buscar-me-eis e não me achareis e morrereis em vosso pecado”. Diz, pois, São Ligório que nos anais dos Padres Capuchinhos, se conta dum que era tido por pessoa de virtude, mas que se confessava mal. Como caísse gravemente doente, foi avisado que se confessasse, e fez chamar certo padre ao qual disse logo que chegou: – Meu padre, dizei que me confessei, mas eu não quero confessar-me.

– E porque? replicou-lhe admirado o padre. – Porque estou condenado, pois não tendo me confessado nunca inteiramente de meus pecados, Deus em castigo me priva agora de poder confessar-me bem. Dito isto, começou a dar terríveis uivos e a despedaçar a língua, dizendo:

– Maldita língua que não quiseste confessar os pecados quando podias.

E assim, fazendo em pedaços a língua e uivando horrivelmente, entregou a alma ao demônio; seu cadáver ficou negro como um carvão e ouviu-se um barulho espantoso, seguido dum cheiro insuportável.

Exemplo 2

Exemplo duma donzela, que morreu também impenitente e desesperada. Refere o Padre Martinho Del Rio, que, na província do Peru havia uma moça índia, chamada Catarina, a qual servia a uma boa senhora, que a levou a batizar-se e a frequentar os Sacramentos. Confessava-se amiúde, mas calava os pecados. Chegando o transe da morte, confessou-se nove vezes mas sempre sacrilegamente, e acabadas as confissões, dizia às suas companheiras que calava os pecados. Estas foram contá-lo à senhora, que sabia por sua mesma cria moribunda, que estes pecados que calava eram de impureza. Avisou, pois, o confessor, o qual voltou para exortar à doente e que se confessasse de tudo; mas Catarina obstinou-se em não querer dizer aquelas culpas ao confessor, chegando a tal ponto de desesperação, que disse por último: – Padre, deixai-me, não vos canseis mais, porque perdeis o tempo. E virando as costas ao confessor, pôs-se a cantar canções profanas. E estando para morrer, como suas companheiras a exortassem a que tomasse o Crucifixo, respondeu: – Qual Crucifixo, qual história! Não conheço nem quero conhecê-lo. E assim morreu.

Desde aquela noite começaram a ouvir-se tais barulhos e a sentir-se tal cheiro, que a senhora se viu obrigada a mudar de casa; e depois apareceu, já condenada, a uma sua companheira dizendo-lhe que estava no inferno por suas más confissões.

Exemplo 3

Exemplo dum moço: neste exemplo se deixa ver claramente aquele princípio: OU CONFISSÃO, OU CONDENAÇÃO para quem pecou mortalmente, e que todas as obras boas e penitências, sem preceder a confissão, de nada servem para sair do mísero estado de culpa, a não ser que haja um desejo eficaz verdadeiro de confessar-se, se então não se puder. A razão é evidente: o pecado mortal tem uma malícia infinita; para curar esta chaga infinita é absolutamente necessário um remédio infinito; este remédio infinito são os méritos de Jesus Cristo, aplicados por meio dos Sacramentos; resulta, pois, que, se podendo receber os Sacramentos, não se receberem ou pelo menos não se desejar eficazmente recebê-los logo que for possível, nunca se conseguirá o remédio, como infelizmente aconteceu ao desgraçado Pelágio.

Conta-se na crônica de São Bento dum eremita, chamado Pelágio, que posto por seus pais a guardar os rebanhos, levava uma vida exemplar, de modo que todos lhe davam o nome de santo; e assim viveu muitos anos. Mortos seus pais, vendeu aquelas poucas coisas que ainda lhe ficavam e se fez eremita. Uma vez, por desgraça, consentiu num pensamento de impureza. Caído no pecado, viu-se abismado numa melancolia profunda; porque o infeliz não queria confessá-lo, para não perder o conceito de santidade. Durante esta obstinação passou um peregrino que lhe disse: – Pelágio, confessa-te, porque Deus te perdoará e recobrirás a paz que perdeste e desapareceu. Depois disso, resolveu-se Pelágio a fazer penitência de seu pecado, mas sem confessar-se, imaginando que Deus lho perdoaria sem a confissão. Entrou num mosteiro onde foi imediatamente bem recebido por sua boa fama, e nele começou a fazer uma vida áspera, mortificando-se com jejuns e penitência. Chegou finalmente a morte, e confessou-se por derradeira vez; mas assim como por pejo deixara em vida de confessar seu pecado, assim o deixou também na morte. Recebeu o Viático, morreu e foi sepultado no mesmo conceito de santo. Na noite seguinte, o sacristão achou o corpo de Pelágio sobre o sepulcro; enterrou-o outra vez; mas, tanto na segunda como na terceira noite, achou-o sempre insepulto, de maneira que deu aviso ao abade, o qual, indo junto com os outros monges, disse: – Pelágio, tu foste obediente em vida, obedece também depois da morte: dize-me da parte de Deus se é talvez vontade divina que se coloque teu corpo nalgum lugar reservado? E o morto, dando um uivo espantoso, respondeu: – Ai de mim! Que estou condenado para sempre por uma culpa que deixei de confessar. Olha abade, meu corpo! E no mesmo instante apareceu seu corpo como um ferro ardente, que lançava horríveis faíscas de fogo. Ao ponto que se puseram todos em fuga; mas Pelágio chamou ao abade, para que lhe tirasse da boca a partícula consagrada, que ainda tinha. Feito isto, disse Pelágio que o tirassem da Igreja e o lançassem para um monturo, e assim se fez.

Exemplo 4

Exemplo duma filha dum rei da Inglaterra. Este caso é muito semelhante ao que se acaba de contar. Refere o Padre Francisco Rodriguez que na Inglaterra, quando nela dominava a religião católica, o rei Auguberto tinha uma filha de tão rara beleza, que foi pedida em casamento por muitos príncipes. Perguntada pelo pai se queria casar-se, respondeu que fizera voto de perpétua castidade. Impetrou-lhe o pai a dispensa de Roma, mas ela permanecia firme em não aceitá-la, dizendo que não queria outro esposo que Jesus Cristo; e só pediu a seu pai que a deixasse viver numa casa solitária; e como o pai lhe queria muito, não quis desgostá-la, dando-lhe uma pensão como convinha à sua família. Chegada ao seu retiro, fez uma vida santa de jejuns e penitências; frequentava os Sacramentos e assistia muito amiúde num hospital, para visitar e servir aos doentes. Levando tal gênero de vida, e moça ainda, adoeceu e morreu. Uma senhora, que fora sua aia, fazendo oração uma noite, ouviu um grande barulho, e viu logo uma alma em figura de mulher em meio de um grande fogo, e acorrentada por muitos demônios, a qual lhe disse: eu sou a desgraçada filha de Auguberto. – Como?! Respondeu a aia, tu condenada, depois de uma vida tão santa? – justamente sou condenada por minha culpa, respondeu a alma. – E por quê? – Porque sendo eu ainda menina, gostava que um de meus pagens, com o qual eu tinha amizade, me lesse algum livro. Uma vez este pagem, depois da leitura, pegou em minha mão e beijou-a. Começou a tentar-me o demônio até que finalmente, com aquele mesmo pagem, ofendi a Deus. Fui depois confessar-me, comecei a dizer meu pecado, e meu indiscreto confessor interrompeu-me dizendo: Como? Isto faz uma rainha? Eu então acanhada disse que fora um sonho. Comecei depois a fazer penitências e esmolas, a fim de que Deus me perdoasse, mas sem confessar-me. Estando para morrer, disse o confessor que eu fora uma grande pecadora: respondeu-me o confessor que devia apartar de mim aquele pensamento, como verdadeira tentação; depois expirei, e agora vejo-me condenada por uma eternidade. E dizendo isto, desapareceu com tal estrondo, que parecia que o mundo vinha abaixo, deixando naquela habitação insofrível mau cheiro que durou por muitos dias.

Se esta infeliz tivesse chegado devidamente ao sacramento da Penitência, cantaria ao Senhor cânticos de louvor no céu; mas agora, pela sua desprezível e maldita vergonha é mais uma brasa no inferno… E quantas pessoas há de todo estado, sexo e condição que experimentarão igual castigo, se não se chegarem contritas ao Tribunal da Pentência?

Exemplo 5

Duma casada muito parecido com o anterior: refere-o também São Ligório. – Conta o Padre Serafim Razzi que numa cidade da Itália havia uma nobre senhora casada, que era tida por santa. Estando para morrer, recebeu os santos Sacramentos, deixando muito boa fama de sua virtude. Sua filha rogava continuamente a Deus pelo descanso de sua alma. Um dia, estando a filha em oração, ouviu um horroroso barulho na porta, voltou os olhos e viu a horrível figura de um porco de fogo que lançava sobre si um fedor insuportável; foi tal seu terror que se teria lançado pela janela abaixo; mas deteve-a uma voz que lhe disse: pára, minha filha, eu sou tua desgraçada mãe, e que tinham por santa; mas pelos pecados que cometi com teu pai, e que por pejo nunca confessei, Deus me condenou ao inferno; não rogues mais a Deus por mim, porque me dás maior tormento. E dito isto, bramindo, desapareceu.

Perguntarás, talvez, amado cristão: É possível que uma alma condenada apareça? A isto responderei que sim; e, para tirar-te de qualquer dúvida, quero explicar-te as razões. Deus Nosso Senhor Juiz Supremo, e dono absoluto dos vivos e dos mortos, em qualquer hora pode ordenar, e algumas vezes ordenou, que alguns dos encerrados nas masmorras do inferno, para confusão sua, e lição e utilidade nossa, saiam daquele cárcere e apareçam do modo mais conforme ao fim para o qual lhes manda aparecer; e quando aparecem, não é mister que todo o mundo os veja: basta que os vejam alguns, e estes participem aos outros, para que, encarmentado todos em cabeça alheia, ponham grande e especial cuidado em não fazer más confissões, e para que por meio de uma confissão geral, acompanhada duma verdadeira dor e propósito firme, emendem as mal feitas, fazendo-as de novo, para não experimentar depois a mesma desgraçada sorte. Este é o fruto e utilidade que deves tirar da leitura deste e outros exemplos.

Exemplo 6

Exemplo duma senhora que por muitos anos calou na confissão um pecado desonesto. Refere Santo Afonso e mais particularmente o padre Antônio Caroccio, que passaram pelo país em que vivia esta senhora, dois religiosos, e ela, que sempre esperava confessor forasteiro, rogou a um deles que a ouvisse em confissão, e confessou-se. Logo que partiram os padres, o companheiro disse ao confessor ter visto que enquanto a senhora se confessava, saiam de sua boca muitas cobras, e uma serpente enorme deixara ver fora sua cabeça, mas voltara de novo para dentro, e após ela todas as que antes saíram. Suspeitando o confessor o que aquilo podia significar, voltou à cidade e à casa daquela senhora, onde lhe disseram que ela no momento de entrar na sala, morrera repentinamente. Por três dias seguidos jejuaram e oraram por ela, suplicando ao Senhor que lhes manifestasse aquele caso. Ao terceiro dia, apareceu-lhes a infeliz senhora condenada e montada sobre um demônio, em figura dum dragão horrível com duas serpentes enroscadas ao pescoço, que a afogavam e lhe comiam os peitos; uma víbora na cabeça, dois sapos nos olhos, setas ardentes nas orelhas, chamas de fogo na boca e dois cães danados que a mordiam, e lhe comiam as mãos; e dando um triste e espantoso gemido, disse: – Eu sou a desventurada senhora que V. Rvma. Confessou há já três dias; conforme ia confessando, meus pecados iam saindo como animais imundos pela minha boca, e aquela serpente enorme, que o companheiro viu tirar de fora a cabeça, e voltou depois para dentro, em figura dum pecado desonesto que calei sempre por vergonha; quis confessá-lo com V. Rvma., mas também não me atrevi, por isso, voltou a entrar dentro, e com ele todos os mais que haviam saído. Cansado já Deus de tanto esperar-me, tirou-me repentinamente a vida e me precipitou no inferno, onde sou atormentada pelos demônios em figura de horrendos animais. A víbora me atormenta a cabeça pela minha soberba e excessivo cuidado em pentear os cabelos; os sapos cegam-me os olhos, por meus olhares lascivos; as flechas acesas me atormentam as orelhas, porque escutei murmurações, palavras e cantigas obscenas; o fogo abrasa-me a boca pelas murmurações e beijos torpes; tenho as serpentes enroscadas no pescoço e me comem os peitos, porque os levei dum modo provocativo, pelo decote de meus vestidos e pelos abraços desonestos; os cães me comem as mãos, pelas más obras e tatos impuros, mas o que mais me atormenta é o horroroso dragão, em que vou montada, e que me abrasa as entranhas em castigo dos meus pecados impuros. Ai! que não há remédio para mim, senão tormentos e pena eterna! Ai das mulheres! Acrescentou; porque muitas delas se condenam por quatro gêneros de pecados: por pecados de impureza, pelas galas e enfeites, por feitiçarias e por calar pecados na confissão; os homens se condenam por toda classe de pecados; mas as mulheres principalmente por estes quatro pecados. Dito isto, abriu-se a terra e por ela entrou esta infeliz mulher, até o mais profundo do inferno, onde padece e padecerá por toda a eternidade.

Reflete, cristão, e entende que Deus Nosso Senhor mandou sair esta infeliz senhora do inferno, e que passasse pela vergonha, para que todos os homens soubessem a sorte que os espera, se, pecando, não se confessarem bem. Oxalá que tu tirasses da leitura deste exemplo horroroso o fruto que tiraram outros, fazendo uma boa confissão e emendando-te de tudo. Um autor diz que este exemplo converteu mais gente do que duzentas quaresmas. O Padre Missionário Jaime Corella fez voto de pregá-lo em todas as missões, pelo grande proveito que dele tiravam os fiéis. E até um Prelado estabeleceu que em certos tempos do ano se pregasse ou se lesse este caso na Igreja. Mas, ai de ti, se não te aproveitares deles! Ai de ti se não confessares todos teus pecados! Ai de ti se, mal preparado, fosses receber a Sagrada Comunhão! Melhor seria então não teres nascido!

Caminho Reto e Seguro para se Chegar ao Céu, Santo Antônio Maria Claret – 1944

Última atualização do artigo em 3 de março de 2025 por Arsenal Católico

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